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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Especialista vaticano no combate aos abusos sexuais fala de traumas e de progressos

REVISTA IHU

02 Fevereiro 2020


    Quase 200 pessoas lotaram o Auditório Driscoll no campus da Villanova University, nos EUA, na noite de quinta-feira, 29 de janeiro, buscando aprofundar sua compreensão sobre as perspectivas globais em torno da crise dos abusos sexuais na Igreja Católica.
    A reportagem é de Gia Myers, publicada em Catholic Philly, 31-01-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

    Foi a terceira conferência da série de quatro momentos de discussão com teólogos católicos organizados pela Villanova para examinar a crise dos abusos. O conferencista foi o Pe. Hans Zollner, SJ, um psicólogo e psicoterapeuta alemão, com doutorado em Teologia e um dos principais especialistas da Igreja na área da salvaguarda de menores.
    Pe. Zollner também é presidente do Centro de Proteção aos Menores da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, membro da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores e consultor da Congregação para o Clero do Vaticano.
    “O Pe. Zollner está comprometido em prover um ambiente seguro para as crianças”, disse Kerry Robinson em sua introdução. Robinson é a embaixadora global da Leadership Roundtable, uma organização de leigos, religiosos e clérigos que trabalha em conjunto para promover as melhores práticas e a responsabilização gerencial na Igreja Católica dos EUA.
    “Muito dano foi provocado à Igreja” devido aos abusos sexuais clericais, disse Zollner, “mas um dano maior foi provocado aos seres humanos.” Ao responder a essa crise, “muitas pessoas estão envolvidas na mesma missão: uma Igreja mais segura e um mundo mais seguro”, disse.
    A crise é um dos “traumas institucionais” em que maus-feitos foram perpetrados por uma instituição contra indivíduos dependentes dessa instituição, segundo o Pe. Zollner, que disse que em Roma estão sendo dados “passos” para enfrentá-la globalmente.
    Faz cerca de 35 anos que emergiu a conscientização sobre a crise dos abusos sexuais na América do Norte, e ele observou outros eventos em todo o mundo, como na Alemanha, onde “o diretor jesuíta de uma escola em Berlim rompeu o silêncio e falou sobre os abusos em sua escola”, uma referência ao Canisius-Kolleg, uma escola católica preparatória para a universidade em Berlim, na Alemanha.
    Papa Francisco “levantou grande tumulto e críticas” em 2018 em relação ao Pe. Fernando Karadima, o mais notório abusador clerical do Chile, quando o pontífice disse que “precisava de provas” das acusações contra o padre. Depois, o papa leu o relatório sobre o padre e pediu desculpas pela sua declaração. Como resultado da crise lá, 34 bispos chilenos ofereceram suas renúncias ao papa.
    A situação no Chile foi um “ponto de virada no modo como olhamos para a crise dos abusos neste momento da história”, disse o Pe. Zollner, acrescentando que isso “ressaltou o fracasso sistemático no enfrentamento dos abusos. O sistema eclesial foi posto na mira”.
    Também houve “um foco crescente no abuso de adultos, devido ao (ex-cardeal TheodoreMcCarrick”, disse o Pe. Zollner, que também citou o abuso de religiosas na Igreja.
    “Vinte anos atrás, ninguém se importava”, disse ele. “Os intocáveis” – altas lideranças da Igreja em todo o mundo – “se tornaram alvo de críticas. O nível de confiança está abaixo de zero, e isso é devastador para uma instituição baseada na confiança e na fé.”
    Ele descreveu que a crise está marcada por semelhanças, independentemente do país ou do continente, incluindo a presença do clericalismo, em que os clérigos recebem uma deferência excessiva e uma presunção de superioridade moral. É uma atitude de estar “acima da lei”: “Ninguém pode me dizer o que fazer. Eu posso fazer o que quiser”, exemplificou o Pe. Zollner.
    Outra semelhança global é a “negligência, a negação e a rejeição dos sobreviventes”, que sentem grande desconforto e medo. Toda a Igreja deve se lembrar de que a maioria das vítimas “ainda são membros da Igreja, indo ou não à igreja”, disse ele. “Há membros desta Igreja que provocam feridas.”
    Embora o Vaticano tenha uma supervisão universal sobre a Igreja Católica, é lamentável a falta de pessoal para responder a casos de abuso sexual clerical. Existe apenas uma equipe de cerca de 18 pessoas que “não têm a infraestrutura nem o treinamento para lidar com os incidentes relatados que foram apresentados”, disse o Pe. Zollner.
    Mesmo assim, ele apontou para grandes progressos que estão sendo feitos no Vaticano, com uma reunião para a proteção de menores realizada em fevereiro de 2019, que enfatizou uma abordagem sistemática de responsabilização, prestação de contas e transparência, interna e externa.
    O encontro, de acordo com o Pe. Zollner, trouxe mudanças de atitude em relação ao direito canônico, à responsabilização entre os bispos e o dever de todos de denunciarem os abusos sexuais e outros tipos de abuso na Igreja. “Foram feitas muito mais mudanças do que eu havia previsto”, disse ele. “A cúpula entendeu a mensagem, e há um movimento em frente.”
    A teologia católica também pode abrir caminho para superar a crise dos abusos, de acordo com o Pe. Zollner. “A que Deus, o Senhor da Igreja e da história, nos chama através dos escândalos e das crises deste tempo?”, perguntou o padre, acrescentando que agora há uma oportunidade de perguntar quem queremos ser como Igreja.
    “Nós acreditamos em Jesus, que se fez vulnerável”, disse o Pe. Zollner, “expondo-se à morte. Ele mostra as feridas da crucificação mesmo depois de ressuscitar. Esquecemos de onde viemos: nós viemos da cruz. O pecado original nos faz esquecer das nossas raízes.”
    Refletindo sobre a palestra, a participante Heidi Scheer, da Villanova, disse que “algumas coisas são muito chocantes. Por que demorou tanto tempo para responder? Mas é bom que o Papa Francisco tenha respondido. A tarefa dele não é fácil.”
    Jennifer Gallagher disse que participou da conferência porque “tenho 30 anos e me casei recentemente. Quero ter certeza de que a Igreja está segura e tem seus freios e contrapesos para se manter segura. Isso é realmente importante para mim e para a minha fé”.
    A quarta e última conferência da série na Villanova será no sábado, 21 de março, das 9h às 17h, na Escola de Direito Charles Widger, na Villanova. O seminário de várias sessões, com duração de um dia, terminará com uma missa às 17 horas, dedicada às vítimas de abuso sexual na Igreja.

    Nota da IHU On-Line:

    Instituto Humanitas Unisinos – IHU promove o seu X Colóquio Internacional IHU. Abuso sexual: Vítimas, Contextos, Interfaces, Enfrentamentos, a ser realizado nos dias 14 e 15 de setembro de 2020, no Campus Unisinos Porto Alegre.

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