sábado, 19 de outubro de 2013

Como prevenir uma tragédia?

JAIRO BOUER

Praticamente toda semana, os jornais e as revistas têm trazido alguma tragédia em que alguém ataca amigos ou família e, depois, tenta se matar. Em geral, os conhecidos do agressor parecem surpresos com sua atitude. Na maior parte das situações, parece haver certo planejamento da ação, e não uma resposta impulsiva. Seria possível evitar esse tipo de violência?

Um dos principais termômetros do comportamento das pessoas é sua habilidade de interação social. Cada vez mais se acredita que ela pode ser um indicador precoce de problemas neurológicos ou psiquiátricos. São atributos como conseguir se relacionar num grupo, rir das piadas ou se importar com os sentimentos do próximo. Em resumo, conectarse com o que acontece à sua volta.

É lógico que há gente mais (ou menos) extrovertida, bem (ou mal) humorada ou ainda mais (ou menos) interessada em interagir com os outros. Há, até, momentos na vida em que se está mais (ou menos) propenso a esse tipo de interação. No entanto, mudanças de padrão podem chamar a atenção de quem está próximo. Se alguém, de uma hora para outra, não conseguir reverberar ao sabor de uma piada ou assumir comportamentos inadequados a determinadas situações, pode ser um sinal de alerta.

As condutas que refletem as habilidades sociais são funções altamente complexas do ponto de vista neurológico. Acionam uma série de processos e circuitos cerebrais integrados. A pessoa deve reconhecer sinais e informações emitidos pelos outros, decidir se eles são importantes, identificar que emoções eles geram e, então, elaborar uma resposta a esses estímulos. Essa cascata de eventos, entrelaçados e rápidos, necessita que o cérebro e nossas emoções estejam em dia.

Quando isso não acontece, as respostas podem ser lentas, distantes, evasivas, estranhas ou inapropriadas. Muitas vezes, essas alterações aparecem mais precocemente do que outras mudanças no comportamento. Alguém pode ser ainda altamente eficaz no trabalho e nos estudos, sem sintomas depressivos ou psicóticos, sem problemas de atenção ou de memória evidentes, mas já demonstrar os primeiros tropeços em suas habilidades sociais.

Como é difícil alguém ter autocrítica nessas situações e perceber que isso está acontecendo consigo mesmo, em geral são os amigos mais próximos e os familiares diretos – justamente aqueles que têm sido alvos da violência noticiada aqui no Brasil – que conseguem captar as primeiras mudanças. Se isso acontecer, seria boa ideia mostrar que a pessoa em questão precisa de uma avaliação médica mais cuidadosa. É importante para ela e para quem está em volta. 

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