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domingo, 8 de dezembro de 2013

Gente grande também tem medo de escuro

Livro infantil discute de modo delicado e lúdico a inversão de papéis na qual o filho é quem cuida do pai

Gláucia Leal
Meu papai é grande, é forte, mas…
Coralie Saudo e Kris Di Giacomo.
Girassol, 2012. 28 págs. , R$ 36,90.

Coarlie Saudo e Kris Di Giacomo/Divulgação

Pais são criaturas altas, sabem muitas coisas e não têm medo de nada – ou pelo menos deveriam ser assim, aos olhos dos filhos pequenos. Em Meu papai é grande, é forte, mas..., de Coralie Saudo e Kris Di Giacomo, toda noite é a mesma história: o garotinho se esforça para colocar seu pai na cama, mas ele resiste, choraminga, esperneia, foge saltando e dando piruetas entre os móveis. Paciente, o menino “tenta ser legal” e lança mão de argumentos que até poderiam ser convincentes para um adulto de bom senso: “Papaizinho querido... Já é tarde, temos que dormir para amanhã estarmos descansados”. Mas o pai não se convence, pelo contrário, desanda a correr pela casa gritando que não quer dormir. O filho, já acostumado às travessuras paternas, não entra no jogo – afinal, está tarde e não é hora de fazer gracinhas. Oferece-se então para contar uma história. O problema é que o pai não se satisfaz com uma, insiste em ouvir outra e mais outra, olhando a criança com olhinhos de cão sem dono, até convencê-lo a reabrir o livro.

Quando finalmente consegue convencer o pai a se deitar, ouve: “Meu filho, posso dormir com você?”. Cansado, já prevendo que colocar o papai de volta na cama será missão impossível, o garotinho cede. Mas, quando vai bem devagarzinho apagar a luz, o pai ainda diz: “Não, por favor, deixe a luz acesa”. A criança então se dá conta: seu pai é grande, forte, mas tem medo do escuro. E para que ele adormeça, resolve deixar a luz acesa.

Delicado, o livro pode inspirar várias reflexões. A leitura mais óbvia talvez seja também a mais divertida, que permite ao leitor acompanhar essa sugestiva inversão de lugares: o pai de gravata fazendo birra, o filho se desdobrando para dar conta de travessuras que mascaram a insegurança de mergulhar na solitária aventura do adormecer. Para o pequeno leitor, colocar-se no lugar do outro parece ser uma possibilidade atraente, um convite à empatia e, principalmente à saída de um lugar de passividade para uma atitude de ação, cuidado com o outro, responsabilidade e paciência. Podemos pensar ainda nas figuras parentais, enormes e poderosas, que com o passar dos anos se tornam tão frágeis, às vezes medrosas (talvez também tivessem medo antes, mas inundados de nossa própria infância, não percebíamos). Passados os anos, esses adultos já não parecem tão grandes nem tão fortes, demandam atenção, tempo – e nos emocionam ao pedir que deixemos a luz acesa.


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