sábado, 7 de dezembro de 2013

Mulheres em cargos de liderança: cotas são a solução para a equidade de gêneros?

CEOs, diretores de RH e outros especialistas debatem a ascensão das mulheres ao topo da carreira e a importância da diversidade de gêneros nas empresas. Confira!

Nathália Florencio 
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 Foto: Thinkstock
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No Brasil, as mulheres representam 60% dos universitários e 51,8% dos estudantes de pós-graduação. Com maior escolaridade que os homens, elas também têm uma participação crescente no mercado, representando 43% da força de trabalho, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), divulgada recentemente pelo ministério do Trabalho e Emprego (MTE). No entanto, quando se observa o topo da pirâmide das empresas, os números não são positivos: apenas 8% dos cargos de liderança são ocupados pela ala feminina. Por que isso ainda acontece? Foi para tentar responder a esta questão e debater a equidade de gêneros que o 3º Fórum Mulheres em Destaque, realizado em São Paulo, reuniu especialistas de diversas áreas.
De acordo com pesquisa realizada pela Iniciativa Women Matter da empresa de consultoria McKinsey & Co., os principais obstáculos para a ascensão das mulheres são o modelo de performance que exige um profissional à disposição a qualquer hora do dia e a dupla jornada feminina. A grande responsabilidade com os afazeres da casa é um dos destaques do estudo Conte com Elas, apresentado pela diretora de redação de CLAUDIA, Paula Mageste: atualmente, 40% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres, que possuem uma carga de 40 horas nas empresas e mais 23,2 horas de trabalho doméstico. Em contrapartida, os homens trabalham apenas 5,18 horas em casa.
Com estes dados, é possível notar que a igualdade entre homens e mulheres passa não somente pelos cargos de chefia, mas também pela divisão de tarefas da casa. “Tanto homens quanto mulheres têm de levar o filho na escola ou lavar a louça depois do jantar”, destaca Marise Barroso, presidente da Masisa. Essa mudança de mentalidade, com maior presença masculina nos lares, melhora o relacionamento entre pais e filhos e permite que as mulheres se dediquem tanto quanto os homens ao trabalho. Daí a importância da equidade de gêneros também nos benefícios oferecidos pelas empresas. Muitas, aliás, estudam estender o período da licença-paternidade.
A respeito dos benefícios, por sinal, empregos de meio período, horários flexíveis e até mesmo o home office são algumas iniciativas promovidas pelas empresas para reter talentos femininos em seus quadros de funcionários e contribuir para um equilíbrio entre os sexos. No entanto, por aqui, apenas 33% das empresas pensam na questão da diversidade. Nas multinacionais, a estatística salta para 50%, ressalta Heloisa Callegaro, da McKinsey & Co.
Cotas são a solução?
Em muitos países a discussão sobre a participação feminina em cargos de liderança e conselhos de administração resultou no uso de cotas para estimular e acelerar o processo de inclusão das mulheres. Na Noruega, por exemplo, o sistema foi implantando em 2004 e, em oito anos, elevou a participação nos conselhos de 6,8% para 40,3%. O polêmico modelo de empoderamento feminino é defendido pela presidente da rede Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano: “sou totalmente a favor de cotas para as mulheres nos conselhos administrativos das empresas. É um processo transitório para corrigir uma desigualdade social”.
Já Anna Maria Guimarães, membro do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, afirma que o IBGC é contra as cotas. Para ela, o que limita o potencial das mulheres de serem conselheiras é o rótulo de que é necessário ser CEO e ter experiência executiva, seja na área de finanças, auditoria ou marketing. Com posicionamento semelhante, Marise Barroso acredita que “quanto mais distinções criamos, maior será a diferenciação” – e não o contrário!
É o que também alega a diretora financeira da Itaipu Binacional, Margaret Groff. Para ela, é necessário dar voz às mulheres capacitadas. Por isso as políticas com foco na diminuição das lacunas de gênero são tão importantes. Na usina hidrelétrica, por exemplo, o programa de Incentivo à Equidade de Gênero,desenvolvido desde 2004, foi essencial para aumentar a participação feminina em um ambiente tradicionalmente masculino – 22% da atual gestão é formado por mulheres.
Para promover uma verdadeira transformação e mudar o comportamento dos gestores, a área de Recursos Humanos tem um papel fundamental no processo de recrutamento e seleção, dando as mesmas oportunidades para homens e mulheres. Afinal, existem, sim, muitas candidatas qualificadas no mercado – falta às empresas tratar a divergência de gênero como qualquer outra estratégia. Além disso, segundo a vice-presidente de RH da Avon, Alessandra Ginante, é necessário estar sempre atento aos salários dos funcionários e, se não houver nada que justifique um pagamento menor, os valores devem ser corrigidos – sem distinção de sexo.

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