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quarta-feira, 2 de abril de 2014

Apagando vestígios

Adeus, marcas: programa oferece acesso rápido, gratuito e sem burocracia a cirurgias plásticas reparadoras para mulheres vítimas de violência doméstica

Vilma Gasques 
vilma@rac.com.br
Mulheres vítimas de violência doméstica agora têm acesso mais rápido a cirurgias plásticas reparadoras. A iniciativa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), em parceria com a empresa The Bridge Global, que trabalha com projetos de responsabilidade social, entrou em vigor no ano passado em 11 hospitais públicos credenciados no Estado de São Paulo. Para este ano, a expectativa é que seja implantada em outros estados também.

Os ferimentos mais comuns entre as mulheres que sofrem esse tipo de violência são queimaduras, lesões causadas por armas brancas, como facas, e fraturas provocadas por pancadas e socos. Todas as mulheres são atendidas, independentemente da gravidade do caso e da localização da marca. O objetivo é eliminar as filas, atender rapidamente e sem cobrança alguma pelo procedimento que, dependendo da lesão, pode ficar caro, a exemplo dos tratamentos para queimaduras.

Divulgação
"Os números de violência contra a mulher são
alarmantes e vergonhosos para uma nação
que se diz em desenvolvimento. Não dá para
quantificar quantas dessas agredidas necessitam
de cirurgia reparadora" 
Foto: Divulgação
Dados brasileiros apontam que a cada 15 segundos uma mulher é espancada no País. Na maioria, o agressor é o companheiro ou cônjuge, de acordo com levantamento da SBCP. Os casos envolvendo ex-maridos e ex-namorados correspondem a 12% e 5%, respectivamente, e em mais da metade das ocorrência (60,2%) as mulheres sofrem agressões por arma branca, envolvendo cortes, facadas ou garrafadas.

O presidente da SBCP, João de Moraes Prado Neto, diz que a cirurgia plástica é um procedimento que tem como objetivo minimizar as sequelas deixadas pela agressão. Nesta entrevista, ele fala do drama das pacientes, obrigadas a carregar no corpo os vestígios da violência e informa como elas podem garantir um tratamento que elimine as marcas indesejadas.

Metrópole – Como surgiu a proposta de criar um programa para atender as mulheres vítimas de violência doméstica?
João de Moraes Prado Neto – A ideia surgiu da necessidade de atender as mulheres tratadas com vilania por seus parceiros, fato que resulta em agressões físicas e culminam em transtornos psicossociais graves. Na maioria das vezes, elas não recebem o atendimento necessário por parte dos órgãos públicos.

E como são desenvolvidas as atividades, para garantir que o programa tenha sucesso?
O projeto envolve uma parceria entre a SBCP e a The Bridge, empresa que nos fornece consultoria e assessoria no sentido de amealhar recursos para que nosso objetivo de oferecer atendimento cirúrgico com fins estritamente reparadores seja alcançado. A divulgação é feita por meio de mídia tradicional, mídias sociais, banners, informações visuais e nas próprias delegacias comuns e de atendimento à mulher.

Qual procedimento a mulher deve adotar para participar do programa?
Disponibilizamos o número 0800-771-4040. É feita uma triagem com uma funcionária da SBCP e as interessadas são encaminhadas aos serviços credenciados para atendimento com cirurgiões plásticos, membros especialistas da nossa sociedade. Todas as cirurgias são realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e não há, portanto, quaisquer despesas para as pacientes.

Na sua avaliação, retirar da pele essas marcas é um passo na superação do problema?
Essas mulheres carregam não somente as marcas da violência física, que podem ser atenuadas, mas, sobretudo, as máculas da agressão psicológica, da humilhação provocada pela covardia de verdadeiros monstros com os quais, de alguma forma, convivem. Os benefícios da reparação dos defeitos físicos culminam na tentativa de amainar os males e as chagas da alma. E é disso que essas vítimas precisam, além de apoio e afeto que não são (ou não deveriam ser) privilégio e, sim, um direito de todos os seres humanos. Porém, o impacto mais positivo da reparação cirúrgica é um bálsamo psicossocial.

Mas elas necessitam antes ter um amparo legal para passar pelo procedimento cirúrgico?
Essas mulheres têm de ser atendidas, na urgência, pelos pronto-socorros. Depois de registrarem o boletim de ocorrência (BO), devem procurar o serviço telefônico da SBCP, mas isso precisa ser feito seis meses após a agressão. Assim serão submetidas aos trâmites normais. Elas passarão por exames pré-operatórios e o agendamento ocorre sem grandes burocracias.

Este é um programa que interessa a muitas mulheres. Com isso, como vocês realizam a seleção das que mais precisam da cirurgia?
Naturalmente, existe uma seleção rigorosa porque somente pacientes vitimadas por violência doméstica comprovada pelo BO terão acesso ao tratamento. Em nenhuma hipótese serão atendidas portadoras de outras deformidades, muito menos por razões estéticas. É um programa que contempla as mulheres do Estado de São Paulo, visto tratar-se de um projeto piloto que em breve esperamos que seja estendido a outros estados.

Atualmente, os procedimentos são realizados apenas na cidade de São Paulo?
Sim. Temos o apoio de 11 hospitais públicos. Estamos tentando viabilizar o atendimento também em Campinas, considerando que a cidade possui quatro serviços credenciados pela SBCP, o que nos dá a garantia de assistência exemplar por parte dos nossos sócios especialistas.

O senhor tem alguma estimativa da quantidade de atendimentos que podem ser realizados?
Por se tratar de um projeto recente, seria muito prematuro estimar o número de mulheres que deverão ser beneficiadas por ele este ano. Temos no momento oito cirurgias realizadas e outras tantas agendadas. Porém, os números de violência contra a mulher são alarmantes e vergonhosos para uma nação que se diz em desenvolvimento. Não dá para quantificar quantas dessas agredidas necessitam de cirurgia reparadora.

É possível calcular quanto custaria cada procedimento se a vítima tivesse que arcar com ele? E a espera?
Não há estimativa de um custo particular, porque são procedimentos absolutamente distintos um do outro. Não há cirurgias iguais por se tratar de trauma sofrido aleatoriamente. Quanto ao tempo de espera para atendimento, isso também é imprevisível na rede pública. Sem esse programa da SBCP pode chegar a anos.

Há alguma previsão de que um projeto como esse possa ser ampliado e até transformado em lei?
Já existe a Lei Maria da Penha que, se fosse obedecida espartanamente, geraria muitos dividendos a essas mulheres sofridas. Conclamo o terceiro setor a participar do projeto, contribuindo com recursos que podem ser abatidos do Imposto de Renda e que podem nos ajudar a cuidar das pacientes portadoras de traumas que, se não podem ser extirpados, pelo menos serão atenuados por gestos de boa vontade. 


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