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quarta-feira, 2 de abril de 2014

É, sim, pelos 65%

Marilia Neustein

Então, quer dizer que 65% da população brasileira acredita que mulheres que usam roupas curtas merecem ser atacadas? Muito difícil levar isso a sério, mas é. A pesquisa do Ipea foi além e revelou que 58,5% acreditam que, “se as mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros”. Que cenário, hein, Brasil? Poderíamos chamar a atenção para um milhão de coisas nessa pesquisa. Ou apenas uma: você legitima a violência?

Diane Rosenfeld, professora de Direito especializada em violência contra as mulheres da Universidade de Harvard, é uma estudiosa do assunto. Passei o fim de semana vasculhando aulas, textos e publicações dela para conseguir falar algo que já está sendo maravilhosamente dito pela colega Nana Queiroz (#eunaomerecoserestuprada) e pelas meninas do Think Olga: não, ninguém tem o direito de se apropriar do corpo de ninguém; toda mulher tem o direito de dizer não; estupro é crime etc. Os dados apresentados pela professora são assustadores. Segundo a pesquisadora, uma em cada três mulheres sofre algum tipo de violência sexual ao longo de sua vida. Será que precisamos colocar isso em uma hashtag? Querem mais? Esse dado é global. Em todo o mundo, as mulheres estão vulneráveis a esse tipo de violência.
(Foto: Reprodução)

Além de diversas informações, a professora – que trabalha na área de legislação – tem uma vasta pesquisa sobre as raízes do comportamento violento de gênero. E é aí que chegamos nos 65%. Essa porcentagem não representa apenas a opinião dos homens. Por mais maluco que isso possa parecer, existem mulheres que são complacentes à violência praticada contra outras mulheres. Vale mencionar também o fato de que muitos (homens e mulheres) culpam as vítimas de estupro pelo ocorrido, e não o estuprador. Pode parecer loucura, mas não é. E não é incomum ver cenas de mulheres desdenhando de outras. Esse comportamento, defende a professora Rosenfeld, tem uma raiz cultural – que está muitas vezes inconsciente – de que mulheres competem pela proteçao dos homens. E não são unidas. Mesmo tendo em comum o fato de estarem todas sujeitas à violência sexual. Porque estupro não tem tamanho de saia, cor, idade, nacionalidade ou religião. Estamos todas vulneráveis.

Diane Rosenfeld apresenta ainda uma análise que pode ser um tanto controversa. Depois de realizar uma enorme pesquisa sobre ensaios e vídeos pornográficos, ela concluiu que boa parte traz cenas de humilhação e submissão da mulher ao homem. Segundo a pesquisadora, a pornografia explicita e também “normaliza” uma boa dose de violência sexual contra as mulheres, ao associar violência e prazer. E esses vídeos, como tudo o que assistimos, influencia nosso comportamento. Isso quer dizer que a pornografia produz um comportamento violento? Acho que não. Mas, se você nunca assistiu com esse olhos, vale o teste.

Anna Livia Arida, diretora da ONG Minha Sampa, que lançou a campanha Abusadores Não Passarão, afirmou ao blog que um dos aspectos importantes dessa reflexão é lembrar que a sociedade é machista porque muitas mulheres também são – mesmo que sem perceber. “A violência se manifesta nas nossas vidas tanto de forma explícita quanto implícita. Mudar essa situação depende de muitas coisas, mas, principalmente, que tenhamos consciência de que esse tipo de comportamento é intolerável”, afirma.

Ao longo da semana, muitas mobilizações foram feitas. Vale compartilhar mais uma vez.

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