21/06/2014 – por 
Três grandes notícias para as mulheres e para a ciência brasileira saíram na semana que passou.
Marcelle Soares-Santos, da Universidade de São Paulo, pós-doutoranda do Fermi National Accelerator Laboratory, em Illinois, ganhou o prêmio Alvin Tollestrup por suas contribuições ao estudo da matéria escura. Duília de Mello, astrofísica formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, que trabalha há 11 anos na NASA, ganhou o prêmio Diáspora Brasil, reconhecendo seus feitos no exterior, como a descoberta da Supernova SN 1997D. E uma doutoranda brasileira, Lívia Aberlin, formada pela Universidade de Campinas, ganhou o Nobel Laureate Signature Award 2014, bastante cobiçado na área, que traz a assinatura de todos os ganhadores do Nobel de química, por desenvolver uma técnica a ser usada em sala de cirurgia para identificar marcadores químicos em tumores cerebrais.
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Da esquerda para a direita: Marcelle Soares-Santos, Duília de Mello e Lívia Aberlin
Três mulheres, três brasileiras, três cientistas se destacando em Exatas, justamente a área que muitos homens adoram dizer que não serve para mulher. Afinal, para eles, nossos talentos se resumem às áreas de Humanas, a lidar com o ser humano, a cuidar e instruir. Eles é que são os bons para lidar com números, com cálculos. Se você, universitária, ou já formada, ou pesquisadora, nunca ouviu isso – o que eu duvido – sinta-se privilegiada por não ter seu sistema auditivo inundado de chorume. Se tem uma coisa que o Efeito Matilda mostrou é que muitos feitos de mulheres nas ciências – inclusive em Exatas – foram atribuídas à homens e seus nomes apagados da história, o que leva ainda muito homem a falar que nós nunca fizemos nada de significativo nas ciências, portanto nossa aptidão para a coisa é menor, estaria nos nossos ~genes~.
Além de ver gente parabenizando as três pesquisadoras, também vi homem falando sobre o prêmio de Marcelle: “fez muito mais do que todas as feminazi juntas”. É nessas horas que eu digo, se não tem nada para falar, não fale nada, que é melhor. Falam como se o prêmio fosse um biscoitinho dado a um cachorrinho fiel que seguiu a cartilha da ciência dominada por homens. Pois bem. Foram as feministas e a luta de milhares de mulheres pioneiras que possibilitaram que as escolas e, posteriormente, as universidades, aceitassem mulheres em suas carteiras.
No entanto, ainda hoje podemos ver pais questionando suas filhas do por que elas estudarem tanto se ainda não casaram nem tiveram filhos, o que muitas vezes as desencoraja a seguirem para o mestrado ou doutorado, especialmente este último que pode durar até 5 anos. Ainda vejo o termo Maria-Diploma circulando, volta e meia, pela boca de algum estudante ou professor machista, quando se refere às suas colegas e alunas, que estariam na pós-graduação “caçando marido”. Vejo alunas na pós se martirizando e, praticamente, enlouquecendo porque “passaram dos 30” e “ainda estão solteiras”. Estas mulheres estão colocando na mão de uma pessoa que elas, às vezes, sequer conheceram, sua felicidade, achando que isso é uma garantia de ser feliz, pois afinal é o eterno “comercial-de-margarina” que acaba seduzindo muitas delas justamente por acharem que esse é o único caminho. Se isso não é uma amostra clara de todo o machismo que ainda existe no meio científico, não sei mais o que pode ser. E ver mulheres se martirizando porque não estão seguindo o modelo “comercial-de-margarina”, achando que só assim serão felizes, é de partir o coração.
Temos, também no Brasil, uma luta encabeçada pela neurocientista Suzana Herculano-Houzel para profissionalizar a carreira de cientista no Brasil, o que certamente abriria ainda mais as portas para as mulheres na ciência. Se Marcelle, Duília e Lívia mostraram é que a ciência precisa de mais mulheres. O preconceito ainda existe e é preciso combatê-lo com nossas pesquisas e, principalmente, com nossa presença.