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quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Lucy: impossível classificação em um único gênero



Scarlett Johansson encarna a heroína título que involuntariamente se torna mula de uma droga experimental para a máfia chinesa e recebe a missão de entregar esta 'encomenda' na Europa

por Bruno Giacobbo e Talita Quinto*
4 de setembro, 2014

Esperado com grandes expectativas por fãs de super-heróis, Scarlett Johansson ou, simplesmente, por amantes de um bom filme de ação, Lucy chegou ao Brasil no dia 28 de agosto. Dirigido por Luc Besson (O Profissional, O Quinto Elemento), o filme gerou opiniões diferentes entre nossos críticos. Ainda que as notas não estejam tão distantes, a visão dos profissionais foi bem diferente, o que valeu essa crítica dupla.
Confira as opiniões de Talita Quinto (que se decepcionou) e Bruno Giacobbo (que adorou) e chegue à sua própria conclusão.
“Abaixo das expectativas”, por Talita Quinto
O que aconteceria se fossemos capazes de utilizar mais que 10% da nossa capacidade cerebral? O que seria possível realizar com sua percepção ampliada em 30%,60%, 100%?
É nessa premissa que o roteiro de Lucy se desenvolve e Luc Besson (O Profissional, O Quinto Elemento), entrega ao público seu mais novo thriller de ação com uma pitada de ficção científica.  E você pode questionar: Mas essa história já não foi revista e comprovada como um mito? Cientificamente sim, mas a proposta do diretor é interessante e levante questões filosóficas para os espectadores mais atentos (ou otimistas, como eu, que tentam ver além e pensar qual era o objetivo do diretor) que vão além do plot principal do filme.
Scarlett Johansson encarna a heroína título, uma estudante americana em Taipei, China, que involuntariamente se torna mula de uma droga experimental para a máfia chinesa e recebe a missão de entregar esta “encomenda” na Europa.
Os planos da máfia saem do controle quando Lucy é atacada por um de seus capangas, o pacote recém implantado no corpo da bela se rompe e despejando o conteúdo em seu organismo, que é rapidamente absorvido, aumentando quase que  imediatamente as funções cerebrais de Lucy, o que lhe garante total controle de seu corpo e mente. Isso a leva em uma busca desenfreada atrás de respostas, vingança e de uma solução para eliminar a droga de seu sangue.
A primeira metade do filme é repleta de metáforas visuais. Besson compara a captura de Lucy pela máfia á uma inocente presa de uma onça selvagem. Destacando a delicadeza e ingenuidade inicial da protagonista. Mostra uma jovem, bonita, preocupada com seu dia a dia normal: brincos baratos, vestido de animal print, salto alto e a ressaca da noite anterior. Nada de excepcional, uma garota comum em meio a tantas outras.
Essa percepção de mundo muda, quando sua memória é ampliada e ela pode ter acesso a lembranças de quando era apenas um bebê, ela pode conectar-se com o mundo, sentir e ouvir as pessoas a sua volta, manipular objetos e ler o pensamento de quem a interessa. Isso a transforma a ponto de questionar o que estamos fazendo com a vida que nos é dada, o que criamos e qual é o legado que deixaremos quando não estivermos mais aqui. A mudança na personagem vai além da força física e inteligência, a consciência muda e consequentemente o rumo da história.
Como estamos falando de uma obra de Besson, não poderia faltar muitas cenas de luta, tiroteios e efeitos especiais, que aliás, são elementos que encobriram o principal ponto do filme. O diretor mostra de uma forma superficial a evolução interna, psicológica de Lucy . Ele não aprofunda a transformação sofrida por sua heroína, um caminho que talvez fosse mais interessante do que mostrar o poder de fogo dos chineses e a resposta destrutiva de Lucy.
Na segunda metade da história, somos apresentados a Morgan Freeman, que faz o papel de um professor de neurociência, que é procurado por Lucy com um pedido de ajuda. Freeman por sua vez, serva para o filme apenas para apresentar a teoria que sustenta o plot do longa, ele não entra efetivamente na história e assiste os acontecimentos de longe, sem interferir propriamente em nenhum deles. Entretanto, o ator é um deleite em seu personagem e cumpre sua função respeitavelmente.
Neste ponto da história estamos na Europa, a cada estágio que o cérebro de Lucy amplia-se, o filme ganha um ritmo mais frenético, embalado por sua incrível trilha sonora, que guia os acontecimentos da história. Por outro lado, não conhecemos mais nenhum conceito sobra a ciência que envolve a trama, apenas os poderes que Lucy vai adquirindo enquanto atravessa a França em um derramamento de sangue. O longa levanta o dilema se Lucy ainda é humana a cada momento que ela continua a “evoluir”, novamente, pouco explorado.
O final possui um “Q” de inesperado para alguns, mas se você gosta e acompanhas filmes sci-fi, provavelmente, não será pego de surpresa. O filme não impressiona e usa fórmulas já conhecidas do grande público. Besson faz bom uso de sua atriz principal, não é grande atuação da carreira de Scarlett, mas como atriz versátil que é, entrega o que saber fazer muito bem sem decepcionar.
Lucy entretém, mas prova que um personagem que possui muito poder não é necessariamente marcante. Desaponta quem tem expectativas muito altas, é um filme pipoca e passa longe dos grandes lançamentos do cinema em 2014.
 “Repleto de conteúdo”, por Bruno Giacobbo
 O filósofo alemão Georg Hegel escreveu que o encontro de duas ideias (tese + antítese) leva a formulação de outra mais elaborada (síntese). Sempre gostei desta teoria filosófica, pois ela nada mais é do que uma teoria historicista. Afinal, se pensarmos pelo viés histórico, foi desta forma que a humanidade evoluiu. O que eu não tinha imaginado, até agora pelo menos, era sua aplicação prática e clara no cinema. Disse bem, não tinha, já que é exatamente isto que o cineasta francês Luc Besson fez em seu último filme Lucy.
Ao contar a história de uma jovem americana, Lucy (Scarlett Johansson), que capturada pela máfia chinesa se vê obrigada a servir de “mula” para uma nova droga sintética, o diretor mistura elementos de alguns de seus trabalhos anteriores.
É impossível classificar este longa-metragem em um único gênero. Ele é policial, drama, ação, ficção científica simultaneamente. Ele é um pipocão de qualidade que agradará ao público que busca, exclusivamente, entretenimento de primeira. E ele é,também, uma reflexão consciente sobre o homem e os seus limites.
Quem quer perseguição de carros pelas ruas de Paris, como em Táxi (1998) e suas sequências, encontrará. Para quem gosta de filmes de tirar o fôlego e balas disparadas a esmo, como em Nikita (1990) ou na duologia Busca Implacável (de 2008 a 2012, onde ele ataca somente de roteirista e produtor), estas características também estão presentes. Já para os fãs de O Quinto Elemento (1997), a melhor obra de Besson em relação aos efeitos visuais até aqui, Lucy é um fantástico tributo. Há ainda links visíveis com o trabalho mais recente do diretor, A Família (2013), e algumas de suas películas tidas como cults.
Esta mistura inusitada poderia ter descambado em uma salada russa de sabor ocre, mas não foi isto que aconteceu. Magistralmente, o cineasta conseguiu fugir do pastiche ao arquitetar uma trama que se não é crível (afinal, desde quando alguém se tornaria um super-homem, usando mais de 10% do cérebro, graças a tal droga sintética?), é desculpável devido aos seu viés científico e prende o espectador na cadeira do início ao fim.
Vários são os fatores que mantém o público atado ao assento e despertam um encantamento quase que hipnótico. O primeiro deles é a fotografia deslumbrante que combina cenas de ação e imagens que mais parecem saídas de um documentário. Inicialmente parecem deslocadas, mas não estão. Já a montagem afiada, ágil, é fundamental para o ritmo do filme. Por último, a atuação magnética da protagonista Scarlett Johansson, uma espécie de versão feminina 2014 de Matthew McConaughey. Tudo o que ela toca vira ouro reluzente: Ela, Sob a Pele e por aí vai.
Se nos anos 70 a geração  de cineastas americanos intitulada de “Nova Hollywood” se inspirou na francesa “Nouvelle Vague” para criar uma nova forma de fazer cinema, a partir dos anos 80, Luc Besson se tornou o mais americano dos realizadores franceses sem, no entanto, jamais esquecer de suas raízes. Por isto que seus filmes, muitas vezes, são espetáculos repletos de conteúdo. Este é o caso de Lucy.
Desliguem seus celulares e boa diversão
*Talita Quinto é publicitária e  Bruno Giacobbo escrevem para o site BlahCultural, parceiro do Opinião e Notícia

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