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sábado, 8 de novembro de 2014

Como sofrem os homens chutados: os cinco estágios do luto no relacionamento

Brasil Post | De Rodolfo Viana

Publicado: 01/11/2014

"Para cada carta de amor escrita, outra é queimada." Steven Tyler, sábio vocalista da banda Aerosmith, resume em uma frase o que nós tanto ignoramos: corações são partidos todos os dias — e, às vezes, o coração é o seu. Faz parte do jogo. Mas tão ordinário quanto ser deixado pela mulher é a forma como os homens reagem a isso.

Enchemos a cara — e, bêbados, ligamos para a ex pedindo para ela voltar. Ou então dizemos "estou bem" quando, na verdade, choramos em posição fetal no chuveiro. Ou, ainda, nos envolvemos com a primeira mulher que aparece — e a segunda, e a terceira — mesmo que a relação não tenha significado especial algum.

Seguimos uma espécie de padrão. Um padrão bastante similar ao do luto. O Brasil Post conversou com Frederico Mattos, psicólogo e autor do livro Relacionamento para Leigos, para entender melhor a relação entre os comportamentos de fim do namoro e diante da morte.

O modelo Kübler-Ross

A forma como lidamos com a morte foi esquematizada por Elisabeth Kübler-Ross, psiquiatra que, na década de 1960, cuidava de pacientes terminais. Ela tinha real interesse em ouvir as palavras daqueles que estavam próximos da morte para, enfim, entender o que se passava em suas mentes na hora da inevitável despedida. "A partir da reunião de várias entrevistas, ela começou a notar um padrão de comportamento e de reações emocionais", conta Mattos. O padrão perpassa cinco estágios:

negação: quando a pessoa se recusa a lidar com a experiência de enfraquecimento e possível morte. "Eu não acredito que vou morrer!"
raiva: quando a aceitação já parece não dar conta dos fatos e cria uma rebeldia diante da doença e até dos tratamentos. "Por que isso acontece comigo?! Não é justo!"
barganha: quando a pessoa começa a negociar com Deus, com os médicos e consigo mesmo algum tipo de promessa para se salvar da condição de adoecimento e morte. "E se eu parar de fumar? Será que vivo mais uns dias? Horas?"
depressão: quando a pessoa se vê compelida a encarar a perda inevitável e se abate, fica desiludida. "Eu estou tão triste... Por que lutar?"
aceitação: quando se abre espaço para maior aceitação e compreensão da finitude e há um certo relaxamento e desprendimento para a partida. "Vai ficar tudo bem."

Em 1969, ela lançou o livro On Death and Dying (que no Brasil saiu como Sobre a Morte e o Morrer), em que condensa a ideia dos estágios — "estágios que não são necessariamente lineares e que podem se sobrepor e intercalar", lembra Mattos. "Nem todos parecem seguir uma sequencia lógica, afinal mesmo os modelos mais aproximados têm muitas exceções. Há quem fique apenas num estágio de torpor ou desespero e, neste caso, não entra em algum estágio específico."

O pé na bunda e a morte

Não é drama: o fim de um relacionamento é uma morte simbólica. Frederico Mattos usa a analogia de um "membro amputado que ainda deixa sensações e marcas". Isso vale para homens e mulheres e, assim, cada gênero assume seus rituais de fim de namoro. (Eu tenho um amigo, o Fred Fagundes, que diz que "toda mulher que termina um namoro muda o corte ou a cor do cabelo". Parece besteira, mas a observação mostra que, no meu círculo de amizades, isso é real!)

Assim, sendo o pé na bunda uma morte simbólica, em ambos os casos experimentamos o luto. E seus estágios:

negação: de acordo com Mattos, "os homens, educados a reprimir a expressão de sua afetividade, costumam permanecer na negação desviando sua atenção para trezentos outros estímulos sem lidar claramente com o acontecido". É quando o cara se afunda no trabalho, por exemplo.
raiva: "a raiva às vezes aparece numa pirraça que o homem faz com a ex-mulher". Isso explica por que é tão comum haver brigas por coisas mínimas, como a divisão de bens que nem sempre são caros ao homem, mas que ele faz questão de ter. De birra.
barganha: "vem em fases de desespero, em que o homem quer um revival", diz Mattos. Quantos homens já prometeram mudar para ter a mulher de volta — e quantos efetivamente mudaram?
depressão: "vem mais branda em forma de apatia disfarçada em bebedeira ou vício em games", alerta o psicólogo. Ficar enchendo a cara no bar para afogar as mágoas é a forma mais comum.
aceitação: "só é possível quando o fato é assimilado, e isso é muito raro para o orgulho típico de um homem que dificilmente se admite trocado ou insuficiente", afirma Mattos. "Principalmente porque isso seria admitir na sua fantasia que, em algum nível, sua performance sexual não segurou o relacionamento." Apenas os fortes sabem aceitar o fim do relacionamento.

Tais estágios ajudam no processo de cicatrização da dor. "Toda forma de negação [de um estágio] dificulta a superação da perda", lembra Mattos. Estes rituais, que são variados mas constituem um padrão de comportamento pessoal, são um escape para a tristeza da perda. Assim, é preciso sofrer.


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