Da esq. para a dir., Rita, Mariane, Gisela, Amanda, Fernanda, Cynthia e Sandra Arquivo Pessoal |
Andrezza Czech
Colaboração para o UOL
14/01/2016
Todas tinham a sensação de que a sociedade ainda não está preparada para lidar com o tema. "Há muito espaço para ser feliz, as redes sociais são prova disso. Quando você fica grávida ou vai comprar um apartamento novo, pode ir atrás de várias revistas e sites sobre o tema. Mas e quando morre alguém, o que você faz?", questiona Mariane.
As sete amigas passaram a realizar pesquisas e a conversar com especialistas e ainda receberam mais de 170 histórias de pessoas que responderam a seus formulários. Em uma campanha de "crowfunding" (financiamento coletivo) --encerrada em 21 de agosto--, o projeto arrecadou R$ 43.504 para construir uma plataforma de conteúdo, lançada em 12 de janeiro. A iniciativa também tem uma página no Facebook.
"É um espaço para divulgação de textos, cursos, livros, para discutir sobre o tema e mostrar que todos passam pelas mesmas coisas", diz Mariane.
A psicóloga e publicitária Fernanda Figueiredo, 42, outra integrante do grupo, conta que, quando enfrentou a doença e a morte do pai, em 2010, vítima de câncer, também percebeu que havia muita dificuldade para lidar com a morte. "O objetivo do projeto é confortar quem teve a experiência de perda e, ao mesmo tempo, abrir os olhos de quem ainda não passou por isso, para que essa pessoa consiga amparar quem está no processo."
A importância de falar sobre o luto
Para a publicitária Amanda Thomaz, 33, que enfrenta a perda do pai, a experiência do luto é muito solitária. "É o momento mais delicado e difícil da vida e, ao mesmo tempo em que existe um intenso barulho interno e um turbilhão de pensamentos e sentimentos, há um grande silêncio externo e a ausência de troca e de referências."
Para a administradora de empresas Gisela Adissi, 40, que perdeu um primo no acidente aéreo da Air France, em 2009, ouvir as histórias de outras pessoas a ajudou a compreender que a perda faz parte da vida. "Entendi também que não se trata de superar o luto, mas, sim, de aprender a viver essa nova etapa."
Para Rita, participar do projeto permitiu que ela ampliasse sua compreensão sobre a experiência da morte do filho. "Hoje falo sobre isso com tranquilidade e sem desconforto. Consigo encontrar um sentido para tudo que vivi e ainda vivo, que é a possibilidade de ajudar outras pessoas que passam pela mesma coisa. Tudo isso me conecta ainda mais ao meu filho e a tantos outros queridos que tenho lá em cima."
O que ajuda e o que piora
Para Rita, tudo depende da fase do luto. Em um primeiro momento, o de maior fragilidade, ela diz acreditar que o ideal é ouvir –de verdade-- e ter paciência. "Muitas vezes, a pessoa pergunta, mas não quer escutar a resposta. Não precisa perguntar, mas, se fizer isso, esteja preparado para ouvir."
Mariane conta que é comum que as pessoas se afastem do enlutado por causa do constrangimento de não saber o que dizer. "Por favor, não desapareça depois dos primeiros 15 dias. Quem sofre o luto corre o risco de ficar muito sozinho, muito fechado."
Para a jornalista Cynthia de Almeida, 59, que perdeu o filho Gabriel há 14 anos, quando ele tinha 20, estar presente, pronto para acolher e ajudar no que a pessoa enlutada precisar é muito mais confortador do que qualquer palavra ou tentativa de injeção de ânimo.
"Não diga que o tempo vai curar --porque não é verdade--, não diga como a pessoa deve reagir. Não banalize ou subestime a dor do luto. Não importa se o outro perdeu um avô ou um filho. O luto não tem hierarquia e quem sofre precisa dessa compreensão", diz Cynthia.
Falar sobre quem morreu não é necessariamente triste e pode ajudar quem está sofrendo com a perda. "Amo quando alguém fala do meu pai, de algo que ele gostava ou fazia. Uma vez li um texto que dizia: 'estarei vivo até a última pessoa pronunciar o meu nome'. É isso o que sinto quando alguém fala dele", fala Amanda.
UOL
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