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quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Surto de zika expõe injustiças sistemáticas na saúde global, dizem pesquisadores

O surgimento e a retomada de doenças infecciosas no mundo frequentemente são provocados por pobreza, desigualdade e discriminação, sendo que o atual surto de zika expõe “injustiças sistemáticas” presentes nos sistemas de saúde globais, disseram especialistas no site do programa Impacto Acadêmico das Nações Unidas (UNAI, na sigla em inglês).

13/09/2016

Para os pesquisadores da Universidade de Georgetown (Estados Unidos) Alexandra Phelan e Lawrence Gostin, doenças transmitidas por mosquitos afetam desproporcionalmente os mais pobres e vulneráveis. “Falhas estruturais de governos em garantir saneamento forçam pessoas a armazenar água, o que acaba criando focos de mosquitos”, disseram.O surgimento e a retomada de doenças infecciosas no mundo frequentemente são provocados por pobreza, desigualdade e discriminação, sendo que o atual surto de zika expõe “injustiças sistemáticas” presentes nos sistemas de saúde globais, disseram especialistas no site do programa Impacto Acadêmico das Nações Unidas (UNAI, na sigla em inglês).
“Governos não priorizam programas de controle de vetores em seus orçamentos — especialmente em momentos de recessão e instabilidade política como no caso do Brasil — o que cria uma ‘tempestade perfeita’ para o vírus nas comunidades mais pobres”, salientaram.
Segundo os pesquisadores, outro ponto é a questão de gênero, já que o surto de zika afeta mais as mulheres, que sofrem risco de aborto e malformação fetal. “Na maior parte dos países das Américas, barreiras legais, socioeconômicas e políticas impedem o acesso das mulheres a serviços de saúde reprodutiva, incluindo contracepção, aborto e saúde maternal e infantil”.
Além disso, em países sem uma cobertura de saúde universal e integrada aos sistemas de seguridade, pessoas com deficiência ficam especialmente vulneráveis. “Os sistemas de saúde e seguridade não estão bem equipados para fornecer o apoio necessário para que indivíduos vivam de forma saudável após potenciais deficiências provocadas por síndromes neurológicas e microcefalia”, declararam.
“Infelizmente, surtos de doenças infecciosas normalmente só ganham atenção durante a fase de transmissão. É necessário garantir o direito à saúde e os direitos de crianças, mulheres e pessoas com deficiência para além do período de declaração de emergência de saúde.”
O professor Daniel Lucey, do Centro Médico da Universidade de Georgetown, lembrou por sua vez que o surto de zika e de microcefalia no Brasil em 2015 e 2016 foi precedido de eventos similares, porém de menor escala, na Polinésia Francesa. Segundo ele, a importância desses eventos prévios precisa ser reconhecida para que ações apropriadas sejam tomadas.
“O reconhecimento da importância da ligação entre zika e microcefalia tanto na Polinésia Francesa como no Brasil requeria uma tomada de ação apropriada (…) em antecipação a uma pandemia de microcefalia em muitos outros países e territórios”, disse.
“Sob o risco de estar errado, às vezes é necessário tomar ações antes que todas as informações desejadas estejam disponíveis. Essa ação prematura pode ser essencial quando as consequências da inação precoce podem ser catastróficas”, completou o pesquisador.

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