domingo, 2 de outubro de 2016

Machismo masculino e feminino ainda persiste

por Arlete Gavranic

"Liberdade x controle x transparência: um modelo de relacionamento"

O padrão de relacionamento dos casais vem passando por inúmeras mudanças.

Nesses últimos cinquenta anos, (isso não é nada se pensarmos na historia da humanidade), será que o clássico padrão de machismo nas relações vem sendo substituído lentamente por um modelo menos machista, mais parceiro, com mais liberdade, principalmente para as mulheres, que sempre sofreram com o autoritarismo masculino?

Até os anos 50 e 60 a maioria das mulheres não terminava nem o grupo escolar (equivalente ao atual ensino fundamental II), uma parte delas completava o colégio ou um curso técnico (magistério = curso normal, ou o técnico em contabilidade ou enfermagem), e raras eram as mulheres que iriam para as faculdades. O ensino superior era território predominantemente masculino, assim como o mercado de trabalho. Essas jovens mulheres não eram incentivadas por suas famílias a estudar, e muitas eram proibidas de sequer desejar estudar ou trabalhar, principalmente nas classes média e rica.

Muitos foram os enfrentamentos sociais para que algumas mudanças ocorressem a partir principalmente do final da década de 60 e da década de 70. Junto com essa maior escolarização das mulheres, veio sua entrada no mercado de trabalho, os preconceitos e medos eram muitos, e a grande maioria dessas mulheres abandonava seus trabalhos após se casarem ou viverem a maternidade.

A vida da maioria das mulheres tinha um padrão muito submisso ao ritmo familiar, cuidados com a casa, com a família, dar assistência aos filhos e ao cônjuge. Os homens já tinham uma liberdade maior, trabalhavam, alguns frequentavam clubes para atividades físicas, outros para encontros sociais fosse no pôquer, na corrida de cavalos, no futebol ou nos bares, isso além das saídas fortuitas às zonas das cidades - hoje casa de massagens.

Parece uma descrição muito distante? Tanto não é que ainda hoje ainda temos muitas influências desse padrão machista nas relações de jovens casais.

É verdade que a ida das mulheres para o mercado de trabalho trouxe a mulher um empoderamento através da não dependência financeira.

Esse fator financeiro tem ajudado muitas mulheres a terem segurança para terminarem relacionamentos não satisfatórios, a buscarem nas suas parcerias companheiros que não ajam de maneira agressiva, violenta física ou moral, que não sejam egoístas ou traiçoeiros. 

Sim a grande busca das mulheres de hoje é encontrar um parceiro legal, afetuoso e leal, transparente em suas intenções e atitudes, mas tenho observado com bastante frequência o sofrimento de muitas mulheres nessa busca.

A liberdade sexual conquistada e vivida hoje pelas mulheres parece ter diferentes interpretações para alguns grupos de homens. 

Para muitos homens solteiros é um prazer poder ter a vida sexual com sua parceira sem a necessidade de esconderijos ou de culpa, medo de represália familiar. Aliás muitos desses homens jovens não demonstram interesse em conhecer ou frequentar as zonas, pois encaram a sexualidade como um prazer do relacionamento a dois.

Mas temos um grupo de homens jovens, alguns ainda adolescentes, de 17 a 35 anos, que ao invés de diminuírem seus ranços machistas, parecem que se sentem fortalecidos na sua afirmação de masculinidade pela facilidade de encontrar mulheres dispostas a viver o prazer no sexo sem uma relação de compromisso socialmente assumido. Com frequência encontramos homens que acreditando serem muito desejados, pois o número de mulheres é superior ao numero de homens nos grandes centros urbanos, se colocam numa postura abusiva e pouco carinhosa, e até pouco ética com relação à mulher.

São homens que fogem de relacionamentos, eles não se comprometem, seduzem as mulheres com um "eu quero ficar com você", cobram saber onde ela vai, com quem, mas sempre omitem seus programas pessoais, não convidam elas para serem parceiras, para estarem juntos em viagens, baladas ou happy hour. Mas como a vida sempre dá voltas e as mentiras se revelam, esse aspecto acaba trazendo à mulher que estava com expectativa de um relacionamento mais próximo: decepções!

Alguns podem me perguntar se essas mulheres não percebem essa atitude pouco transparente ou fugidia de alguns homens para se afastarem antes mesmo de se envolverem ou se decepcionarem, e o que eu observo é que muitas dessas mulheres não percebem ou não conseguem fazer essa leitura logo de cara por alguns motivos:

1) Porque essas mulheres também estão envolvidas em suas vidas acadêmicas e profissionais, elas estudam, fazem faculdade, residência, MBA, trabalham (e muito) e ainda dedicam um pouco de tempo para 'manter a forma' com algum tipo de atividade física. 

2) Muitas dessas mulheres trazem em suas memórias afetivas a lembrança de pai, tio ou avós também pouco afetuosos e nem sempre presentes, como se elas se acostumassem à visão de que homens sempre têm suas atividades fora do lar, mas como 'filhas´ elas não questionavam essas "ausências".

3) Por que hoje as pessoas adquiriram novos hábitos, as pessoas conversam muito pouco, elas teclam. É estranho pensar nisso mas são muitos os "casais" que conversam pessoalmente, o resto do tempo só teclam. As pessoas não conhecem a voz um do outro, não tem o gaguejar para responder, o telefonema já na cama pra dizer boa noite, o enrolar gostoso para ver quem vai desligar, para a muitos "casais" tudo se resume a teclar, a mandar uns emotions, e esse habito moderno da virtualidade também facilita que as pessoas "conversem" teclando com várias pessoas ao mesmo tempo. Mas as mulheres também fazem isso de teclar com vários caras? Sim, algumas fazem, mas na maioria das vezes quando a mulher desperta um interesse afetivo especial, ela se dedica mais a investir e a acreditar na intenção de troca do outro, e aí o maior risco de decepções.

Alguns homens não admitem a simples pergunta: "onde você está ou como foi seu dia?" ou "o que você vai fazer nesse fim de semana?". Eles reagem dizendo que estão se sentindo controlados ou que não gostam de dar satisfações, que gostam de ter liberdade de fazer - viver as oportunidades que aparecem. Por outro lado, eles fazem as mesmas perguntas - que para as mulheres tem significado de interesse, não de controle.

Na verdade estou falando da dificuldade de homens e mulheres se relacionarem num mundo tão cheio de oportunidades reais e virtuais.

Muitos homens irão mudar esse padrão de relacionamento mais egoísta, de curtição, quando encontrarem alguém que mobilize nele um sentimento especial, ou irão ter esse padrão de comportamento pela vida toda.

Já as mulheres podem e precisam aprender a fazer escolhas que as satisfaçam na sua liberdade de ser. Refletir primeiro, porque todo homem que conhecem tem que ser um projeto de relacionamento sério.

Será que as mulheres também precisam aprender a curtir alguns momentos prazerosos sem a cobrança do compromisso?

Estou dizendo que muitas vezes as mulheres querem enxergar compromisso ou um afeto mais profundo onde só há uma poça rasa; ali o território é de curtição, pode ser que aprender a rir, ter prazer e se abastecer com o carinho daquele momento possa ser útil e proteja essa mulher de criar expectativas e frustrações. É preciso parar com esse paradigma que só consegue ser feliz se estiver acompanhada.

Mas se o desejo é de viver algum compromisso com maior cumplicidade, você só perceberá a disponibilidade e a cumplicidade do outro na vivência, as demonstrações de afeto e desejo de estar juntos acontecem naturalmente e vão te dando dicas de que vocês dois caminham no mesmo sentido. 

Se a mulher precisar cobrar carinho, cobrar mensagens ou telefonemas, cobrar encontros, e se esses encontros na maioria das vezes são só sexuais, isso não a insere na vida social dele. Acorda mulher! Esse homem não está enganando você, ele está se comportando na medida do interesse dele, você é que está resistindo em enxergar. Cada vez que uma mulher resiste em enxergar, ela alimenta uma atitude perigosa que fere a autoestima ao invés de fortalecê-la.

Ser realista é preciso, e isso não significa ser fria ou perder o entusiasmo pelas novidades. A vida é repleta de encontros e desencontros. Sentir-se esperta, ajuda a puxar um afeto por você mesma, perceber que você pode desfrutar de prazer em viver relações de diferentes intensidades e 'times' e tirar o foco de encontrar outro alguém que faça você feliz e amada. Traga o foco para você, se goste, curta fazer coisas que te proporcionem prazer, aprenda a desfrutar e curtir pessoas que te façam bem. Quando você está bem, você encanta e aproxima pessoas com afinidades. Daí, podem surgir paqueras, curtições ou amores! Casamento de véu e grinalda? Não sei... quem sabe? Mas aproveitando e completando o que dizia o nosso saudoso poeta, que seja eterno e prazeroso enquanto dure!

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