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sábado, 16 de março de 2019

O que faz morrer uma história de amor?


Em sua nova coluna, a psicanalista Lidia Aratangy fala sobre as fases que um casal passa quando o relacionamento está chegando ao fim

Marie claire 12.03.2019 | POR LIDIA ARATANGY
Veja quais são os comportamentos que levam um relacionamento ao fim (Foto: Thinkstock)
Será possível reconhecer e acompanhar o roteiro da agonia e morte de um vínculo amoroso?  Existem sinais e sintomas que permitem diagnosticar a doença fatal do desamor?

Primeiro sinal: a mesmice (efeito direto da perda da curiosidade)
Depois de algum tempo de relacionamento, os parceiros acreditam que cada um é capaz de adivinhar o que o parceiro sente e pensa. É então que a comunicação se interrompe: as frases não chegam a ser pronunciadas até o final, as respostas chegam antes que as perguntas sejam formuladas.  Não há espaço para corrigir os desvios de interpretação, já não cabe a pergunta salvadora (“O que você quer dizer com isso?”).  Se um dos dois se atreve a desmentir a interpretação do outro (“Não era isso que eu queria dizer!”), é bombardeado com um: “Sei muito bem o que você queria dizer, eu te conheço direitinho, você não me tapeia!”

Assim, o casal está condenado a viver sob o império do silêncio, no qual se cavam abismos de desentendimentos e incompreensões, pois cada um mantém um diálogo interior com suas fantasias sobre as ideias e sentimentos do outro – cada vez mais distanciadas do que o outro realmente pensa e sente.
Sinal número 2: o tédio (filhote da mesmice)
Com a perda da comunicação, há menos possibilidades de descobrir novas facetas do companheiro que, por sua vez, desiste de se expor, depois de ser reiteradamente mal compreendido.  Há como um congelamento do outro em facetas supostamente conhecidas, gerando um desinteresse por propostas que poderiam arejar conexões antigas ou despertar novos aspectos da personalidade de cada um. A relação perde o brilho, os parceiros se descuidam, de si mesmo e do outro.


Sinal número 3:  sensação de incompetência
Assim como no início do relacionamento os parceiros valorizam as peculiaridades do outro e têm prazer em sinalizar seu agrado, uma convivência longa pode inverter esse processo: as gracinhas viram defeitos, cada um parece sentir prazer em criar situações que ressaltam as dificuldades do outro.  Apontar falhas e incompetências torna-se um divertimento permanente, sobretudo na presença de terceiros. 



A partir daí, o olhar desdenhoso que cada um pousa no outro desvela e reforça a incompetência, nega-lhe qualquer valor, congela a distância e decreta a morte da relação.



Sinal número 4: iluminação diferencial (o ET às avessas)
A convivência cotidiana leva o casal a entrar em contato com novas facetas das mesmas características que, antes, atraíam: a liberdade pode ser bagunceira, desorganizadora, irresponsável; assim como a tranquilidade pode ser preguiçosa, obsessiva, pesada.  Sem que o outro tenha se modificado, sem que tenha sequer se movido do lugar, tudo aquilo que antes encantava agora irrita.  O que mudou?  O olhar.



Isto é, o objeto continua o mesmo, a diferença está na maneira como palavras e atitudes são percebidas. O cinema oferece inúmeros exemplos do poder dos sentimentos sobre a maneira como se percebe uma imagem.  No filme ET, de Steven Spielberg, a primeira reação que a imagem daquele estranho ser nos provoca é de susto; depois, quando o olhar da protagonista nos convence de que o bichinho não é violento, ainda o olhamos com repugnância: a pele rugosa, os olhos remelentos, as narinas abertas e úmidas, o som gutural que sai de sua garganta, tudo isso nos remete a répteis asquerosos.  Mas, no final do filme, tudo muda e os aspectos antes repulsivos agora mobilizam nossa ternura: os olhos do ET refletem desamparo, a pele transmite uma sensação de frio que pede aconchego, o som primitivo se transforma em lamento.  Mestre Spielberg não mudou nenhum detalhe do ET, é sempre o mesmo boneco inflado.  Mas já não é a mesma a luz que emana de dentro de nós, os sentimentos com os quais iluminamos a imagem transformam totalmente o que agora vemos. 



Pois confesso que muitas vezes, no meu trabalho com casais, tenho a impressão de que algumas histórias de amor são como o filme ET, só que passado de trás para frente: tudo aquilo que antes encantava, agora repele ou, até mesmo, assusta...

Algumas atitudes fatais
Não existem receitas, cada pessoa é única, o que faz com que cada relacionamento tenha suas peculiaridades. Mas podemos identificar algumas condições que colaboram para o desgaste de uma relação amorosa. Aí vão alguns exemplos. 


Insistir num tema depois que o outro pede para não falar no assunto (é claro que você pode – e deve – voltar ao tema em outro momento, mas encompridar uma conversa que irrita o interlocutor não leva a nada além de uma briga)



Imaginar que sabe tudo o que o outro sente ou pensa.



Interromper um relato do parceiro para corrigir detalhes, quando ele está contando algum episódio da vida do casal.



Fazer surpresas que podem gerar desapontamentos para ambos (festa de aniversário surpresa, por exemplo, se o outro nunca expressou o desejo de festejar o aniversário).



Ficar mortalmente desapontado quando recebe uma surpresa que preferia não receber.



Ficar mortalmente desapontado com o desapontamento do outro, quando ele não gosta de uma surpresa.



Criticar a família dele.



Invadir os espaços do outro.



Discutir na frente de outras pessoas.



Fingir que gosta do que não gosta.



Fingir que não gosta do que gosta.



Envolver familiares (de qualquer dos lados) em assuntos do casal.



Pontificar sobre o que o parceiro deve ou não fazer (mesmo que ele peça sua opinião, ela deve ser expressa como opinião, e não como a palavra final da sabedoria).

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