sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Gael García Bernal está cansado da masculinidade frágil: ‘Não pode chorar, não pode errar…’

por: Janaina Pereira
Gael Garcia Bernal está no Festival de Veneza em competição com dois filmes. O ator mexicano vive o coreógrafo Gastón no longa “Ema”, do chileno Pablo Larraín, que narra um casamento em crise depois de uma adoção que deu errado. Já em “WaspNetwork“, do francês Oliver Assayas, ele é um dos protagonistas da produção baseada no livro “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, de Fernando Morais, contracenando com Penelope Cruz e Wagner Moura. Os personagens são diferentes, mas o tema da América Latina está presente em ambos. E, embora seja constantemente sondado pelo cinema americano, Gael confessa que gosta mesmo de fazer cinema no seu idioma.

“Filmes como Ema jamais seriam feitos em Hollywood. Nunca, nunca!”, conta em entrevista exclusiva ao Hypeness.”E por isso gosto de fazer filmes com realizadores latinos. É um tipo de cinema diferente, tem mais coisas experimentais”.
Aos 40 anos de idade e completando 20 anos de trabalhos no cinema (ele começou ainda criança na TV mexicana, o que lhe dá mais de 30 anos de experiência) o ator construiu uma sólida carreira, com foco no mercado latino. Já trabalhou com os cineastas brasileiros Walter Salles (em “Diários de Motocicleta”) e Fernando Meirelles (em “Ensaio sobre a Cegueira”), e ganhou o Prêmio Marcello Mastroiani de Revelação no Festival de Veneza em 2003, pelo filme “E sua mãe também”, de Alfonso Cuáron. Ele acredita que o reconhecimento Internacional pelo seu trabalho nessas duas décadas se deve às escolhas que fez. “Com ‘Ema’, por exemplo, eu quis fazer porque já trabalhara com Pablo antes e achei o roteiro muito interessante. Ele desmistifica a maternidade, e também questiona essa coisa do homem perfeito”.
Relações familiares estão presentes na maioria dos filmes nesta 76 edição do Festival de Veneza. Gael acredita que é uma tendência dos cineastas querer abordar esses assuntos porque a sociedade está mudando. “O homem tem carregado isso por muito tempo. Não pode chorar, não pode errar, não pode isso, não pode aquilo…. essa perfeição é um peso, e ser imperfeito não deveria afetar a masculinidade. Esse é um tipo de questionamento dos dias dos de hoje que ‘Ema’ faz muito bem, e isso me agradou no roteiro”.
O homem tem carregado isso por muito tempo. Não pode chorar, não pode errar, não pode isso, não pode aquilo…. essa perfeição é um peso, e ser imperfeito não deveria afetar a masculinidade. Esse é um tipo de questionamento dos dias dos de hoje que ‘Ema’ faz muito bem, e isso me agradou no roteiro

Esta é a terceira colaboração de Gael García Bernal com o diretor Pablo Larraín. Em 2011 eles filmaram No, sobre o plebiscito criado pelo ditador chileno Augusto Pinochet para validar sua continuidade no poder. O longa foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Em 2016 eles retomaram a parceria em “Neruda”. Gael comenta que Larraín é um diretor e roteirista da geração dele, que tem um olhar significativo para a vida. “Ele sabe contar e dirigir histórias. Com Ema ele desconstruiu a imagem da mulher e do homem, essa imagem que a sociedade impõe”.
Solteiro – ele garante que casamento nunca fez parte dos seus planos -, Gael acredita que as pessoas estão mais autênticas, embora ainda sejam cobradas por muitas atitudes consideradas prioridades por parte da sociedade. “Mulheres têm que casar, ter filhos…. Elas têm mesmo? A maternidade é mesmo algo tão libertador? Por que muitas mulheres sofrem ao ter filhos, e parece que para boa parte delas a maternidade não é essa felicidade toda. E aquelas coisas que dizem ‘isso é de homem, isso é de mulher’…. é mesmo? Esse tipo de situação ainda acontece, mas estamos mudando, estamos aceitando mais o outro como ele é”.

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