Baixa autoestima, insegurança e desconfiança dos próprios critérios são habituais em crianças impedidas de tomar decisões que correspondem à sua idade
El País
CAROLINA PINEDO
Madri 29 AGO 2019
GETTY |
As crianças nascem totalmente dependentes de seus cuidadores, mas a partir dos dois anos começam a desenvolver sua personalidade, e então surgem as primeiras recusas às propostas dos adultos, já que a criança inicia o desenvolvimento de sua capacidade de decidir por si mesma. “À medida que a criança cresce, revela seus gostos, interesses, opiniões e pensamentos próprios. Trata-se de um processo crucial para o desenvolvimento de sua autonomia e da constituição de sua identidade pessoal. Por isso, é imprescindível que os pais apoiem que seus filhos aprendam a decidir de maneira progressiva e não se deixem levar unicamente pelo que eles desejam para a criança, sem levar em conta se isso é o que verdadeiramente ela necessita, ou se irá se chocar frontalmente com seus desejos ou interesses. As expectativas muito rigorosas ou exigentes com relação ao que esperamos que nossos filhos sejam ou consigam podem nos levar a decidirmos por eles, sem percebermos como isso pode ser prejudicial”, afirma Carla Valverde, psicóloga clínica infanto-juvenil do Centro de Saúde Mental de Alcobendas (Espanha).
Para que a criança avance com segurança rumo à sua maturidade, é crucial um equilíbrio entre lhe oferecer liberdade de decisão e impor limites razoáveis em questões que só os pais podem decidir. “A criança não pode decidir tudo sozinha. Alguns pais consultam seus filhos sobre todas as decisões a tomar, e isto não é recomendável. As crianças têm que aprender que nem sempre poderão escolher. Desta forma, desenvolvem tolerância à frustração gerada por um não a determinadas pedidos dos pequenos que são prejudiciais ou arriscados — como querer usar uma faca na cozinha aos 4 anos sem a supervisão de adultos, por exemplo. Segundo sua idade, as crianças podem decidir sobre certas questões, como qual atividade extraescolar preferem, e não sobre outras, como irem sozinhos ao colégio aos 5 anos”, diz a psicóloga Valverde, que enumera as consequências de não oferecer aos nossos filhos a possibilidade de tomarem as decisões que cabem à sua idade:
Para que a criança avance com segurança rumo à sua maturidade, é crucial um equilíbrio entre lhe oferecer liberdade de decisão e impor limites razoáveis em questões que só os pais podem decidir. “A criança não pode decidir tudo sozinha. Alguns pais consultam seus filhos sobre todas as decisões a tomar, e isto não é recomendável. As crianças têm que aprender que nem sempre poderão escolher. Desta forma, desenvolvem tolerância à frustração gerada por um não a determinadas pedidos dos pequenos que são prejudiciais ou arriscados — como querer usar uma faca na cozinha aos 4 anos sem a supervisão de adultos, por exemplo. Segundo sua idade, as crianças podem decidir sobre certas questões, como qual atividade extraescolar preferem, e não sobre outras, como irem sozinhos ao colégio aos 5 anos”, diz a psicóloga Valverde, que enumera as consequências de não oferecer aos nossos filhos a possibilidade de tomarem as decisões que cabem à sua idade:
1 – Dificuldade para tomar decisões por si só, algo que acompanhará o indivíduo até a idade adulta, quando terá que fazer escolhas por si só.
2 – Sentimentos de insegurança. Não confiar no próprio critério.
3 – Dependência excessiva do adulto na hora de decidir. A criança não treinada para fazer escolhas carece de determinação e iniciativa própria.
4 – Tendência à inibição ou a ceder aos desejos e intenções de terceiros, o que levará a pessoa a ser excessivamente complacente.
5 – A criança pode se sentir anulada e pensar que o que sente, quer ou deseja não é válido e nunca se leva em conta.
6 – Dificuldade em se opor aos desejos de outras pessoas, o que implica o risco, sobretudo na adolescência, de não saber se negar a pressões sociais, como no caso do consumo de álcool ou drogas.
7 – Diminuição da autoestima e dos sentimentos de valor pessoal.
8 – Desenvolvimento de sentimentos de irritação e ressentimento contra as pessoas que tentam impor um critério diferente.
Tomar decisões é um hábito que se aprende fazendo. As crianças precisam desse processo de treinamento e aprendizagem, mas como podemos ajudá-las em casa para que consigam isso? A psicóloga infanto-juvenil Gema José Moreno propõe as seguintes condutas:
- Seja um exemplo de respeito pela liberdade do critério dos demais, independentemente de sua idade, mesmo que a opinião dos pais não coincida com a da criança.
- Mostre prós e contra de cada opção a escolher, e deixe que seja a criança quem decida.
- Ensine a avaliar e pesar antes de tomar uma decisão, assim como a assumir as consequências dos erros, com os quais também se aprende.
- Enganar-se é normal, então convém evitar julgar a escolha da criança e ajudá-la a lidar com a frustração que isso acarreta.
- No processo de aprendizagem da tomada de decisões, a ansiedade pode bloquear a criança e transformar a escolha em um problema que gera sentimentos de angústia. Por isso, convém ensinar à criança que ela tem a liberdade de compartilhar essas emoções, sem que isso implique delegar a responsabilidade da escolha aos outros.
- Eduque os filhos em liberdade para que escolham, errem, sejam consequentes com seus atos e experimentem emoções que, embora dolorosas, fazem parte do processo de aprendizagem na tomada de decisões, que transformarão a criança em uma pessoa independente e feliz.
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