Além da pílula, alternativas naturais e com menos interferências químicas em seus corpos e ciclos são opções; conheça cada uma delas.
Fora isso, outra informação fez com que tomasse essa decisão. “Antes de começar o uso eu já tinha sido diagnosticada com enxaqueca mas a médica ginecologista da época não me falou sobre o entendimento da OMS [Organização Mundial da Saúde] de ser expressamente não recomendado o uso de anticoncepcionais combinados [sejam pílulas, injetáveis, adesivos e anéis] por mulheres de qualquer idade que tenham enxaqueca com aura pelo altíssimo risco de derrame cerebral”.
Parou. E muitas outras coisas mudaram. “Meu corpo precisou de mais de 6 meses para funcionar de forma natural, sem ser controlado por hormônios sintéticos. Tive muitos problemas com acne (que eu já tinha antes de tomar o anticoncepcional e que não é tratado por ele) e queda de cabelo”.
Mas não se arrepende. Após esse primeiro passo, outras decisões vieram. “Hoje eu utilizo o preservativo (principalmente o masculino/peniano), também possuo o diafragma e sou adepta da percepção de fertilidade em que analiso sinais como o muco cervical, a temperatura basal e a altura e textura do colo do útero. Eu passei a estudar muito após cessar o uso [da pílula]. Nesse mesmo tempo eu participei pela primeira vez de uma oficina de ginecologia autônoma e natural e um outro mundo se abriu. Segui meu estudo aliando as duas áreas de conhecimento: direitos Sexuais e Reprodutivos e Ginecologia autônoma e natural”.
Hoje, Beatriz é mestranda em Bioética pela UnB – Direitos sexuais e reprodutivos, terapeuta menstrual e criadora do projeto Vulva Política. E essa busca por métodos contraceptivos não hormonais e alternativas mais naturais para evitar uma gravidez é uma realidade para muitas mulheres.
De acordo com a ginecologista natural e obstetra humanizada Debora Rosa, o movimento ainda pode ser considerado pequeno, mas há de fato um aumento na busca por esses tipos de métodos.
“Está aumentando, [mais mulheres] veem que saúde não é só não ter doença, saúde não é só bem estar físico”, explica e já deixa claro também: “Não existe o melhor método. O melhor é o que se adéqua ao casal e ao período de vida da mulher e não é o médico que tem que escolher. A mulher é especialista dela mesma. O médico é um instrumento de saber. Estudei 12 anos para passar esse conhecimento. Cabe a mulher e ao casal tomar essa decisão”.
O médico é um instrumento de saber. Estudei 12 anos para passar esse conhecimento. Cabe a mulher e ao casal tomar essa decisão.Débora Rosa, ginecologista natural e obstetra humanizada.
Beatriz também enfatiza a importância de olhar para essa escolha e decisão de forma ampla, levando em consideração diversas questões.
“Acho bastante importante trazer que não concordo com a demonização dos métodos contraceptivos hormonais e da medicina. Críticas e querer uma mudança de paradigma é diferente de demonizar algo que tem sim sua importância e lugar”, aponta. ”Às vezes poderá ser necessário fazer uso de método contraceptivo hormonal principalmente diante da violência sofrida por mulheres em relacionamentos abusivos, por exemplo.”
Os principais métodos anticoncepcionais sem hormônio
Camisinha (masculina e feminina) – Agem como método de barreira e impede que o espermatozóide entre em contato com a vagina. “A camisinha, é sempre bom lembrar, é a única que previne DST”, explica Débora que destaca também a camisinha feminina, ainda pouco conhecida.“Quase ninguém usa, quase ninguém conhece e ela tem várias vantagens em relação a masculina. Primeiro é outro material, não é látex, ela é bem lubrificada e dá menos alergia e irritação. Ela também fica paradinha na parede vaginal, então dá menos atrito com o material mesmo e protege também de doenças que pegam na vulva porque tem uma proteção do lado de fora, então reduz a chance de contato com sífilis e HPV, herpes genital, por exemplo”Diafragma – Também um método de barreira, deve ser inserido na vagina e cobre o colo do útero. “Tem 6 tamanhos então tem que ir ao médico para medir e ensinar como colocar porque ele tem que ficar exatamente numa posição dentro da vagina para cobrir o colo. Pode ser usado com espermicida [produto químico que imobiliza e destrói os espermatozóides] ou sem”.DIU – Outro método de barreira, o Dispositivo Intrauterino impede a ascensão do espermatozoide para as trompas, onde ocorre a fecundação. Atualmente, há dois tipos não hormonais: o de cobre e o de cobre revestido com prata. Esse método é considerado barato e de longa duração já que, estando na posição correta, deve ser trocados após 10 anos (cobre) ou cinco anos (cobre com prata). A diferença entre os dois é que o revestido com prata reduz alguns efeitos no corpo como o aumento do fluxo menstrual e as cólicas.“O revestimento diminui a oxidação do cobre e diminui esses efeitos adversos também. Ele fica bem na entrada das trompas e impede a ascensão do espermatozoide. Fora isso, o metal cria um microambiente desfavorável para o espermatozoide e também por esse microambiente não favorece os movimentos da trompa, que também é importante para ajudar na fecundação”. No caso do DIU, a mulher deve realizar exame ginecológico constante para verificar o posicionamento do dispositivo.Percepção da fertilidade – método comportamental que consiste na análise de sinais do corpo e do ciclo menstrual. “A percepção da fertilidade não é tabelinha. A tabelinha é um cálculo matemático que não recomendo porque não somos matemática, nossas emoções podem alterar nosso corpo, alterações no ciclo podem acontecer e a tabelinha não leva isso em consideração”. A percepção da fertilidade analisa o muco cervical, a altura do colo do útero e a temperatura basal da mulher para determinar os dias férteis. “A gente consegue detectar nosso período fértil e nesse período ou é fazer abstinência sexual, ou combinar com métodos de grande eficácia”, explica Debora.Coito interrompido – também considerado um método comportamental, o coito interrompido consiste na ejaculação fora da vagina. “Com 20% de falha, não tem uma eficácia grande”, avalia Debora.
Derrubando mitos e preconceitos
Apesar de haver uma busca maior por métodos não hormonais, ainda existem algumas resistências e preconceitos em relação a eles. “Os principais mitos circulam, ao meu ver, pela taxa de eficácia levando em consideração o uso ideal e típico dos métodos contraceptivos como um todo. Como o anticoncepcional é o mais sugerido pelos médicos ginecologistas, passamos a acreditar que apenas ele é seguro e isso não é verdade. Nenhum método contraceptivo possui 100% de eficácia”, explica Beatriz.
O uso ideal e o uso típico a que ela se refere faz diferença na taxa de eficácia dos métodos. O uso típico é quando o método não é usado todas as vezes e da forma indicada (no caso da pílula, por exemplo, quando a mulher esquece de tomar algum dia e no caso da camisinha quando o casal não utiliza em todas as relações ou começa a relação sem e coloca depois). Já o uso perfeito é quando o método é usado em todas as relações sexuais de acordo com todas as instruções.
For a isso, Beatriz acredita que as pessoas ainda têm preconceitos. “O preconceito contra métodos contraceptivos não hormonais ou naturais se dá muito pelo desconhecimento do mecanismo de ação, do próprio ciclo menstrual e entendimento do corpo. Está muito bem fundamentado pelo o que a indústria farmacêutica e de produtos médicos está difundindo como sendo o melhor e mais moderno”, avalia.
A percepção da fertilidade é vista com muito deboche e a gente não é empoderada para se autoconhecerDebora Rosa, ginecologista natural e obstetra humanizada.
Débora também percebe alguns mitos em relação ao uso de diversos métodos contraceptivos. “O DIU falam que não pode pra quem não teve filho, que é abortivo. O que acontece é que como em todos os métodos, existe falha. A sociedade e as indústrias farmacêuticas muito modernas tentam colocar os métodos naturais com certo deboche e o DIU, que é muito eficaz, gera vários mitos e porque não tem mito contra a pílula? É porque tem uma indústria forte e rica por trás. A percepção da fertilidade é vista com muito deboche e a gente não é empoderada para se autoconhecer, as mulheres não podem ter esse poder, porque o autoconhecimento é poder”.
No fim das contas, o que especialistas na área defendem é que seja analisado o momento de vida da mulher para que essa escolha seja feita de acordo com o que realmente faz mais sentido e que se busque informações sobre o assunto. Fora isso, recomenda-se o uso combinado de métodos, novamente lembrando que somente a camisinha protege de infecções e doenças sexualmente transmissível.
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