Confronto com Exército revela última 'chefona' do tráfico no Rio
MARCO ANTÔNIO MARTINS
DO RIO
Da favela Minha Deusa saíram os primeiros disparos contra o Exército, chamado para ocupar comunidades da zona oeste do Rio de Janeiro e dar segurança a eleitores neste domingo de eleição.
A comunidade reúne cerca de 1.500 moradores e surgiu no final dos anos 1980, quando fazia sucesso a personagem Jocasta, interpretada por Vera Fischer, da novela "Mandala", da TV Globo. O refrão "como uma deusa..." embalava a trama.
A ousadia dos traficantes surpreendeu o general José Alberto de Costa Abreu, da 1ª Divisão do Exército.
Toda a ação foi ordenada por uma mulher: Deise Mara de Souza Rodrigues, 49.
Dona Deise, como é conhecida, é a única mulher no Rio a chefiar a venda de drogas em seis favelas (Vila Vintém e as pequenas Minha Deusa, 777, Curral das Éguas, Nogueira e Conjuntão). É também, entre homens e mulheres, a de mais idade a ocupar posto de liderança no tráfico.
Ela assumiu a chefia quando o marido foi preso, há uma década. Ele é Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, um dos idealizadores e chefes da facção ADA (Amigos dos Amigos).
DEMÔNIO
Investigações indicam que Deise mora em um casarão na Vila Vintém -a maior das comunidades que domina, com 15 mil habitantes.
A casa tem piscina, churrasqueira e a escultura de um demônio na entrada. O relato faz parte de um inquérito da 33ª DP (Realengo).
Dentre as acusações que pesam contra Deise estão homicídio, tráfico de drogas e formação de quadrilha.
"O Celsinho é da velha guarda. Sempre preferiu corromper policiais a trocar tiros. Já a Deise tem um perfil mais duro com os desafetos", diz o juiz Alexandre Abrahão, da 1ª Vara Criminal de Bangu, que em dezembro decretou a prisão dela e de nove integrantes da quadrilha.
A decisão fez com que Deise deixasse de visitar o marido na prisão.
Celsinho ficou preso por oito anos em Bangu 1, presídio de segurança máxima. Há dois anos foi transferido para uma unidade comum, Bangu 4, e parte da família passou a questionar o seu poder.
Da prisão, o traficante teria dado ordens para que todos respeitassem Deise. Caso contrário, alguém morreria.
Coincidência ou não, o sobrinho do casal, Leandro Rodrigues de Almeida, foi assassinado. O delegado Carlos Augusto Nogueira indiciou Deise, Celsinho e mais sete sob suspeita pela morte.
Outros foram expulsos da Vila Vintém, apontada como ponto de distribuição de drogas da ADA desde a ocupação da Rocinha, há 11 meses.
Dentre os fatos "curiosos" da favela, a polícia já descobriu que moradores podem comprar produtos em uma loja de material de construção sem precisar pagar na hora.
Mas, a cada 15 dias, um carro de som atravessa a favela lembrando às pessoas que paguem pelo material adquirido na loja. "Evite constrangimentos", grita o alto-falante. "Dica da Dona Deise", explicam os moradores.
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