Cooperativas defendem equilíbrio entre pessoas e benefício
por Beatrice Paez, da IPS
Toronto, Canadá – O emblemático ano do movimento mundial cooperativo está por terminar, e seus dirigentes lançam uma última mensagem ressonante: as cooperativas são capazes de promover a transição para uma economia socialmente mais responsável. Este conceito será central na Cúpula Internacional de Cooperativas, que reunirá mais de duas mil pessoas na cidade canadense de Quebec a partir de hoje e até o dia 12. No contexto do Ano Internacional das Cooperativas, proclamado pela Organização das Nações Unidas (ONU), Monique Leroux, diretora-executiva do Desjardins, o maior grupo financeiro cooperativo do Canadá, acredita que é hora de cumprir o sonho de organizar um grande encontro.
“Queremos aproveitar a cúpula para garantir que o mundo em geral, e os governos em particular, compreendam melhor o movimento cooperativo”, explicou Leroux. “Devemos fazer um trabalho melhor para divulgar quem somos”, acrescentou. O Desjardins se associou com a não governamental Aliança Internacional de Cooperativas (AIC) para criar um contexto no qual seja possível forjar novas redes e soluções para impulsionar o movimento.
A mudança para um novo modelo econômico está em marcha, e é hora de as cooperativas demonstrarem seu valor, porque há uma onda de descontentamento com o sistema econômico atual, disse Charles Gould, diretor-executivo da AIC. As cooperativas tendem a surgir em resposta a uma necessidade desatendida em uma comunidade. Alguns valores centrais nos quais se baseia o modelo cooperativo são: autoajuda, democracia, igualdade, e solidariedade, que pautam a forma como as decisões são tomadas.
Estes valores implicam que os interesses das comunidades serão considerados em qualquer cálculo empresarial. Diante da crise financeira, o modelo cooperativo provou sua resiliência pelo fato de seus diretores serem responsáveis perante seus membros, detalhou Leroux. A regra de que um membro é igual a um voto significa que os interesses da maioria não prejudica o restante.
“É um modelo mais sustentável, não corre riscos desconhecidos porque não tenta maximizar seus benefícios”, explicou Gould. “Acreditamos que é factível pensar que em 2020 o modelo cooperativo será a estrutura empresarial de maior crescimento no mundo”, disse à IPS. “Perguntamos às cooperativas e aos seus membros o que teria de mudar para que isso ocorresse”, acrescentou. Gould identificou várias áreas que ajudarão a impulsionar o movimento e promover seu perfil como alternativa viável à clássica estrutura corporativa.
As cooperativas necessitam de novas formas de reunir capital que estejam alinhadas com seus valores. A cúpula é uma oportunidade para que o Desjardins e seus sócios compartilhem suas novidades sobre a criação de produtos financeiros, serviços de crédito pensados para refletir o contexto de uma comunidade, disse France Michaud, supervisora de comunicações de Developpement International Desjardins (DID). Além de reunir capital, as cooperativas também devem trabalhar melhor para promover e mencionar sua identidade, mostrando o modelo e seus valores ao público em geral, disse Gould. Marcas como Ocean Spray e Sunkist são conhecidas, mas nem sempre definidas como exemplos de cooperativas.
Há várias concepções erradas sobre as cooperativas que diminuem sua importância na economia, disse Stephanie Guico, coordenadora do Programa Futuros Líderes da cúpula. O alívio da pobreza é central no mandato de muitas cooperativas, mas muita gente costuma não se dar conta de que são empresas implicadas em sua sustentabilidade, destacou Guico. Para que o modelo cooperativo prospere é necessário ajustar o contexto legislativo e normativo.
“Há muitos países onde o regime empresarial gira em torno das empresas porque tem sido o modelo dominante”, pontuou Gould à IPS. “Devemos garantir não estarmos sujeitos a restrições que foram impostas para evitar problemas que sofrem outras estruturas”, esclareceu. Gould afirmou que os governos de China e Irã estão interessados no modelo cooperativo, e que esses países estão em sua lista de nações para observar seu crescimento.
“Alguns deles reconhecem a necessidade de opções às empresas estatais e de observar quanto mudou a economia local”, disse Gould. “No entanto, não querem cair em modelos capitalistas e se perguntam se uma cooperativa pode ser uma forma de as pessoas se voltarem para a autoajuda”, acrescentou.
Em Quebec, o trabalho preliminar para uma economia alternativa é gestada em uma variedade de pequenos esforços encabeçados por membros do movimento cooperativo global, disse a socióloga Laure Waridel, convidada a participar da cúpula. Também mencionou, como exemplo, uma fazenda orgânica local que optou por substituir com ajuda dos clientes dispostos a pagar adiantado por sua parte da colheita.
Waridel, também reconhecida como pioneira do comércio justo, estuda os esforços de agricultores de Qebec para criar uma renda sustentável. “Me interessa encontrar os pontos de conexão entre as muitas iniciativas de Quebec que são consideradas marginais. Se as juntarmos veremos que constituem uma proposta para outra economia”, acrescentou. Envolverde/IPS
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