AIDS Chile na vanguarda em controle de resultados de terapias antiaids
O laço vermelho, símbolo da luta contra a aids. Foto: Gary van der Merwe CC BY-SA 3.0
Santiago, Chile, 23/11/2-12 – No Chile, além de serem proporcionadas terapias contra o vírus HIV, causador da aids, a quem necessita, também existem mecanismos para medir o resultado do tratamento. “Em muitas outras partes do mundo se coloca o tratamento à disposição, mas ninguém sabe se este dá resultado, ou não”, explicou à IPS o infectologista Marcelo Wolff, estudioso do HIV/aids na Universidade do Chile.
Neste país “há uma cobertura que inclui praticamente todas as pessoas infectadas pelo vírus”, acrescentou Wolff, que este ano recebeu o prêmio norte-americano Richard and Hinda Rosenthal, destinado aos que contribuem significativamente para melhorar o manejo clínico em medicina interna. Os registros mostram que há quase 22 mil pessoas vivendo com HIV ou aids, mas poderiam ser entre 40 mil e 70 mil. “Acredita-se que há entre duas ou três pessoas não diagnosticadas para cada uma com diagnóstico; por isto, o total fica entre 0,3% e 0,4% da população maior de 15 anos”, explicou. O Chile tem 16,5 milhões de habitantes.
A abordagem conta com um sistema de monitoramento em 32 centros públicos de atenção em todo o país, que permite tomar medidas oportunas para as necessidades específicas de cada Estado. Este controle é feito pela Corte Chilena de Aids, criada por uma equipe de profissionais como Wolff, que se integraram a uma rede multidisciplinar e não governamental, a Aids Chile, fundada em 2003. “Ter o conhecimento do que acontece com as pessoas que recebem o tratamento é a principal novidade. E a Corte Chilena de Aids pode estudar isso, pode estudar qual a sobrevida, morbidade, índices de hospitalização, de reinserção trabalhista e social”, detalhou o especialista.
Uma vez aplicado o tratamento, baseado em terapias antirretrovirais que reduzem a carga de vírus no organismo e prolongam a vida, é feito com os pacientes um acompanhamento homogêneo, cuja informação permite avaliar o resultado do programa. São analisados os dados gerados, para dirigir políticas de trabalho e infraestrutura. E podem ser tomadas medidas locais de adequação das terapias, com base nos resultados observados.
A informação também contribui para a avaliação mundial da pandemia. “Tradicionalmente são publicados resultados dos países desenvolvidos e das nações pobres, mas daquele grupo importante de países com recursos médios não havia uma avaliação, e isso a Corte Chilena de Aids está proporcionando”, pontuou Wolff. A lei 19.779, de dezembro de 2001, resguarda os direitos das pessoas à prevenção, ao diagnóstico, controle e tratamento, e determina o livre e igualitário exercício dos demais direitos e liberdades para quem vive com HIV/aids, impedindo expressamente a discriminação no acesso a educação, trabalho e saúde.
Além disso, a atenção com o HIV/aids passou a ser contemplada também no Plano de Acesso Universal de Garantias Explícitas, que concede o direito a prestações, com certas garantias de serviço e de tempo. Por outro lado, o Programa Nacional de Acesso Expandido à Terapia Antirretroviral, em vigor desde 2001, assegurou a entrega de tratamentos de nova geração a todos os pacientes que deles necessitarem.
Como resultado da aliança entre esse programa estatal e a Corte Chilena de Aids, “diminuiu a mortalidade em mais de 80% e caíram as hospitalizações”, o que “permite a reintegração das pessoas à sua vida normal”, enfatizou Wolff. Sua avaliação é direta: “conseguimos em nossos pacientes resultados que são comparáveis aos dos países desenvolvidos”. A partir desta sinergia, melhorou a situação social e econômica dos que vivem com HIV/aids, afirmou Manuel Jorquera, coordenador da organização não governamental Vivo Positivo. “Agora existe um tratamento mais oportuno, mais garantido, com um monitoramento gratuito”, disse à IPS.
Estes benefícios são palpáveis em Martín (nome fictício), um jornalista de 36 anos que há quatro recebeu o diagnóstico de HIV. “No começo foi complexo assumir, mas tive o apoio de vários amigos que também estão contagiados e que sobrevivem muito bem à doença”, contou à IPS. Desde que foram detectados os primeiros casos neste país, em 1984, o ano passado foi o de menor taxa de notificações de aids (seis em cada cem mil habitantes) e de HIV (9,6 em cada cem mil habitantes), segundo o Departamento de Epidemiologia do Ministério da Saúde.
Esta trajetória da doença no Chile coincide com as tendências mundiais que mostram uma redução de 20% na quantidade de novas infecções e aumento de 17% no número de pessoas com HIV em 2011 com relação a 2001, ano do ponto máximo da pandemia. Isto se traduz em 34 milhões de pessoas com HIV/aids no mundo, segundo o último informe mundial divulgado no dia 20 deste mês.
No Chile, porém, nem tudo está resolvido em relação à aids. Martín trabalha na área corporativa de uma empresa, onde “oficialmente” desconhecem que ele é homossexual, embora “muitos suspeitem”. O que ninguém imagina é que vive com HIV, segue o tratamento antirretroviral e realiza controles em um hospital público. “Vivo totalmente normal. Vou ao trabalho, saio com amigos. E nem minha mãe sabe que estou infectado. Isto a destruiria”, enfatizou.
E seus temores têm fundamento. Apesar do avanço em políticas públicas, no Chile há uma enraizada discriminação, que faz muitos terem medo de realizar o exame. “A pessoa sente o temor, que não deixa de ser real, de ser discriminada uma vez estabelecida esta condição de infectada”, destacou Wolff. E sua opinião, o desafio mais importante “é evitar que as pessoas se infectem” e para isso “as campanhas de prevenção devem ser muito mais diretas do que são”. Além disso, “é preciso diagnosticar todos os que não foram e incorporá-los à atenção proporcionada”. Para isto também é preciso combater o estigma. Envolverde/IPS