Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar

Banco Santander (033)

Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4

CNPJ 54.153.846/0001-90

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Passe tempo com as crianças

Não há maneira melhor de demonstrar todo seu amor

ISABEL CLEMENTE
12/10/2014  

Entrei no auditório escuro e refrigerado em busca de um lugar. A estrutura temporária montada na Praia de Copacabana para receber o TED Global, evento que fez fama e milhões de seguidores graças a palestras inspiradoras e gratuitas na internet, não deixou a desejar para o melhor teatro da cidade. Sofás, cadeiras e poltronas variadas compunham o ambiente confortável e ultrarefrigerado. Não havia muito espaço disponível e escolhi um canto entre dois homens, num dos sofás. Cumprimentei os dois e me sentei à espera da primeira palestra.

O TED Global atraiu para o Rio uma plateia muitas vezes tão interessante quanto os palestrantes do palco principal. O estrangeiro da direita me cumprimentou. Usava havaianas brancas (distribuídas aos participantes). Perguntou o que eu fazia.

“Sou jornalista de uma revista semanal brasileira”.
“Você cobre que assuntos?’
“Hardnews”.
“Oh”
“E você, o que faz?”

Ele me entregou um cartão postal. Nele havia uma charge de um homem sentado numa mesa que dizia, em inglês: “Para uma seleção justa, todos terão que fazer a mesma prova: por favor, subam na árvore”.

Diante do homem, havia uma fila formada por um pássaro, um macaco, um elefante, um peixe num aquário, uma foca e um cachorro e, logo abaixo no cartão, uma frase de Albert Einstein: “Todo mundo é um gênio. Mas se você julgar um peixe por sua habilidade para subir numa árvore, ele viverá a vida inteira acreditando ser estúpido”.

Era o cartão de apresentação de um projeto chamado The Smart Parenting Revolution (a revolução parental inteligente) para ajudar os pais a reconhecer e desenvolver a habilidade natural de seus filhos.  Sorri e olhei de novo para o estrangeiro.

“Podemos conversar no intervalo? Tenho uma coluna semanal sobre família no site da revista...esqueci de falar isso”.

Família não era um dos temas do TED, cujo cardápio variado e muito atraente tampouco incluía crianças. Mas elas apareciam, toda hora, insistentes nas conversas. E não era por minha causa. Juro.

Do motorista de táxi ao estrangeiro ao meu lado, as pessoas que se aproximam de mim para conversar por mais de dez minutos terminam falando dos filhos.  O taxista, por exemplo, que trabalha das 16h às 4h das manhã, me dizia que faz questão de levantar junto com o filho de quatro anos, fazer o café da manhã dele, brincar e levá-lo para a escola. Depois ele dorme mais um pouco e acorda para retomar a rotina estressante no trânsito carioca. “Dona, não tem coisa melhor do que ficar com aquele moleque”, disse. Eu, calada.

Numa outra circunstância, eu entrevistava um ativista palestrante do TED. Ao final, quando perguntei se ele ia aproveitar mais um pouco o Rio, onde estava pela primeira vez, ele sorriu e se explicou. “Volto amanhã. Tenho um filho de dois anos e meio e...”, disse, sem precisar se estender no assunto.

Crianças estão por toda parte nos questionando, nos encantando, nos demandando. O dia delas é todo dia e não apenas 12 de outubro.

Precisamos zelar por elas o tempo todo, cuidar para que cresçam felizes, altruístas, curiosas. Elas não são o futuro, mas o presente. Requerem atenção já. E num mundo em que todos estão cada vez mais sem tempo, incluindo para a própria família, precisamos incentivar uma revolução de comportamento. E é isso que o estrangeiro de havaianas do meu lado se propõe a fazer.

O nome dele é Paul Sutherland, tem 59 anos, mas aparenta dez a menos.  Casado, cinco filhos, preside o FIM Group, empresa de gestão de recursos nos Estados Unidos; um estúdio de yoga, uma revista sobre bem-estar e espiritualidade e é fundador da Utopia Foundation, que financia projetos de empreendedorismo locais.

“Não dormir direito rejuvenesce a gente”, disse-me ele, bem-humorado.
“Eu sempre acreditei nisso”, respondi.

Com um caçula de 15 meses, Paul levanta todas as noites para atender o bebê, que ainda está sendo amamentado, porque a mulher é deficiente auditiva e tira o aparelho para dormir. A foto da família, da jovem esposa e dos cinco filhos, enfeita o protetor do iPad, que ele me mostra orgulhoso durante nossa conversa sobre filhos.

Há 30 anos, Paul se dedica profissionalmente a orientar seus clientes a conseguir uma boa aposentadoria e fazer bons investimentos. Mas o conselho que ele gosta mesmo de pregar e gratuitamente é “dê amor e atenção aos seus filhos”, ainda mais se forem pequenos. 

“A capacidade empreendedora de uma mulher vai depender da relação com o pai, e isso será forjado até os cinco anos”, diz Sutherland. Sua filha mais velha tem 23 anos. Com alguns livros de gestão de recursos publicados e dois livros de histórias infantis, ele brinca que tem um novo projeto para escrever sobre paternidade: Daddy does different (Papai faz diferente), sobre a mania que as mulheres têm de reclamar do jeito que os homens resolvem certas questões dos filhos. “Não tem problema!”, diz, sorrindo.

“Existem duas coisas que você pode gastar muito na vida: dinheiro e tempo.  E a mais preciosa dessas coisas é tempo.  É doando seu tempo que você vai dizer para seu filho ‘como eu poderia amar você mais?’".

O projeto Smart Parenting Revolution tem o objetivo de ajudar os pais que têm boas intenções mas não sabem exatamente o que fazer.  Ajuda a evitar críticas e preocupações desnecessárias. Tirou nota baixa numa matéria? Onde meu filho se sai melhor? O mantra da organização é encarar as crianças como solução e não como um amontoado de  problemas a serem resolvidos porque, para para fazer do mundo um lugar melhor, é preciso cuidar das crianças.

Nenhum comentário:

Postar um comentário