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sábado, 7 de março de 2015

Combine com ele

Conhece o fenômeno que faz as crianças chamar mamãe mesmo quando papai está na área?

ISABEL CLEMENTE

01/03/2015 

Muitas mulheres não escondem o orgulho em anotar no álbum de lembranças do filho que a primeira palavrinha dita por ele foi “mamãe”! Não sei qual é a surpresa. A gente repete isso todo santo dia e o dia todo, durante a licença-maternidade inteira. Continua depois em todos os momentos de contato com o filho e ainda sustenta isso durante um bom período naquela fase em que a gente fala igual ao Pelé.

“Mamãe vai te dar mamá!”

“Mamãe vai te dar um banho!”

“Mamãe te ama tanto!”, e diz isso afundando nariz e boca na bochecha do bebê.

“Mamãe vai dormir um pouquinho, e o bebê vai dormir para a mamãe descansar!”

“Mamãe fica tão feliz quando vê esse sorriso...”

“Mamãe precisa trabalhar.”

Isso para não dizer quando a gente insere o chamado em textos nada a ver, como no meio de uma cantiga:

“Boi, boi, boi. Boi da cara preta, pega esse bebê...Num pega nada que a mamãe não deixa, não é, bebê?”

Sem falar no reforço providencial vindo de nossos amados maridos.

“Pronto, agora mamãe vai ficar com você”, diz, antes de passar o bebê adiante.

Aí a criança cresce, outra nasce, a família aumenta e você percebe, de uma hora para a outra, que tem crianças no seu encalço treinadas para chamar “mamãe” em toda e qualquer ocasião.  O telefone toca, você está na rua e a criança pergunta “mamãe, eu posso ligar a televisão?”, com o pai a um metro e meio de distância.

Se forem dois, três ou até quatro filhos, em algum momento da vida te chamarão simultaneamente por motivos distintos e inclusive quando você não puder atender de jeito nenhum, quando estiver ocupada no banheiro, no telefone ou mastigando a primeira garfada da comida fria. A saída é combinar com ele, o cidadão responsável pela outra metade dos genes do seu filho. Avise ao marido que ele está autorizado a atender a criança quando ela gritar “mamãe, acabei!”. Principalmente se ele estiver passando na porta do banheiro no exato momento em que ouvir o chamado. Combine com ele que estão liberadas atividades de buscar a toalha, amarrar o sapato, encontrar um brinquedo, pegar uma colher, fazer suco, vitamina e banana amassada, mesmo que a criança insista em começar a frase com o vocativo “mãe”.

Diga para o marido que a criança chama “mamãe” por hábito, influência da TV ou um problema de fala ainda não diagnosticado pelo pediatra, porque, no fundo, ela ficará feliz em ser atendida por qualquer um dos dois. Ela não faz por mal nem demonstra uma predileção incontornável. É só mania. Criança tem um monte de manias.

Eu não sei o que acontece, mas, muitas vezes, a palavra “mamãe” no início da frase prejudica a audição do homem. Se Darwin estivesse vivo, ele faria algum estudo sobre seletividade auditiva, porque esse fenômeno faz com que o pai passe direto pela criança que acabou de pedir água, embora ele estivesse ao lado da geladeira.

O resultado é uma reação em cadeia. A criança chama, o pai não ouve, a mãe responde lá de dentro que não dá. A criança insiste em chamar a mãe, o pai continua não ouvindo, a mãe pede para parar, a criança grita, a mãe grita de volta, e depois grita para o pai limpar. O pai responde irritado que não sabe o que está acontecendo e tudo começou porque uma criança chamou “mamãe”. Sugiro que, com o tempo, a criança se acostume a chamar “alguém”. É mais democrático e aumenta a chance de ela ser atendida.

"Combine com ele" é uma crônica inédita do livro A pior mãe do mundo: uma biografia não autorizada de todos nós (5W), de Isabel Clemente, à venda nas principais livrarias do país e também nos sites das livrarias Travessa, Saraiva, Cultura e Amazon.

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