sábado, 7 de março de 2015

Você tem Plano B?

A maioria dos homens não tem. Por isso entra em pânico quando as coisas terminam

IVAN MARTINS
04/03/2015

Corre uma lenda por aí que homens sempre têm alguém na reserva quando o relacionamento deles vai para o brejo. Mentira. Plano B é coisa de gente organizada e a maioria dos homens é formada por improvisadores compulsivos. Olhe a pia da casa deles. Olhe a pilha de contas para pagar. Olhe a mesa de trabalho deles. Não, homens não têm Plano B. O que eles têm é pânico da solidão. Depois de três dias sozinho, passando a mão na cabeça do cachorro, entram em desespero. Arrumam outra mulher tão rapidamente que as pessoas deduzem que era coisa preparada de antemão. Não era.

A esta altura do século XXI, todo mundo sabe que o fim de um relacionamento exige luto, que engatar uma pessoa na outra é roubada, que o período de dor e solidão depois do rompimento nos amadurece como pessoas. Sim, claro, evidentemente. Mas quem aguenta? É muito ruim ficar sozinho quando sua vida interior parece a sala de espera de um dentista: tem meia dúzia de revistas, paredes brancas e uma recepcionista que ronca baixinho. Aquele vazio miserável. Para a maioria das pessoas, estar consigo mesmo é um inferno. Por isso piram depois da separação. Festas, álcool, drogas, sexo. Precisam de alguma coisa que as distraia do silêncio.

Acho por achar, sem evidência alguma, que os homens são mais precários que as mulheres nesse momento delicado. Além de ter não ter Plano B, eles não têm qualquer plano para a sua vida que não esteja ligado à ex-mulher. Frequentemente, não têm nem plano de saúde. Enquanto as mulheres separadas compram eletrodomésticos e alugam apartamento, os caras correm para a casa da mãe quando são emocionalmente despejados. Enquanto elas mergulham na solidariedade barulhenta das amigas, os caras se afundam no sofá da sala, sozinhos. Há um jeito de macho de sofrer, predominantemente em reclusão. Quando os homens saem com os manos, é aquela bebedeira de corno, aquele despautério, aquela esbórnia que termina com uma mulher sem nome e um fiasco circulatório. Queimação de filme e alegria zero.

Sim, eu sei, mulheres também fazem essas coisas. Mas na mesma proporção? Com a mesma falta de senso? Com as mesmas consequências detestáveis? Suponho que não. Mulheres tendem a cuidar melhor de si mesmas. São menos destrutivas.

A verdade para homens e mulheres é que ficar sozinho não tem glamour. Somos interessantes por causa dos outros, para os outros. Entregues a nós mesmos, entre quatro paredes, perdemos a graça e uma parte substancial da nossa pose. Definhamos vagarosamente. Nos dedicamos a ver séries banais que nos parecem sofisticadas, enchemos a pança de porcarias ou ficamos como bobos, na internet. Sempre vestidos de qualquer maneira. Ou alguém imagina que o George Clooney anda de smoking pela casa quando está deprimido?

Outro dia tive insônia, abri a janela às duas da manhã e dei de cara com uma mulher adulta pulando diante da TV, no prédio da frente. Parecia interagir com um videogame. Ela fazia movimentos coreografados, iluminada pela luz da tela. O espetáculo durou meia hora. Depois, ela apagou a luz e foi dormir, imagino. Eu, que me preparava para ler um livro, senti que era um ser humano superior. Serei? Suspeito que não. A insônia dela parecia mais divertida que a minha. Certamente era mais animada que a insônia dos marmanjos que entorpecem neurônios e ganham barriga vendo TV de madrugada.

Diante desse quadro melancólico, recomendo tolerância com os homens afobados. Eles sofrem de insuficiência afetiva grave. São carentes. Não sabem o que fazer com eles mesmos. Seu único plano – inconsciente – é achar outra mulher para ocupar o espaço daquela que foi embora. Por isso, às vezes metem os pés pelas mãos. Se apaixonam instantaneamente por gente que acabam de conhecer. Confundem simpatia com reciprocidade. Não notam sinais de que as pessoas são casadas ou indisponíveis. No afã de encher o vazio interior, podem encher o saco dos outros e tornar-se patéticos.

Mas essa é apenas uma forma de ver a situação.

A outra, mais simpática, é que esses caras representam uma oportunidade. Podem ser divertidos, para quem não espera alguém com todas as emoções no lugar. Podem ser intensos, para quem saiu de um relacionamento sonolento ou sente que a vida está aborrecida. Podem ser legais e virar bons amigos, depois que a urgência e o medo do futuro ficarem para trás. Com sorte, um deles pode vir a ser o homem da sua vida. Como eles não têm plano B e detestam ficar sozinhos, você pode tornar-se o Plano A. Começando agora, imediatamente, e pelo resto da vida. Ou não.


Nenhum comentário:

Postar um comentário