sábado, 11 de abril de 2015

Projeto 'Her | Self' revela em fotos o que as mulheres realmente veem quando olham para si mesmas




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As mulheres devem ser vistas e ouvidas - e uma nova série de retratos, que usa palavras e rostos de mulheres, faz questão de que isso aconteça.

Criada por Jennifer Bermon, a série "Her | Self" (Ela | Por Ela Mesma, em tradução livre) é uma galeria de 28 retratos preto e branco de mulheres de todas as esferas da vida, tiradas ao longo dos últimos 20 anos. Bermon, fotógrafa profissional e produtora de TV, pediu que as participantes escrevessem o que viam em suas próprias imagens e incluiu as respostas de cada uma delas logo abaixo dessas imagens. Os resultados são inegavelmente poderosos. "De que outro jeito poderíamos explorar a causa dos problemas de imagem corporal das mulheres do que ver e ouvir isso das próprias mulheres?", disse Bermon ao Huffington Post. "As fotos dão às pessoas uma visão sobre quem as mulheres realmente são e as histórias que elas querem contar sobre si mesmas."

Entre as mulheres em destaque na série de fotos estão uma roteirista vencedora do Oscar, uma bombeira de NYC, uma rabina de 74 anos de idade, uma cientista da NASA e uma remadora do time da escola. "Eu queria revelar seus pensamentos mais profundos - aquelas palavras que elas compartilhariam com outras mulheres em conversas privadas", escreveu Bermon em sua declaração apresentação de artista.

(A história continua abaixo.)
Bermon iniciou o projeto há 20 anos, quando ela era ainda um estudante na Mills College. Ela descreveu uma epifania que teve quando ouviu suas amigas falarem que elas não gostavam de si mesmas. "Para mim, elas pareciam perfeitas. Eu percebi que isto fazia parte de uma conversa normal do dia a dia", disse ela. "Será que elas ouviam o que elas diziam sobre si mesmas? Será que nós, como mulheres, ouvimos o que dizemos de nós mesmas? Existe algo na fotografia que congela tudo e nos dá tempo de ver bem as coisas. Fazer com que as mulheres usassem suas próprias palavras lhes deu uma voz."

Em vez de simplesmente ver as mulheres nestes retratos, a série permite que os espectadores saibam o que essas mulheres veem em si mesmas. "A foto delas e suas palavras tornam-se uma peça que vale por si só, sem edição e filtro," escreveu Bermon. "O espectador é primeiro atraído pela foto e depois pelas emoções reveladas nas palavras."

Bermon disse que muitas mulheres fotografadas por ela contaram que o processo para elas foi terapêutico. Falar sobre o que vemos em nós mesmos faz a gente se sentir bem, disse ela. "Quando eu tiro fotos de mulheres, eu espero capturá-las de uma forma simples e direta – do jeito que eu as vejo. Dessa forma, é quase que objetivo", disse Bermon ao HuffPost. "As fotos são um ponto de partida para que elas escrevam sobre o que estão pensando pois se trata de ouvir as mulheres."

"O projeto tem sido um trabalho de amor", disse Bermon." A melhor parte é que outras mulheres querem isso e eu quero fazer algo para abrir a discussão sobre o assunto."

"Her | Self” está atualmente em exposição na Galeria NJ, em Santa Monica, Califórnia, até o dia 04 de abril.

Confira mais imagens e transcrições da série "Her | Self" abaixo.

herself 1
"A única palavra que vem à mente é satisfação. Esta é a cara e a postura de alguém que se sente satisfeita e confortável com seu lugar na vida. Eu sou uma bombeira da cidade de Nova York, no Engine 58 - o melhor posto de bombeiros do mundo. Eu sou o resultado de muitas mãos que me moldaram na bombeira que sou hoje - especialmente o tenente Robert Nagel - meu herói, meu modelo. Um homem que encarava a vida e a morte de frente. Ele fazia o que falava. Ter o melhor emprego e viver na melhor cidade do mundo - isso explica por que estou sorrindo na foto. O sorriso pode não estar sempre no meu rosto, mas está sempre no meu coração."
herself 3
"Eu vejo uma mulher que tem perguntas. Tem algum problema em ser tão forte e inteligente como sou? E saber do que eu sei? Tornar-me uma mulher? Tem problema ser pequena, de outra etnia e ter mais de 40 em Hollywood? Minha barriga nesta foto me mantém com os pés no chão, eu pareço centrada. E ainda assim eu me pergunto: será que o meu bebê vai ser saudável? Será que vou destruir ele ou ela com todos os erros que cometerei? Vejo uma mulher que está a ponto de rir ou chorar, o que vier primeiro. Eu vejo uma menina esperançosa sempre, que sente falta do seu pai."
screenwriters
"É difícil eu me identificar com a minha imagem nas fotos. Eu atribuo isso a um hábito, de longa data, de observar mais do que participar. Esta foto foi tirada em 2007. Na época eu estava feliz, muito feliz, não me sentia assim desde o nascimento dos meus filhos: eu tinha conseguido, depois de oito anos de luta, que o nosso roteiro Brokeback Mountain fosse transformado em filme. Oliver e Amanda eram meus únicos companheiros e eles trouxeram vida para a minha casa, os meus primeiros cães em quase uma década, e foram um grande conforto para mim quando, no ano seguinte, Heath tragicamente faleceu e depois meu amado irmão mais velho, meu melhor amigo, que terminou a sua longa batalha contra o câncer. Desde esta foto, cinco outros cães órfãos se uniram à Ollie e Mandy; meu filho adotivo e a sobrinha Ashley; e Larry McMurtry e Faye. Minha casa hoje é muito, muito "viva". E eu percebo, olhando para esta foto, que tudo isso começou em 2007. E eu não ia querer que as coisas fossem nem um pouco diferentes..."
tattoos
"Aos 35 anos eu sinto que o meu lugar no mundo está cada vez mais claro e fácil. Eu tento ser prática e realista. Eu me sinto mais forte do que quando eu tinha 21 e achava que sabia de tudo. Meu corpo está decorado para celebrar a minha vida. A vida da minha filha que cresceu dentro de mim e a vida das minhas pessoas favoritas que me transformaram em quem eu sou. Vou pintar meu cabelo de azul ou usar batom brilhante, por que não, né? Se eu pudesse ser um exemplo, para qualquer um, de quem faz o que precisa para ser feliz então eu fico feliz. Eu tenho 1.60 metros, sou multirracial, filha, esposa, mãe, fotógrafa, entusiasta de crochê, dançarina e adoro café."
sailor
"Você sabe, o importante é o que está dentro de nós. Eu confiava em mim mesma e nos recursos das minhas companheiras para navegar ao redor do mundo duas vezes. Nós tínhamos apenas a nós mesmas na hora de enfrentar as tempestades e emergências no mar - e até agora nos saímos muito bem. Eu tenho praticamente morado no oceano nos últimos 12 anos e o meu veleiro Tethys, de 11.5 metros, tem sido o lar de muitas (67) mulheres nas nossas viagens. Eu mantenho a minha cabeça erguida e o meu olhar firme – tal qual na foto. Eu sou minha própria referência. Estou feliz. Aqui eu penso que você está olhando pra mim pronta pra embarcar na viagem do seu futuro como capitão da sua vida".
nasa scientist
"Esta foto mostra que eu sou uma pessoa feliz. Eu tenho muita sorte pois eu trabalho em algo que eu tenho verdadeira paixão, combinando missões na natureza e no espaço, estudando vulcões em luas distantes e como a geologia de mundos distantes foi formada, vendo paisagens alienígenas pela primeira vez ... será que existe algo mais emocionante do que isso? Talvez estar à beira de um lago de lava aqui na terra, sentindo o calor quase insuportável... Chegar onde eu cheguei na minha carreira não é fácil, mas foi muito divertido. Eu me sinto muito sortuda e satisfeita. Eu acho que o sucesso não é definido em onde na "escada do sucesso" você está, mas o quanto você avançou na vida. Eu cresci no Brasil, onde as meninas naquela época não cresciam para se tornarem exploradoras de vulcões ou serem cientistas da NASA. Eu perseverei e nunca deixei de lado o sonho. Pode ser que eu não me encaixe no estereótipo de uma cientista mulher. Eu adoro arte, arquitetura e moda. Eu posso dizer que me sinto tão confortável em botas de trilhas como vestindo um vestido de festa. Devemos ser fiéis a nós mesmas e respeitar a nossa própria individualidade e a dos outros."
dreads
"Eu me lembro que aos 5 anos de idade eu ouvi, em uma audição, o diretor de elenco dizer para minha mãe “Traga-a de volta depois que ela perder 5 quilos”. E de forma nenhuma eu era uma gordinha bonitinha, eu apenas não era tão ossuda como algumas das outras meninas lá. Mesmo assim, eu fui rejeitada, porque eu não me encaixava nos padrões. Eu senti que eu não era boa o suficiente. Isso é bem pesado considerando que eu estava no jardim de infância. Eu acho que foi aí que começou. Durante os 15 anos seguintes eu convivi com a ideia de que já que eu estava acima do peso, que eu não valia nada e nem era boa o suficiente, os meninos nunca poderiam gostar de mim porque eu não era como as outras meninas... etc. Isso é uma grande estupidez! Esta sociedade está matando qualquer indício de autoimagem positiva nas crianças. Não ensinam às meninas a se amarem como elas são, ao invés disso, elas são bombardeadas com imagens de meninas de 44 quilos com peitões ridículos como se isso fosse normal, e é assim que elas devem ser se alguém um dia for amá-las. É triste. Neste momento da minha vida, eu posso dizer que eu sou um estouro, não apenas porque eu sou mesmo, mas simplesmente por aceitar a minha grandeza, sem me preocupar com o que qualquer outra pessoa tem a dizer sobre isso. Ame-se por quem você é. Trabalhe duro para viver de acordo com seus próprios sonhos, em vez de um clip da MTV."
rabbi
"Eu gosto muito da minha foto. Acho que isso mostra alguém com vitalidade e boa vontade. Uma das vantagens de envelhecer é deixar de vaidade sobre o nosso corpo físico. O externo e superficial tornam-se menos atraentes quando a vida chega ao fim. Minha autoimagem foi criada em 74 anos. Fui uma criança muito amada e tive a sorte de ser bem sucedida na escola e entre os amigos. Onde eu foquei minha autoconfiança e energia mudou, é claro, ao longo dos anos. Ter me tornado mãe me deu um maior conhecimento sobre mim mesma e os outros. Me ensinou a amar mais os outros do que a mim mesma. Ter me tornado uma professora, uma ativista política e uma rabina deram expressão aos valores que eu defendo. Ter confiança para 'seguir em frente e fazer’ vem de um conhecimento básico de mim mesma. Eu gostaria de pensar que as experiências da minha vida me ajudaram a me tornar uma pessoa mais generosa, mais amável".
teen
"Eu vejo uma garota que está sempre se esforçando para ser melhor. Que sempre se esforça para ser aceita. Quando eu olho esta foto imediatamente eu critico a minha aparência, minhas coxas, meu rosto. Eu sempre tenho a mentalidade de que "isto ou aquilo poderia estar melhor”. Eu sou muito dura comigo mesma em todos os aspectos da vida. Olhando para esta foto eu percebo que vejo muitas falhas. Eu também vejo uma garota que tem conseguido muitas coisas na vida, mas nunca estará satisfeita. Sabendo disso, eu aprendi a lidar com os meus sentimentos de autoimagem".
woman with scarf
"Eu conheço essa mulher, mas eu quase nunca tenho tempo só de ficar olhando para ela, e muito menos apenas apreciá-la. Quando eu vi esta imagem, inicialmente eu me senti bem, como se eu estivesse vendo um velho amigo, mas quando me dei conta de que estava vendo a mim mesma, imediatamente eu me senti decepcionada com o meu cabelo, com as manchas na pele e o peso. Talvez eu raramente olhe para mim mesma, porque eu não gosto de me ver. Isso me deixa triste, que eu seja tão crítica de mim mesma, porque eu realmente não sou tão ruim assim. Eu sou especial. Há algo especial em mim e eu posso ver em meus próprios olhos. Eu posso ver a minha confiança, o meu calor, que vem da luta e do espírito amoroso dentro de mim. Eu quero a energia para brilhar primeiro (talvez eu tenha isso?). Gostaria de saber o que os outros veem quando olham para mim - o que eles veem em primeiro lugar? Mas essa não é a pergunta certa, não é? A pergunta é "o que eu posso fazer para ver o lado bom em mim mesma em primeiro lugar?"
lawyer mom
"Completamente apaixonada. Eufórica. Em paz. Ursula é incrivelmente linda. Eu queria que o meu filho e o meu marido estivessem na foto também. Isto também descreve como eu me sinto com eles. Isso não soa muito encorajador, mas eu nunca realmente me senti bonita, nem nunca fui muito gentil comigo mesma até conhecer o meu marido e me tornar mãe. O amor incondicional que eles me dão – é a primeira vez que eu sinto amor incondicional - me ensina a aprender a me amar incondicionalmente também. Embora, claro, eu ainda tenha desafios. Alguns dias eu me sinto em forma e bonita. Outros dias eu acho que eu estou gorda e pouco atraente. E então eu me lembro de Ursula, e como eu quero que ela ame a si mesma como mulher, no entanto, ela sempre será, e aí eu tento me amar de novo".
rower
"Faltam 500 metros e estamos próximos garotas, vamos arrebentar." A emoção que eu sinto quando me gritam estes comandos é indescritível. São momentos como estes que nos definem como pessoa. Se você der espaço a esse lugar escuro, ou esquecer da dor e continuar, a escolha é sua. Quando eu comecei a remar, eu chamava isso de esporte. No entanto, é muito mais e transformou-se na minha vida. Eu me vejo constantemente falando sobre isso, pensando e desejando isso. Alguns podem ver esta imagem de uma menina loira sorrindo, mas eu vejo uma garota que não vai parar até alcançar os seus objetivos. Serei eternamente grata pelas lições que o remo me ensinou e também a pessoa que eu sou hoje".

Brasil Post

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