terça-feira, 4 de agosto de 2015

'Divertida Mente' nos lembra que é possível treinar o cérebro para administrar as emoções

DIVERTIDAMENTE
Richard J. Davidson
Professor de psicologia e psiquiatria
30/07/2015
Se você pudesse observar sua própria personalidade, que emoção estaria no comando das outras na sala de controle da sua cabeça? Alegria? Medo? Desgosto? Raiva? Tristeza?
No novo filme da Pixar, "Divertida Mente", Alegria domina a cabeça da protagonista, uma menina de 11 anos chamada Riley. Essa emoção positiva - dublada pela atriz Amy Poehler - tem dificuldade de sair de cena quando outras emoções são mais adequadas para a situação, incluindo a hora de mudar para outra cidade e navegar o mundo da escola e dos amigos.
O papel das emoções em nossas vidas é o tema central das minhas pesquisas nos últimos 30 anos e motiva a busca pela resposta para a pergunta: por que algumas pessoas parecem mais resilientes aos obstáculos da vida? O que faz esse grupo mais resiliente superar melhor as adversidades?
Para começar a responder, observamos em laboratório como essas emoções agem no cérebro, com a ajuda de equipamentos como máquinas de ressonância magnética. Com o tempo, documentamos não só diferentes predisposições e estilos emocionais, mas também técnicas promissoras para ajudar adultos e crianças a alterar suas emoções, a fim de melhorar seu bem estar e diminuir o sofrimento.
Graças à neuroplasticidade, talvez a ideia mais influente das últimas décadas no campo da neurociência, sabemos que a estrutura e a função do cérebro mudam ao longo da vida, inclusive na vida adulta. Isso significa que é possível treinar o cérebro para gerenciar melhor quais emoções vêm à tona, e quando. Como você faz para deixar emoções como raiva e tristeza em segundo plano, abrindo espaço para mais alegria?
Alegria
Há uma compreensão neurocientífica cada vez maior da alegria e da felicidade, e uma das coisas importantes que sabemos hoje tem a ver com o que podemos chamar de "desfrute" - a capacidade de desfrutar de uma experiência positiva e permitir que ela permeie suas atividades e empreste seu brilho às interações do dia-a-dia. Descobrimos que, embora pessoas deprimidas tenham ativação normal dos circuitos cerebrais associados à alegria, ela é transitória e não persistente.
As pessoas que conseguem seguir ativando as regiões cerebrais críticas para emoções positivas, além de manter essa ativação ao longo do tempo, relatam níveis mais altos de bem estar e exibem níveis mais baixos de cortisol, o hormônio do estresse.
Uma maneira de cultivar a alegria e ativar essa região do cérebro envolve refletir sobre o que chamei de "bondade básica inata" - a propensão humana a desejar felicidade e de estar livre do sofrimento. Todos humanos compartilham dessa mesma qualidade básica, e a trazemos para primeiro plano em todas as nossas interações. Ela nos permite responder às pessoas à nossa volta de maneira a maximizar o bem estar delas e, consequentemente, o nosso.
Medo, Desgosto e Raiva
As bases neurocientíficas do medo, do desgosto e da raiva têm semelhanças e contam com duas coisas em comum: a amígdala e seu papel na recuperação. A amígdala é uma estrutura do cérebro que ativa o mecanismo de "luta ou fuga". Ela sinaliza para o resto do corpo quando algo está errado, seja um carro que se aproxima demais da calçada (medo) ou a mera ideia de uma pizza de brócolis (desgosto).
É normal e saudável ter respostas adequadas ao contexto - uma emoção adaptável a uma situação em particular --, mas idealmente essas emoções não vão estar presentes mais tempo que o necessário. Sabemos que a meditação pode ajudar a regular essas emoções. A prática ajuda a reduzir o sofrimento por antecipação em relação à dor e pode significar recuperação mais rápida depois de eventos negativos ou incertos.
A raiva, entretanto, representa riscos ainda maiores se estiver no comando. Pesquisas sugerem que a raiva é biologicamente tóxica e pode ter efeitos prejudiciais no sistema cardiovascular, aumentando o risco de ataques do coração. Em muitos casos, a raiva aparece quando nossos objetivos são frustrados. O desafio é domar a energia associada à raiva e encontrar maneiras de driblar o obstáculo, em vez de ficar batendo a cabeça nele.
Tristeza
Diferentemente da raiva, uma tristeza adequada às circunstâncias não é tóxica para o corpo. Mas, quando a tristeza está no comando por muito tempo, as pessoas podem desenvolver depressão. Para administrar a tristeza, há uma abordagem que pode parecer estranha à primeira vista -- generosidade. Circunstâncias trágicas nos entristecem. Ser capaz de ajudar os outros, aliviando o sofrimento alheio, ajuda o bem estar dos outros e o nosso, também. Também nos permite ver o mundo pelos olhos dos outros, entendendo que não temos o monopólio do sofrimento. A generosidade é um antídoto direto - neurocientificamente falando - para a tristeza e ativa circuitos cerebrais associados à alegria.
Quando encontramos no dia-a-dia pessoas que parecem enfrentar dificuldades, podemos fazer um exercício mental simples: entender que elas, como nós, dividem o mesmo desejo básico de se ver livres do sofrimento. Nesses momentos, podemos dizer uma frase simples para nós mesmos, como: "Que você esteja livre do sofrimento e de suas causas".
Além do exercício mental, descobertas recentes indicam que a atividade física pode ajudar a evitar a depressão. Além disso, exercícios aeróbicos são uma das melhores maneiras de aumentar a plasticidade cerebral. Se acompanhados dos inputs psicológicos positivos gerados pelos exercícios mentais descritos acima, a combinação pode ser particularmente eficaz.
Este artigo foi originalmente publicado pelo HuffPost USt e traduzido do inglês.

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