Os que usam as redes sociais para gritar contra a performance do coreógrafo fluminense Wagner Schwartz, que se despiu completamente para emular uma escultura da série Bichos, da artista plástica mineira Lygia Clark, e supostamente defender a menina que interagiu com ele ao tocar seu pé, não estão de fato preocupados com o bem-estar da garota. A opinião é da psicóloga Rosely Sayão, colunista de VEJA, que vê na reprodução de fotos e vídeos da performance realizada no MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo) uma ameaça à menina.
“O maior problema, no meu entender, e ninguém parece preocupado com isso, é que a garota está super-exposta”, diz Rosely. “Ela poderia ter passado por esse evento do MAM sem sobressalto, vê-lo como um episódio curioso e depois acabar se esquecendo dele, mas agora não vai poder esquecer.” O Ministério Público de São Paulo, que abriu inquérito, já solicitou ao YouTube e ao Facebook que retire o material do ar.
Especializada em assuntos de família, Rosely Sayão também se solidariza com a mãe, que participou da performance ao lado da menina. “Todo mundo está julgando essa mãe sem tentar entender por que ela deixou a filha participar da performance e que existem pessoas que pensam diferente no mundo, que cada um e cada família é de um jeito”, diz.
A mãe da menina, que interagiu com Wagner Schwartz ao lado da garota, tem 37 anos, também é coreógrafa e também realiza performances. La Bête, a performance de que mãe e filha tomaram parte em uma sessão fechada para convidados no MAM-SP, na abertura do 35º Panorama da Arte Brasileira na última terça-feira, não era, portanto, algo fora do normal para elas.
“Não vejo problema em a mãe levar a filha a participar”, diz Rosely. “A escolha é familiar, tudo depende da família. Há famílias que tratam o nu e a arte envolvendo o nu de maneira natural, e se comunicam com os filhos de uma forma que eles entendem.”
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU, vale lembrar, afirma em seu Artigo 26 que “os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos”.
“A nossa responsabilidade é evitar a exposição pública da garota”, frisa Rosely Sayão. “Os haters das redes sociais vão localizar a menina, vão falar qualquer coisa para ela e para a mãe. As pessoas não têm pudor”, alerta a psicóloga.
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