sábado, 26 de janeiro de 2019

#LeiaMulheres - Ousadas: Mulheres que só Fazem o que Querem

Quadrinho de Helô D’Angelo no livro Ousadas, Mulheres que Só Fazem o que Querem (Foto: Divulgação)

Livro da ilustradora francesa Pénélope Bagieu conta a história de mulheres notáveis em forma de HQ

22.01.2019 - POR STEPHANIE RIBEIRO
Será que esse livro é para mim? Essa foi a minha primeira impressão sobre Ousadas, Mulheres que Só Fazem o que Querem(ed. Nemo, 144 págs., R$ 46,12), de Pénélope Bagieu. Acho que tive um preconceito por se tratar uma narrativa em quadrinhos, e eu não estar muito acostumada com essa linguagem. Isso durou poucos meses: foi só conhecer e poder conversar com Alexandre de Maio, quadrinista da reportagem da Agência Pública sobre exploração sexual infantil na cidade de Fortaleza. Seu trabalho foi o primeiro exemplo que tive de quadrinhos sendo usados para denúncias à realidade de violência de gênero que nós, mulheres, somos vítimas, que minha perspectiva pessoal sobre quadrinhos mudou. #Maisquadrinhosporfavor… Nesse processo também conheci e me apaixonei pela brasileira Helô D’Angelo e seus quadrinhos que tratam a realidade do aborto a partir de quatro personagens.

Não existem só as narrativas de super-heróis. Existem inúmeras histórias que podem ser contadas usando outras linguagens, e fazer uso delas pode facilitar ainda mais que essas narrativas e pontos de vistas de popularizem. Ver debates de cunho feminista se apropriando disso tem importância exatamente por isso. Existem muitos públicos diferentes que podem ser tocados por uma narrativa que foge do convencional, sem perder sua responsabilidade com informar, denunciar e não se conformar.

Posso dizer que adentrar e ler mais sobre jornalismo em quadrinhos me preparou para Ousadas, Mulheres que Só Fazem o que Querem. Acredito que temos que estar abertas às novas narrativas sobre temas que consideramos essenciais, e, então, “numa sentada” que li esse livro fui surpreendida. A narrativa é fluída, engraçada e sagaz. Acredito que os quadrinhos dão essa possibilidade de se tratar temas pesados de uma forma mais serena, por isso, a curadoria das mulheres selecionadas por Pénélope Bagieu se encaixa de forma perfeita. Ela alterna histórias inspiradoras, desconhecidas, com finais tristes, com histórias de mulheres que já conhecíamos e achávamos que sabíamos tudo, mais trazendo para nós fatos surpreendentes e ilustrações lindas!

Quadrinhos do livro Ousadas, Mulheres que Só Fazem o que Querem (Foto: Reprodução)


As ilustrações são um ponto-chave desse trabalho, são incríveis e por si só já valem como motivo para indicar esse livro. Mas, como eu disse, li numa sentada pois comecei e não parei, fui fisgada pela curiosidade sobre histórias de muitas mulheres que eu não conhecia. Por mais que alguns nomes ali me fossem comuns, outros não. E aí que acho que a narrativa me prendeu, no Brasil já existe uma série de livros para elencar mulheres notáveis, que acabam caindo nos mesmos nomes, histórias e linguagem. Ousadas: Mulheres que Só Fazem o que Querem quebra isso de certa forma, ao trazer narrativas inspiradoras, mas não tão conhecidas do próprio radar feminista brasileiro.

As histórias são curtas, mais repletas de referências. Outro ponto é que o livro serve facilmente para qualquer público, dada a forma como foi construído. E por fim (só para dar um gostinho) ele destaca histórias como a de Nizinga, a rainha africana que superou todos os homens ao seu redor para assumir seu lugar de poder e, mesmo com idade avançada, continuou nos campos de batalha; das “Las Mariposas”, irmãs revolucionárias que se opuseram e lutaram contra a ditadura da República Dominicana; de Lozen, a guerreira indígena que lutou pelo seu povo e família; mulheres como Tove Jansson e sua incrível história pessoal por trás de sua criação os Moomins e, por fim, a que mais me tocou, a ativista Leymah Gbowee. Com mais de dez histórias reais de mulheres inspiradoras de diferentes países e com formas de atuar e superar os limites impostos pelo machismo de forma diferentes, essa é a minha primeira dica de leitura deste ano.
Fiquei apaixonada pelo trabalho de Pénélope Bagieu, a qualidade estética e a forma como a narrativa foi sendo escrita a transformam  em mais uma das ousadas do livro. É muito bom entender as mulheres que vieram antes e valorizar suas histórias, tanto quanto das criadoras atuais e suas habilidades fantásticas. Esse é um livro caixinha de surpresas.
 Ousadas, Mulheres que Só Fazem o que Querem (ed. Nemo, 144 págs., R$ 46,12) (Foto: Reprodução)

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