domingo, 6 de abril de 2014

Casa abrigo resgata vítimas da violência

O CIM Mulher foi criado em 1997 para tornar realidade um abrigo para mulheres vítimas de violência doméstica em Sorocaba. Com isso, naquele mesmo ano foi inaugurada a Casa Abrigo Valquíria Rocha, que oferece um espaço seguro para essas mulheres, sabendo que o agressor não voltará a ter contato com elas novamente. Segundo a diretora executiva, Cíntia de Almeida, a casa vem funcionando, desde então, de forma intensa, já que as agressões físicas, psicológicas e sexuais contra as mulheres ainda são uma realidade na cidade. Somente entre 2012 e 2013, o número de atendimentos da entidade aumentou 8%. "Em 2012 nós fizemos 8.720 atendimentos a mulheres vítimas de violência e em 2013 foram 9.540", revela Cíntia. 

No local, que conta com quartos, sala de televisão, cozinha e áreas de lazer para as crianças (que também são acolhidas junto a suas mães), essas vítimas passam por atendimento psicológico e de assistência social, para conseguirem reestruturar suas vidas depois da violência sofrida. Há também oficinas de artesanato para auxiliá-las a se inserirem no mercado de trabalho. 

Um fato que chama a atenção no CIM Mulher é que todas as mulheres que passam por lá receberam ameaças de morte. "Todas que estão aqui é porque correm risco de homicídio. Estão numa situação de violência extrema, que acontece dentro da relação homem e mulher. Geralmente elas são ameaçadas pelo parceiro, que devia amar e proteger", afirma a diretora executiva. 

Segundo a assistente social do CIM Mulher, Elisabete Pires Lima, o atendimento psicológico e social representa a ferramenta primordial para ajudar essas mulheres a enfrentar melhor a situação. "Pois é aí que elas começam o seu fortalecimento emocional, para conseguirem cortar esse ciclo de violência." 

"Tive medo de morrer" 

Roberta, de 20 anos (o nome é fictício, para não identificá-la), por pouco não entrou para as estatísticas do IBGE como uma das vítimas de mortes violentas. No início de março, ela foi agredida violentamente por seu parceiro, com quem vivia há três anos e que representava a sua única família em Sorocaba, já que eles saíram de Pernambuco para ter uma vida melhor por aqui. 

A jovem ainda traz as marcas da agressão em seu corpo, que não a deixam esquecer da covardia praticada por quem costumava dizer que a amava. Roberta lembra que tinha bebido um pouco demais em uma noite e quando chegou em casa, foi recebida, ainda no portão, pelo olhar furioso de seu companheiro. "Eu não lembro de muita coisa, só lembro que eu pedia para ele parar de me bater", diz. Ele a acusava de ter se "insinuado" para o sobrinho dele. "Fiquei desmaiada na calçada e alguns vizinhos me ajudaram", lembra. Ela recebeu diversos chutes pelo corpo, fazendo com que seu maxilar se deslocasse e tivesse sangramento no abdome. 

Logo depois do ato de crueldade, ela foi levada à casa abrigo do CIM Mulher, porém a assistente social relata que não havia condições de abrigá-la por conta das condições de saúde, tendo então sido encaminhada ao Pronto-Socorro da Santa Casa. Ela ficou internada por 12 dias, até que teve alta e pode passar pelo atendimento social e psicológico da entidade. "Eu quase morri e tive muitos pensamentos ruins no hospital. Mas essa casa me mostrou que podemos cuidar de nossas vidas novamente. Agora eu quero tirar meus dois filhos que estão com ele (o agressor) e dar a volta por cima, vivendo minha vida com meus filhos." 

Sobre a agressão sofrida, com lágrimas nos olhos Roberta afirma que nunca irá esquecer e espera que o companheiro, que ela já amou e hoje considera como um "monstro", consiga perceber a "monstruosidade" que ele cometeu. (A.M.)

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