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quinta-feira, 15 de novembro de 2018

"Tudo o que nunca contei" e as relações familiares

por Clarissa Wolff — publicado 25/08/2018

Celeste Ng fala de imigrantes, família, e sonhos frustrados
Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes são infelizes cada uma a sua maneira. Roubo Tolstói e as primeiras linhas que ele escreveu em Anna Karenina para começar esse texto. Tudo o que nunca contei, de Celeste Ng, é sobre essa região nebulosa entre as famílias que são felizes e as que não são, e fala justamente sobre aquelas que querem a todo custo ser e não conseguem.

É também uma história sobre sonhos frustrados pela visita cruel do tempo, roubando aqui o título da obra-prima de Jennifer Egan. Roubo da literatura porque é difícil definir um tema só para Tudo o que nunca contei: de forma fácil, ele é suspense, quer nos prender às páginas tentando descobrir o que aconteceu com a menina Lydia, mas esse é só o papel de presente. É rasgando o papel brilhoso que entramos nas profundidades de uma história triste e densa sobre fazer coisas erradas pelos motivos certos, um tema tão universal da literatura.
tudooquenuncacontei
TUDO O QUE NUNCA CONTEI, Celeste Ng
Tradução de Julia Sobral Campos
Intrínseca, 2017
304 páginas
R$44,90

Acompanhamos Marilyn na ansiedade de finalmente ter a coragem para buscar a vida que sempre quis. Mulher, família tradicional americana, todas as peças do seu quebra-cabeça pessoal formavam uma imagem a que ela não queria corresponder.
Sabemos que sua ambição é frustrada desde o começo, não entendemos por quê. E esse amor tão lindo de mãe, essa ambição transmitida para a filha, esse compromisso em fazer da filha feliz como ela mesma nunca poderia ser - cada uma dessas boas intenções foi um prego no caixão que enterrou a menina.
O pai, peça central na história, é imigrante. Junot Díaz escreve sobre a dualidade de ser imigrante jovem nos Estados Unidos e a vida sem pátria: o retorno ao lugar em que nasceu o leva a uma cultura distante a que ele não pertence, mas a existência no país em que vive deixa de fora peças necessárias de sua construção.
Em Tudo o que nunca contei, cada um desses sentimentos de não pertencimento é elaborado em uma teia de preconceito racial. Quando ele penetra Marilyn pela primeira vez, ela que é a imagem perfeita dos Estados Unidos, sente (finalmente) a aprovação que ansiou a vida inteira: “Era como se a própria América o recebesse dentro de si”.  
Tudo o que nunca contei é assim, de uma narrativa simples, gostosa, com algumas poucas frases de efeito, como essa descrita acima. Merece o tempo, a reflexão, e o questionamento sobre o quanto as nossas intenções, na verdade, não valem absolutamente nada.

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