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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Qual é a maré da sua vida?

"A vida vem igual onda alta. Te dá um caldo. Você sai rolando. Engolindo água sem respirar. Levanta. Disfarça e arruma o biquíni que está no pescoço. "

Por Mônica El Bayeh
  (Foto: Duda Menezes)
(Foto: Duda Menezes)
A vida vem igual onda alta. Te dá um caldo. Você sai rolando. Engolindo água sem respirar. Levanta. Disfarça e arruma o biquíni que está no pescoço. Ajeita o cabelo, todo desgrenhado e a cara de louca. Se refaz minimamente. E sai como se nada tivesse acontecido.
Não é assim?Vida é em frente. Não tem outro jeito. A gente ajeita da forma que dá. E segue. Vai reclamar com quem? Com o mar? Não adianta reclamar com o mar, nem com ninguém.

Deu mole, caiu? Reage rápido e segue. Tombo tomado é tombo aprendido. Bola para frente para não perder tempo de praia.
Isso é independência. Saber que, independente do que vier, estamos aí. Vamos cair levantar, ajeitar e seguir. O contrário disso? É a morte.
A criatura começa a desfiar o rosário. Tudo é dificuldade. Você, na ingenuidade, aponta possibilidades. Fácil dar muitas e ótimas saídas. No dos outros, tudo sempre é muito mais fácil. Mas a criatura vai lacrando uma a uma todas as portas que você tenta abrir. O final da conversa? Você irritada, exausta. A criatura com a mesma cara de bunda. Só olhar as impossibilidades? Cruzes!
Quando tudo é nada. Nada tem saída. Que vida é essa? Sabe aquela máxima de: ¨Liberdade é uma calça velha desbotada¨? Não é. O nome disso é moda. Liberdade é outra coisa. Liberdade é irmã da independência. É se permitir avaliar, ver se está bom, se pode melhorar. Pensar se o que está instaurado é mesmo o que interessa.
Para sempre é provisório. E pode sempre recomeçar. É preciso refazer ligações e articulações. Mudar muito e várias vezes. E saber que se nada disso der certo, você sacode a poeira do tombo, passa cuspe no machucado e segue.
Independência é o que? O que preciso ter para provar que sou independente? Trabalho, filhos, carro? Trabalho para provar que tenho condições de me sustentar? Posso me sustentar e não ser independente. Independência é dentro. É capacidade interna de sobreviver.
Posso ter filhos e continuar sendo infantil. Ter filhos não me tira automaticamente do status criança. Subo degraus? Só se tiver maturidade para tanto. Se sou mãe, ou pai, já não me sento confortavelmente na cadeira de filho? Muitos permanecem bebês e, pior, rivalizam com seus filhos. Não garante nada.
Ter carro ou moto? O carro me dá completa mobilidade. Me leva a qualquer lugar. Às vezes o carro leva e eu quase não consigo chegar aonde queria. Não há vagas. Chego em quinze minutos. Passo mais trinta dando voltas atrás de uma vaga. Carro garante mobilidade externa. A mobilidade interna quem me dá? Só eu mesma em minha busca por ser uma pessoa melhor.
Canso de ver adultos reclamando de pai, de mãe. Um discurso oco numa lama grudenta e sem fim. Ali não tem independência. Independência implica em gratidão. Reconhecer que recebeu. Mesmo que não tenha sido tudo o que gostaria, recebeu. Agora a bola está com você. Porque aquelas pessoas já fizeram a parte delas. O que podiam, do jeito que deu. Você que se vire. Se virar é independência.
Sou independente em minha capacidade de brotar. Ir além do básico. Estar inteira no que sou. Mesmo ligada ao outro, sou independente. Liberdade é a parceria de dois inteiros.Quando sou meio e me junto com outro meio, isso dá menos que um inteiro. O outro é dependente de mim. Fico presa a ele também. Relação de dois escravos presos por qualquer outra coisa que não o amor. Amor independe. Amor liberta, não escraviza. Amor é parceria. Primeiro eu comigo mesma. Depois com o outro. E a vida no meio.
A relação saudável é a relação onde as pessoas são livres, independentes. Não estão por necessidade. Claro que necessidade a gente tem. Se gosto de você, você me faz falta. Mas sei que sem você eu também seria feliz. Isso é a independência. A noção de que a vida me poda. Sofro, mas posso me refazer, recomeçar. Como uma planta eu murcho, mas aguarde! Eu sei brotar.

perfil Mônica El Bayeh - blog da Ruth (Foto: ÉPOCA)

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