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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

O inimigo mora ao lado, mas não deveria

por Gisele Pereira — publicado 23/08/2017
Romper com a ideia fixa de que existe apenas um tipo de família é crucial para combatermos de forma efetiva a onda de ódio e fundamentalismo que se espalha pelo mundo.
Pixabay
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Sacralizar um modelo único familiar e de vivência do afeto e sexualidade coloca as pessoas que não se enquadram neste modelo expostas à violência
Refletimos hoje sobre uma ideia que se apresenta aos nossos olhos como trivial e inofensiva: o modelo de “família”. Não as famílias reais, mas o modelo específico de família apregoado pelo discurso religioso conservador como “natural”, “correto” e “único”.

O “culto” ao patriarcado e o sacrifício cotidiano das mulheres

por Gisele Pereira — publicado 09/08/2017
Silenciar, em nome de uma moral religiosa, diante de feminicídios como o de Mayara Amaral é ser cúmplice da violência
Arquivo
Mayara Amaral
Mayara Amaral, vítima do patriarcado
Mais uma foi tirada de nós… Seu nome era Mayara Amaral, jovem musicista brutalmente assassinada em 26 de julho em Campo Grande (MS) por três homens. O patriarcado matou Mayara.

O início da vida é uma concepção cultural

por Gisele Pereira — publicado 30/08/2017
Carta Capital

Mas há quem ignore este fato. Basta ver o adendo na PEC 181, em tramitação no Congresso, que torna o crime de estupro menos grave do que um aborto
Tocar na problemática do início da vida sem dúvida é uma das tarefas mais complexas. Passássemos toda a existência, não só a nossa em particular, mas de toda a humanidade, utilizássemos todo o desenvolvimento científico, os aparatos tecnológicos para nos dedicar a essa questão, ainda assim não chegaríamos a uma conclusão consensual a respeito do momento em que a vida humana se inicia.

módulo | As famílias em suas configurações contemporâneas

curadoria | Maria Aglaé Tedesco Vilardo

Módulo gravado no mês de agosto de 2017:
Nas múltiplas configurações das famílias na contemporaneidade é relevante a consciência do papel e responsabilidades exercidos em relações permeadas por intenso desequilíbrio de gênero. Afastar conceitos vistos como naturais exige questionamento dos padrões atuais em uma sociedade na qual a mulher é vista como cuidadora e o homem como provedor.


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palestra gravada em 4/8 | sex | 19h
As configurações familiares e a violência simbólica de gênero
com Maria Aglaé Tedesco Vilardo, juíza
A relação de gêneros no universo da família contemporânea, que abrange discriminação e violência simbólica, física e moral, nos obriga à reflexão seguida de ação, com modificação de procedimentos arraigados pela repetição e atitudes positivas para divisão de responsabilidades parentais e conjugais.

palestra gravada em 11/8 | sex | 19h
A violência contra a mulher no âmbito familiar
com Adriana Mello, juíza
A violência doméstica contra a mulher ganhou visibilidade, mas apesar de ser crime e grave violação de direitos humanos, segue vitimando milhares de brasileiras, pois 38,72% das mulheres em situação de violência sofrem agressões diariamente.

palestra gravada em 18/8 | sex | 19h
Sexualidade nas diferentes configurações familiares
com Maria Cristina Werner, psicóloga
No cenário contemporâneo, a morte do modelo familiar hegemônico fez surgir uma miríade de arranjos familiares possíveis, cada um com regras de funcionamento próprios. Os aspectos familiares que mais se modificaram foram as expressões dos afetos e da sexualidade dentro das relações conjugais e familiares.

palestra gravada em 25/8 | sex | 19h
A criança na família brasileira e a discriminação racial e social
com Ivone Ferreira Caetano, desembargadora
Há um conceito histórico na criação dos filhos no brasil apresentado de acordo com as classes sociais, especialmente dos excluídos, tendo em vista os segmentos étnicos e sociais, levando em consideração os grupos brancos, negros e indígenas. as transformações e sedimentações da personalidade na infância dependerão do ambiente familiar e social no qual as crianças transitarem.

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módulo | o tempo da infância e a infância de nossos tempos

curadoria | julieta jerusalinsky

módulo gravado no mês de junho de 2017:
A infância frequentemente é idealizada como um momento idílico da vida e a criança como alguém cujo único compromisso seria com o gozo de viver. Mas, a infância – ao caracterizar-se pelo crescimento, maturação desenvolvimento e constituição psíquica – implica um intenso trabalho da criança para situar-se e construir o seu vir a ser diante do outro familiar, escolar e social.
Daí que, mesmo com todas as legislações que protegem a infância, deparemos com o fato de que as crianças, tais como a infantaria de um exército, estão expostas na linha de frente dos impasses produzidos pela cultura e sociedade de cada época, diante dos quais elas tentam produzir respostas, se ocupando e se preocupando com aquilo que as cerca. Por isso é relevante escutarmos as respostas que as crianças têm produzido diante dos ideais e sintomas sociais de nossos tempos.
Vivemos tempos da virtualidade das relações. A web e a internet que, por um lado possibilitaram uma democratização do acesso à informação, também têm sido instrumento da sociedade pós-fática, na qual os acontecimentos que permeiam as notícias importam menos pelo seu compromisso com a verdade do que com o escândalo que causam; se por um lado possibilitam trocas simbólicas com aqueles que geograficamente estão longe, ao mesmo tempo, incrementam os dispositivos da sociedade de controle, de formações narcísicas do “parecer” e nos linchamentos virtuais produzidos nas redes sociais em uma gangorra entre a fama e a difamação; se por um lado permitem sustentar relações, por outro são instrumentos da supressão de bordas entre o público e o privado e entre o tempo de trabalho e de lazer, já que a exigência de estar permanentemente on-line traz como consequência um convívio no qual as pessoas passam a estar de corpo presente, mas, muitas vezes, psiquicamente ausentes, olhando cada um para sua janela virtual. Isso tem desencadeado intoxicações eletrônicas em pequenas crianças que ficam capturadas nas telas de seus gadgets eletrônicos, em lugar de entrarem em relação com os outros. Crianças um pouco maiores, por sua vez, passam a ter acesso a conhecimento supostamente pleno ao alcance de um clic no Dr. Google, mas, frequentemente carecem de ter com quem compartilhar as experiências para produzir um saber-viver singular.
Diante das transformações familiares, tais como uma menor estabilidade do laço conjugal, as crianças passam a circular entre casais separados com guarda compartilhada e famílias compostas por novos casamentos em que os filhos de cada um dos pais passam a ter o lugar de irmãos adquiridos tardiamente. A definição de família deixa de ser a composta pela prole de um casal heterossexual e passa a ser estabelecida por casais gays, com prole adotiva ou composta a partir de técnicas de fecundação. No entanto se bem isso produza a necessidade de elaboração psíquica por parte das crianças, bem sabemos que o tradicionalismo familiar nunca foi garantia de saúde psíquica e torna-se central colocar em relevo a maternidade e a paternidade como exercício de funções que pode ser realizada por diferentes agentes, assim como garantir os direitos sociais dos membros que pertencem a famílias com diversas configurações.
A polarização nos posicionamentos políticos tem sido vivida na atualidade, não como uma discussão necessária ao exercício da cidadania, mas atuada como rivalidade. Curioso resulta que, simultaneamente a isso, nas histórias infantis contemporâneas se suavizem tanto as manifestações do mal. Desde personagens como o lobo mau até musicas infantis ganham versões tais como “não atire o pau no gato” apresentando sua cínica faceta do politicamente correto, enquanto a realidade parece ser lida em um total maniqueísmo e vividas em uma total intolerância com o diferente. Desse modo deixam de se oferecer para as crianças os elementos simbólicos que lhe permitem alguma elaboração, enquanto uma crueldade cada vez mais deslavada parece impor-se diante de perdas de direitos humanos com crianças refugiadas, imigrantes ou filhos de minorias, tais como sociedades indígenas.
Estas questões colocam em relevo a importância de que seja possível às crianças terem acesso a narrativas que historizem as experiências de gerações anteriores, recuperando-as, não de modo idealizado, mas como testemunho de possibilidades e impasses vividos em outros tempos, considerando que os desafios de cada geração não são equivalentes aos da anterior, mas que justamente por isso tornam necessária uma transmissão com lugar à invenção.

02/06 | sex | 19h
Intoxicações eletrônicas na primeira infância
com Julieta Jerusalinsky, psicanalista
A virtualidade traz o ganho da dissociação do corpo. Mas como considerar esta dissociação em um tempo em que ainda o bebê não produziu tal apropriação? Abordaremos os impasses apresentados na constituição dos bebês e das pequenas crianças diante do modo de relação produzido na era virtual.



09/06 | sex | 19h
Infância e memória
com Antônio Prata, cientista social e escritor
A infância deixa marcas indeléveis a partir das quais cada um se torna quem é. Apesar de que muitas delas caiam na amnésia infantil, continuam vividas em nós. Fazer o exercício de recordar ajuda-nos a elaborar. Transmitir o vivido como uma experiência não idealizada à geração seguinte é decisivo para não condena-la a repetir.



23/06 | sex | 19h (a palestra não aconteceu e está reagendada para 12 setembro)
Infância e novas configurações familiares
com Maria Rita Kehl, psicanalista e escritora
As configurações familiares passam por transformações ao longo de cada época, exigindo modificações de sua inscrição jurídica. As famílias tentaculares da atualidade produzem novas questões às crianças que devem ser escutados considerando, ao mesmo tempo, que o tradicionalismo parental nunca foi garantia de saúde psíquica.


30/06 | sex | 19h
Infância e política
com Ilana Katz, psicanalista
O lugar que as crianças ocupam na cidade é uma experiência política que elas fazem na condição de participantes do laço social, sofrendo os efeitos do lugar simbólico que lhes é reservado, do tempo em que vivem e das formas e modos de laços dispostos em seu circuito social. E é sob este contexto que se tecerá sua subjetividade e sua participação na polis.



terça-feira, 29 de agosto de 2017

Laís Bodanzky: ‘O formato tradicional de família oprime a mulher’


Diretora do ‘Como Nossos Pais’ falou a VEJA sobre o novo longa, família, feminismo e cinema

Nas imagens dirigidas por Laís Bodanzky, muitas mulheres já foram protagonistas. A jogadora Fernanda, no curta-metragem Cartão Vermelho, por exemplo, representava uma resistência para entrar em um campo machista – o do futebol – no longínquo 1994. Elas também foram destaque no documentário Mulheres Olímpicas, de 2013.

Em Como Nossos Pais, filme que acaba de vencer o Festival de Gramado e estreia nesta quinta-feira nos cinemas, a diretora põe em cena Rosa, uma escritora que quer ser dramaturga, mas deixa suas ambições para ser perfeita aos olhos da mãe, das filhas e do marido, até que uma notícia chega para mudar as coisas. Frustração e questionamento são sentimentos que atingem a personagem – e também a muitas mulheres no mundo –, enquanto tenta se encaixar em padrões ultrapassados de uma perspectiva moderna.
Maria Ribeiro (como Rosa), Clarisse Abujamra, Paulo Vilhena, Felipe Rocha, Jorge Mautner, Herson Capri, Sophia Valverde e Annalara Prates estão no elenco da produção, já muito bem recebida no início do ano pela plateia do Festival Internacional de Cinema de Berlim e depois vencedora do prêmio de público no Festival de Cinema Brasileiro de Paris.
Assim como as vitórias e aplausos, as expectativas para o longa-metragem são grandes. Laís diz que inscreveu a obra para indicação nacional ao Oscar 2018. “Nunca tive um filme com tanta possibilidade de dialogar fora do Brasil”, apostou a diretora, que já embala uma nova produção. Em parceria com Portugal, um filme sobre Dom Pedro I terá a participação do Cauã Reymond.
Confira a entrevista da cineasta a VEJA e assista a uma cena de Como Nossos Pais:
Na sua opinião, o modelo tradicional de família se esgotou? Eu acho que sim. Mas isso não significa que a gente mude isso facilmente. O processo de mudança é complexo. Até porque não existe o modelo perfeito. Não combina mais na sociedade de hoje, em que, por exemplo, a gente compreende que é necessário uma sociedade ser igualitária e ter os direitos das minorias também sempre contemplados. O formato de família não corresponde a essa diversidade e oprime a mulher, principalmente. A mulher hoje está vinte passos à frente desse formato tradicional porque a sociedade foi formatada para que essa estrutura familiar funcione muito bem para o homem. Para a mulher, nem tanto. Pode até funcionar. Eu não acho que a família não deva existir, acho que não precisa ser o único formato considerado correto, e qualquer coisa fora disso vista como anomalia. Nesse sentido, acho que (o modelo tradicional de família) tem os dias contados, mas não que isso vá acontecer amanhã.
A opressão de gênero muitas vezes está na própria mulher que não é solidaria a outra mulher. E agora essa solidariedade está brotando
Laís Bodanzky
Você falou uma vez que, como cineasta, sabia que não contaria muitas histórias e por isso precisaria escolher muito bem quais contar. Por que a de Rosa? Claro que não sou tão racional quando escolho uma história. Os temas de alguma forma me emocionam, e fico com desejo de falar sobre aquele assunto. Eu já estava com muita vontade de falar sobre a minha geração. Talvez um pouco provocada pelas brincadeiras que muita gente fazia sobre eu já ter feito um filme sobre a terceira idade, que é o Chega de Saudade, e outro sobre adolescência, As Melhores Coisas do Mundo. Foi uma brincadeira que me fez refletir bastante. Ser mulher hoje, no caso da minha geração, é um momento sanduíche em que os meus pais estão vivos e os filhos já existem, e os papéis ficam misturados. Fui vendo o quanto o tema é sério, importante e totalmente contemporâneo, e percebi que o desejo de falar da minha geração do ponto de vista da mulher não era só meu, mas de tantas outras mulheres – não apenas cineastas. O tema é pauta na sociedade hoje. Existem reivindicações não só no Brasil, mas no mundo. A marcha das mulheres que teve em Washington, por exemplo, o que foi aquilo? Que surpresa! Ou seja, todas as mulheres estão querendo olhar umas para as outras e perceber que, sim, nós somos metade do planeta.
Rosa, a personagem principal do filme interpretada por Maria Ribeiro, começa a questionar muito a vida dela. A crise por que passa é algo que atinge todas as mulheres em algum momento? Eu acho que sim. Esse questionamento não pertence só à mulher, pertence aos homens, também. É um questionamento natural porque na vida, principalmente quando você forma uma família, você assume compromissos que vão além do seu próprio desejo e começa a viver muitas vezes para corresponder ao imaginário do que é essa família que todo mundo diz que é o padrão. Além disso você começa a acumular funções e, no caso da mulher, a tendência é acumular ainda mais sem nem se dar conta. Talvez esse questionamento que a Rosa faz sobre a vida dela é o que faz o filme universal. Ele está reverberando lá fora de um jeito que, para mim, ficou claro o quanto o tema não é local. Tenho notado que ele é um filme contemporâneo e que propõe debates deliciosos.
No caso da Rosa, a troca entre gerações acontece principalmente com a meia-irmã mais nova. Sim. Essa irmã veio para chacoalhar. E eu sinto que esse diálogo entre mulheres é o que está acontecendo hoje. Tem essa frase que com certeza você já viu, que é “Mexeu com uma, mexeu com todas”. Essa frase, para mim, simboliza uma novidade na história da humanidade, na história das mulheres, porque essa solidariedade é recente. A sociedade foi formatada de tal jeito que a mulher cresce achando que tem que seguir a trilha dela sozinha, e não esticando a mão para a outra que está do lado. Isso torna a vida mais cruel. Essa opressão de gênero muitas vezes está na própria mulher que não é solidaria a outra mulher. E agora essa solidariedade está brotando em pequenas coisas do dia a dia que eu acho que faz toda diferença. Eu até sinto, falando apenas enquanto Laís mulher, que está muito mais gostoso ser mulher hoje do que há cinco anos. E posso dizer mais: está mais gostoso ser mulher hoje do que há seis meses, do que na semana passada.
Como foi trabalhar com a Maria Ribeiro? Eu defino a Maria como uma mulher com tons, meio destemida. Mas um destemido não como se ela soubesse onde tudo aquilo vai dar. Destemido no sentido de “Eu posso mudar essa história, correndo riscos”. Mudar a história não significa que ela vai melhorar. Mas, a partir do momento em que a gente faz um diagnóstico e as coisas não estão bem, temos que fazer um movimento de mudança. Só que dá muito medo mudar. Poucas pessoas têm esse ímpeto e eu acho que a Maria tem, e que a Rosa tinha que ter também. Fiz esse convite para a Maria emprestar eu ímpeto para a protagonista, o que eu acho que ela fez.
E Jorge Mautner? Como é que surgiu a ideia da participação dele? Eu queria que Rosa fosse de uma família de intelectuais que viveu a contracultura, que viveu um momento fértil de criação e tivesse experimentando coisas pela primeira vez. Uma geração Woodstock que também experimentou formas de viver fora do padrão. E o Mautner faz parte dessa geração, ele é um livre pensador. Assisti sem querer ao documentário do Bial sobre ele, que é interessantíssimo, e tem um momento lindo dele com a Amora, sua filha. Ela conta coisas da infância e como via o Mautner naquele momento. Não que tudo que eles falem ali seja fácil de falar e fácil de ouvir, porém, havia muito amor, e eu queria isso na relação da Rosa com o Pai. Então o Mautner ficou como uma referência, apesar de o personagem do filme ser um perdedor e tudo que o Mautner faz dá certo (risos).
Ele topou de imediato? Sim. A gente conversou e eu expliquei a forma de trabalhar. Ele estava muito preocupado se tinha que decorar texto. Eu falei que ele podia mexer no diálogo e emprestar alguns dos seus pensamentos que tivessem a ver com as cenas. Então, algumas das frases do filme são do próprio Mautner.
Na sua opinião, a visão de fora do país sobre o cinema brasileiro mudou desde que você rodou o mundo com O Bicho de Sete CabeçasMudou muito. Na época do Bicho, era mesmo o filme do terceiro mundo – uma expressão que a gente nem usa mais, ficou velha. Naquele momento, ele vinha com este carimbo, quando não era “o resto do mundo”. Nesses 17 anos, isso mudou. Mostramos quem somos com a nossa cultura, através da música… Das várias expressões artísticas, e o cinema é muito importante para contribuir para esse imaginário. O Brasil também é a violência, também é a favela, também é o Carnaval. E lá fora as pessoas sempre ficavam um pouco “Ah, filme brasileiro que não fala sobre esses temas? Não deve ser bom”. E o Como o Nossos Pais não é um filme dentro do imaginário do que é Brasil. Conta a história de uma mulher que poderia estar em Berlim ou em qualquer canto do mundo. É uma história universal, e eles receberam sem preconceito. Nós tememos hoje uma política cinematográfica muito sólida através da Ancine (Agência Nacional do Cinema) que fez o nosso cinema amadurecer, e hoje as pessoas olham para cá com curiosidade sobre o que está acontecendo com o nosso cinema.
Aumentou o movimento de mulheres dentro do audiovisual brasileiro? Aumentou. Eu acho que mulheres sempre fizeram parte do audiovisual. Mas no lugar do discurso, que é na escrita do roteiro e na direção, ainda é uma participação muito pequena e desproporcional. Eu acho que com essa tomada de consciência da mulher na sociedade como um todo, as mulheres estão se sentindo mais encorajadas a assumir o discurso e a questionar: por que não têm projetos de mulheres sendo contemplados? Não só reivindicar, como também entender onde é que rolou o filtro. Porque em algum momento existe um filtro. Onde esse filtro aconteceu e como é que a gente faz para mudar? Com isso, novas mulheres estão surgindo nesse espaço importante do discurso.

Veja

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Tim Vickery: Limitar mulheres à maternidade é desperdiçar 50% ou mais do nosso potencial

'Sinto saudade de ser criança': em uma década, gravidez de meninas de 10 a 14 anos não diminui no Brasil