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sexta-feira, 24 de agosto de 2012


Por que jovens de classe média caem no crime?

Para a psicóloga Vera Blondina, esses criminosos são inteligentes, mas incapazes de sentir culpa
Marielly Campos noticias@band.com.br


Na última sexta-feira a polícia de São Paulo prendeu Guilherme Chu, de 27 anos. Filho de um empresário chinês de classe média, Guilherme tem boas condições financeiras, fala quatro línguas – português, inglês, chinês e espanhol - e já fez cursos na área de aviação comercial. 

No entanto, ele é suspeito de chefiar pelo menos três quadrilhas, entre elas a chamada “Gangue dos Playboys”, formada por jovens de classe média que orquestravam sequestros-relâmpagos nas regiões sul e oeste da capital paulista. Segundo as investigações, os criminosos usavam o dinheiro do roubo para comprar roupas de marca e promover festas. 

Para a psicóloga Vera Blondina, professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e coordenadora do CRIA e do Ambulatório de Saúde Mental/CRIA, assim como Guilherme e a Gangue dos Playboys, diversas pessoas em condições financeiras parecidas estão seguindo o mesmo caminho. “Estamos vendo isso quase como um fenômeno. Além das boas condições financeiras, muitos deles são de famílias organizadas, estruturadas”, explica. 

Transtorno de personalidade 

A especialista afirma ainda que jovens como ele se iniciam no crime para tentar uma vida mais fácil, sem esforço e nem os sacrifícios de se construir algo. Além disso, em geral, esses criminosos “são pessoas centradas no próprio umbigo. Essa conduta significa um transtorno de personalidade. Eles têm dificuldades de se colocar no lugar do outro, não sentem culpa. Conhecem a lei, mas a fazem da forma que querem”, explica Vera. 

A psicóloga acredita ainda que – exceto em casos de patologias mais graves, como de adolescentes que matam, situações de esquizofrenias ou psicóticas – casos como o de Guilherme, que ela classifica como sociais, estão ligados à falta de valores e a problemas na educação. “Há uma falha da família. Muitas delas vivem uma situação em que têm que trabalhar muito para manter um padrão de vida, um status, e acabam deixando de lado a educação dos filhos”, diz. 

Segundo Vera, muitos pais se esforçam para pagar escolas caras para os filhos, mas deixam na mão da instituição todo o papel de educar. “Só que a escola não dá conta. Tem que ser algo em conjunto, com a família e escola”, ressalta.

Valores 

“Há uma confusão nos valores. Os pais fazem de tudo para não frustrarem seus filhos, não os deixarem tristes, ensinam a ideia de que tudo pode. Isso se reverteu também em uma confusão de não introduzir na educação certos valores como limite, respeito ao próximo, a ideia de não se pode conseguir tudo na hora que se quer”, entre outros, exemplifica ainda.

Além disso, há a sensação de impunidade. “A própria falha do Judiciário, da polícia. Isso só reforça o crime em todas as instâncias. A impunidade leva a pessoa a não se controlar, porque acredita que nada vai acontecer”, diz Vera. 

Por fim, ela acredita que não temos uma sociedade que cuida das crianças e dos adolescentes. “É comum vermos situações de uma criança jogar um lixo na rua, por exemplo, e ninguém falar nada. As pessoas pensam ‘não é meu filho’ e não se intrometem. É uma situação de solidão”, diz.

“Está muito difícil para as famílias pois têm a pressão do mundo moderno, de muita cobrança. Não dá para generalizar e dizer que é tudo a mesma patologia. Mas esse pode ser o começo e, na adolescência, essas coisas se agravam porque não têm contenção nem familiar, nem social”, finaliza a especialista.

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