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terça-feira, 25 de outubro de 2016

Com ‘O Apartamento’, Farhadi volta a orquestrar avalanche de dilemas morais

DIEGO OLIVARES · OUTUBRO 23, 2016
Poucos autores do cinema contemporâneo têm a capacidade de colocar na tela questões tão complexas como o iraniano Ashgar Farhadi. Sua obra mais conhecida A Separação (2011), venceu Oscar, Urso de Ouro em Berlim e dezenas de outros prêmios ao se debruçar sobre um casal dividido entre mudar para outro país para dar uma vida melhor à filha ou ficar na terra natal em função de um parente doente.
Era um dilema familiar, mas que também esbarrava em uma série de convenções sociais e comportamentais típicos de um país tão rígido nestes assuntos como o Irã.
Em O Apartamento, Farhadi volta a colocar a mão em um vespeiro, talvez ainda mais perigoso. Novamente um casal está no centro da trama: Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidootsi), ambos atores em preparação para uma montagem de A Morte de um Caixeiro Viajante, peça escrita por Arthur Miller.
Os dois são obrigados a sair de casa e procurar um novo lugar para morar, após uma obra ao lado do antigo prédio colocar toda a região sob risco de desabamento – e é interessante como em nenhum momento o filme levanta a possibilidade do problema ser levado a alguma autoridade oficial, parecendo dizer que, por lá, os cidadãos estão à sua própria sorte.
Mas o nó vem mesmo em seguida. Seguindo a indicação de um amigo, o casal se muda para um apartamento aparentemente abandonado às pressas pela antiga moradora, que nem tirou todas os seus pertences de lá. Sem opção dada a urgência da situação, eles aceitam, até que numa noite Rana é vítima de um ato de violência, do qual sai com traumas e hematomas, mas sem lembrar de detalhes.
Começa aí um angustiante emaranhado de decisões complicadas sobre como lidar com o acontecimento. Emad não sabe como acolher a esposa fragilizada, que por sua vez não quer passar pelo constrangimento de ter que contar tudo à polícia e ser assim, inevitavelmente, vítima de julgamentos morais.
O marido parte então em busca do criminoso, numa trajetória bastante parecida com a do personagem do argentino Leonardo Sbaraglia no recente O Silêncio do Céu, de Marco Dutra, outro filme que parte de uma violência brutal para uma investigação sobre a reação masculina diante do fato.
O que poderia ser uma trama sobre vingança sofre uma reviravolta quando o culpado é revelado, jogando mais um conflito nas mãos da dupla de protagonistas, e por consequência nas mãos também do público, que inevitavelmente é instigado a pensar como agiria diante daquilo, sem a facilidade de uma resposta pronta oferecida pelo filme.
Com seu ambiente pesado e clima de suspense psicológico, representado por cenas angustiantes como a do incidente que move a trama, onde quase tudo é habilmente escondido, O Apartamento mereceu o prêmio de melhor roteiro de Festival em Cannes, de onde saiu também com o troféu de ator para Shahab Hosseini.

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