Implementar um plano para acabar com a desigualdade no mundo corporativo, além de promover uma mudança significativa na sociedade como um todo, também é bastante positivo para os negócios.
Conheça os WEPs e confira se a sua empresa já é signatária da iniciativa.
Do Pacto Global
04.05.2017
Em 20 de abril, o Insper, em São Paulo, recebeu o Fórum WEPs, promovido pela Rede Brasil do Pacto Global e a ONU Mulheres para discutir com representantes do setor privado o papel das empresas em defender o empoderamento das mulheres. Além de ser um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que regem a Agenda 2030, a igualdade de gênero está refletida nas metas de outros 12 ODS em áreas como educação e saúde. Durante o evento – que contou com a participação de 200 pessoas, que lotaram o auditório da instituição -, ficou claro que implementar um plano para acabar com a desigualdade no mundo corporativo, além de promover uma mudança significativa na sociedade como um todo, também é bastante positivo para os negócios.
“Uma pesquisa recente da McKinsey Global Institute mostrou que o avanço das mulheres no mercado de trabalho pode adicionar até US$ 12 trilhões ao PIB mundial até 2025”, revelou a representante do ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman. Em seguida, ela alertou que nenhum país pode ser orgulhar de já ter alcançado a equiparação salarial e que 95% dos CEOs das empresas ainda são homens. “A gente sabe, mas não faz e, no atual ritmo de progresso, a igualdade de gênero no trabalho não será atingida antes de 2095. Temos que acelerar o passo”. Segundo Nadine, a cultura organizacional de uma empresa influencia seu quadro de funcionários, sua cadeia de valor e as comunidades onde opera, sendo imprescindível o envolvimento do setor privado, onde estão 80% dos empregos e os maiores recursos financeiros.
A secretária executiva da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, Beatriz Martins Carneiro (foto abaixo), ressaltou que as mulheres estão subaproveitadas no poder e na tomada de decisões, recebem salários desiguais por trabalho equivalente e ainda sofrem diversos tipos de violência e discriminação. Também fazem 2,5 vezes mais trabalhos não remunerados. Ela ainda destacou a importância de medir, documentar e publicar os progressos conquistados, um dos sete WEPs, os Princípios do Empoderamento Feminino na sigla em inglês. “Ao fazer isso, as empresas dão luz a essa questão, conseguem visualizar as desigualdades e se tornam mais preparadas para enfrentar os desafios da promoção da igualdade”, disse.
O evento contou com a participação da jornalista Alexandra Loras (foto abaixo), ex-consulesa da França em São Paulo que, de forma direta, falou não só da mulher no mundo corporativo, como dos afrodescendentes no mercado de trabalho. “Não podemos ter apenas gotinhas de diversidade”, alertou. Para ela, é necessário “enxergar o monstro no espelho”, ou seja, aceitar que o preconceito existe no país e que precisa ser combatido, para deixar de desperdiçar talentos. “Hoje eu tenho essa oportunidade de falar na frente de formadores de opinião, pessoas que decidem qual vai ser o futuro da nossa sociedade, e vocês têm a chance de fazer parte dessa mudança, têm o privilégio de reequilibrar as coisas, de nos dar dignidade e respeito”, disse.
O racismo institucional, termo cunhado na década de 1960, mereceu um painel à parte, moderado pela gerente de Programas da ONU Mulheres Brasil, Ana Carolina Querino (foto abaixo). Ela levantou um ponto importante: o desafio de algumas mulheres é ainda maior em função da discriminação também pela cor da pele, deficiência física ou por fugirem do arquétipo heteronormativo. “É só a partir desses questionamentos que a gente pode pensar em respostas que funcionem para todas as pessoas”, defendeu. A coordenadora executiva do Geledés Instituto da Mulher Negra, Nilza Iraci, ajudou a criar instrumentos para mapear o racismo dentro de instituições. “Somos um país racista, e reconhecer a existência disso foi fundamental para que a gente pudesse trabalhar na construção dessa ferramenta”, explica. “Esse tema é desconfortável para negros e brancos, então o processo de sensibilização é essencial”, finalizou Cida Bento, psicóloga social e coordenadora executiva do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert).
Também foram apresentados estudos diversos sobre o empoderamento das mulheres. Doutora em Psicologia Social e professora da Fundação Getúlio Vargas, Maria José Tonelli resumiu a história do feminismo no Brasil. “Pessoalmente, acho que as empresas estão fazendo um trabalho interessante de inclusão, mas precisamos lembrar que aqui no Brasil lidamos com questões de democracia e de desigualdade que permeiam também a luta das mulheres”, finalizou. Regina Madalozzo, economista e professora associada do Insper, abordou o mercado de trabalho feminino a partir de experimentos que demonstravam como os estereótipos de gênero nascem e são alimentados. “Precisamos aprender a lidar com o outro”, analisou. “Em um mundo no qual estamos tão acostumados a pensar igual, a ler apenas notícias que nos agradam, a seguir pessoas com quem concordamos e nem escutar quem pensa diferente, é realmente muito desconfortável lidar com diversidade”, completou.
Valores discriminatórios - Cientista político e professor de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Gustavo Venturi apresentou os resultados da pesquisa para o documentário “Precisamos Falar com os Homens?”, iniciativa do ONU Mulheres, do site Papo de Homem e do grupo O Boticário. Ele chamou a atenção para alguns dados nada animadores, como o de que mais de um quarto da amostragem considera que há pouca ou nenhuma desigualdade de gênero. Enquanto isso, o feminismo ainda é mal visto por 40% dos entrevistados. O estudo também apontou que 12% não acreditam na existência do machismo e 21% concordam que homens são melhores do que mulheres no mesmo cargo (número similar à preferência por homens em postos de comando). “Os indicadores revelam o quão presente estão no imaginário da sociedade brasileira valores discriminatórios”, concluiu.
Já no final, Anna Gollub, analista política da ONU Mulheres, apresentou o programa de alto impacto para o empoderamento econômico de mulheres. “Temos que trabalhar juntos para criar mais recursos e usá-los da melhor forma”, disse. “Mulheres estão usando o nosso programa para atuarem como líderes, o que fortalece o nosso trabalho como parceiros, mas sem perder o foco principal, que é conquistar direitos iguais”, acrescentou. Para terminar, mais duas empresas se comprometeram a promover o empoderamento das mulheres: a Deloitte Brasil, representada pela sócia Cláudia Baggio, e a Merck no Brasil, cujo presidente Guilherme Maradei também subiu ao palco para assinar o acordo.
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