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sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Atleticanas criticam clube em 'caso Robinho': "escolha pelo agressor"

por Tory Oliveira* — publicado 06/12/2017
Grupo de torcedoras feministas protesta contra silêncio do Atlético Mineiro e do mundo futebolístico em casos envolvendo violência sexual
Reprodução/Facebook
Protesto feminista contra o Atlético Mineiro
Para as torcedoras, os clubes precisam, urgentemente, realizar ações concretas para combater esse tipo de comportamento dos seus atletas
"Um condenado por estupro jogando no Galo é uma violência contra todas as mulheres", lê-se na faixa estendida em frente da sede do Atlético Mineiro.
O protesto, realizado por um grupo de torcedoras feministas do time de Minas Gerais na última terça-feira 5, é contra o silêncio sepulcral do clube diante da condenação pela justiça italiana, em primeira instância, do atacante Robinho pelo estupro coletivo de uma mulher albanesa em 2013. Pelo crime, o jogador recebeu a sentença de nove anos de prisão. 
"O que nos levou a organizar esse protesto foi justamente o silêncio do clube diante da condenação de um atleta do seu plantel", declarou, em entrevista a CartaCapital, o coletivo feminista de torcedoras do Atlético responsável pelo protesto em Belo Horizonte.

A tramitação do processo judicial contra o atleta ainda não se esgotou, mas, na visão do coletivo, a posição omissa da diretoria do clube revela a "escolha pelo lado do agressor", isto é, um apoio velado àquele que recebeu a condenação. 
Além disso, a suposta neutralidade do clube acaba por favorecer o jogador, que, inclusive, recebeu mensagens de apoio de muitos torcedores. "Tal postura do time apenas reitera um comportamento da sociedade que tende a ignorar casos de violência de gênero, sobretudo, aquelas que envolvem personalidades", contam. 
"Algumas pessoas podem não gostar de futebol, mas são incapazes de ignorá-lo, por isso é fundamental que o ambiente esportivo também lute contra o machismo e as demais opressões", criticam. 
O caso
O atacante de 33 anos responde na justiça italiana pela participação no estupro coletivo de uma mulher de nacionalidade albanesa em uma casa noturna em Milão em 2013. A condenação em primeira instância foi dada pela nona seção da corte de Milão, que o sentenciou a nove anos de prisão. O crime aconteceu quando Robinho jogava pelo Milan e teria envolvido outros cinco brasileiros.
Segundo a decisão do tribunal, Robinho e os demais participantes abusaram da jovem após oferecerem bebidas alcoólicas, fazendo com que a albanesa ficasse inconsciente e, portanto, incapaz de resistir às agressões sexuais. Para a justiça italiana, os acusados "abusaram das condições de inferioridade psíquica e física da vítima". 
No entanto, como Robinho é brasileiro nato e está no País, dificilmente cumprirá a pena a que foi sentenciado. Além de poder recorrer em outras duas instâncias na justiça da Itália, o jogador não pode ser extraditado, de acordo com a legislação brasileira. 
Para as torcedoras, a violência contra a mulher é um problema público e estrutural em sociedades patriarcais como a brasileira. Assim, os clubes deveriam assumir a responsabilidade e pautar a luta contra essa violência. 
"Esse não é o primeiro caso de violência de gênero envolvendo jogadores, visto essa recorrência, os clubes, pensando sua responsabilidade social, precisam, urgentemente, realizar ações concretas para atuar no combate a esse tipo de comportamento dos seus atletas", ressaltam. 
Após expurgos em Hollywood, o silêncio ainda impera no futebol 
Protesto de torcedoras contra o Atlético Mineiro
Para as manifestantes, inúmeros casos de machismo, racismo e homofobia são silenciados dentro e fora do ambiente esportivo
Nos últimos meses, muitas celebridades caíram em desgraça após uma onda de denúncias contra o assédio e a violência sexual romper o muro de silêncio que, via de regra, culpabilizava as vítimas e permitia aos abusadores a impunidade.
Um dos executivos mais poderosos de Hollywood, o produtor Harvey Weinstein assediou atrizes e outras profissionais sistematicamente por mais de 30 anos até ser denunciado por 20 mulheres em 2017. Ele foi excluído do conselho do Oscar, premiação que venceu 81 vezes, e virou persona non grata no meio.
Acusado de abuso sexual pelo ator Anthony Rapp, o também vencedor do Oscar e protagonista da série House of Cards, Kevin Spacey, teve sua participação cancelada pelo Netflix e também foi mandado para a geladeira.
No Brasil, o debate sobre a cultura do estupro também foi insuflado após casos chocantes como o estupro coletivo de uma adolescente no Rio de Janeiro, em 2016. 
No mundo do futebol, porém, o silêncio impera quando o assunto é machismo, homofobia e outros preconceitos. Em especial, quando as denúncias atingem personalidades com o status de ídolos (como o próprio Robinho) e são proferidas por mulheres. 
Um rápido olhar pelos comentários em outra reportagem sobre o protesto, publicada no portal Globoesporte, revela a dimensão da falta de reflexão sobre a cultura do estupro, o assédio e a violência de gênero no futebol. Grande parte das manifestações de leitores desqualificava a iniciativa e dedicava-se a criticar as feministas e até mesmo a questionavam a mulher vítima do estupro coletivo. 
"A mina tava na balada, com a cara cheia de cachaça, deu pra geral e depois vem com esse mimimi de que foi estuprada. Bando de mimizentas", dizia um deles. Outro classificava o protesto como "bobagem" e descrevia outras atividades que a mulher deveria exercer como lavar a louça e "colocar cerveja pra gelar pros maridos". Por fim, outro desdenhava: "Feministas do Galo, só faltava essa. Vão ver vôlei". 
"É exatamente por existir pessoas que pensam ser normal a violência contra a mulher que nós lutamos e nos posicionamos", afirmam as atleticanas, acrescentando que a postura da imprensa e de muitas figuras públicas corroboram e fazem coro a esse tipo de discurso. 
"Inúmeros casos de machismo, racismo e homofobia são violentamente silenciados dentro e fora do ambiente esportivo. O futebol reflete as contradições da sociedade e ainda é um lugar de conforto para homens que estão vendo os movimentos feministas avançando e conquistando representatividade em diferentes ambientes, inclusive naqueles que eram predominantemente masculinos". 
Entre as ações sugeridas por elas para mitigar o machismo e a conivência com a violência sexual no futebol, estão a promoção da discussão sobre o tema com todos os atletas, desde a categoria de base, de forma educativa. Além disso, medidas concretas como o afastamento imediato do atleta até a finalização do caso na justiça seriam bem-vindas, assim como o debate mais amplo sobre a participação feminina no futebol. 
Segundo elas, as mulheres podem até ser "valorizadas" como musas nos times, mas são excluídas de espaços como a arbitragem, os conselhos diretivos e o jornalismo, além enfrentarem resistência na própria arquibancada dos estádios.  Assim, seria importante que os clubes investissem em profissionais envolvidas com o esporte e no próprio futebol feminino, via de regra escanteado pelas diretorias e pelo público.
"É necessário também que as torcidas se unam e exijam um basta para esse silêncio tão ensurdecedor diante dos vários casos de violência contra a mulher. A agressão física é a face mais visível do machismo, mas consiste em apenas uma das várias formas de violência", concluem. 
*Colaborou Miguel Martins 

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