Premiada com o Goncourt, Nobel da literatura francesa, a escritora franco-marroquina Leila Slimani conversou sobre o livro "Canção de Ninar", em encontro gratuito e aberto ao público no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo
31.07.2018 | POR REDAÇÃO MARIE CLAIRE
Autora do romance mais vendido da Festa Literária de Paraty(Flip) neste ano e uma das estrelas da programação, a escritora franco-marroquina Leila Slimani veio a São Paulo para um debate nesta segunda (30/7), no Instituto Tomie Ohtake, discutir o polêmico e premiado, Canção de Ninar (ed. Planeta, 192 págs., R$ 42), livro no qual a babá de um casal burguês mata as duas crianças que deveria proteger.
No encontro promovido por Marie Claire e editora Planeta, Leila explicou que seu objetivo ao longo da obra foi desvendar os motivos que levaram a babá a um ato tão extremo. "A Louise é uma pessoa que foi machucada internamento até o momento em que não aguentou mais a humilhação e a miséria", considerou.
Para ela, há uma violência implícita na relação entre a empregada e os patrões. "Uma coisa que quis mostrar no romance é a hipocrisia entre eles. Ao mesmo tempo em que a babá tem uma relação íntima com a família -- ela cuida das pequenas mazelas do cotidiano, como quando as crianças estão doentes --, há um certo limite de proximidade com ela, um distanciamento", disse. "Quando se vive numa solidão extrema você se torna potencialmente em alguém perigoso".
Para ela, há uma violência implícita na relação entre a empregada e os patrões. "Uma coisa que quis mostrar no romance é a hipocrisia entre eles. Ao mesmo tempo em que a babá tem uma relação íntima com a família -- ela cuida das pequenas mazelas do cotidiano, como quando as crianças estão doentes --, há um certo limite de proximidade com ela, um distanciamento", disse. "Quando se vive numa solidão extrema você se torna potencialmente em alguém perigoso".
Outro ponto que chama a atenção na obra é o fato de a babá ser francesa e a mãe das crianças, uma imigrante do norte da África que mora em Paris. "Eu quis virar esse discurso do avesso porque, geralmente, a babá é a estrangeira", destacou. "A ideia de que os imigrantes não podem se tornar pessoas bem-sucedidas não faz sentido."
A polêmica obra, que vendeu mais de 600.000 exemplares só na França, deixou muita gente chocada com a temática. Mas ela disse não se incomodar com a reação, por vezes, crítica de alguns leitores. "A literatura não tem o papel de dar desculpas pra nada, nem pra ninguém, mas tentar entender que, inclusive, cada monstro tem as suas razões."
No debate, Leila contou que a escolha do tema não foi aleatória. Quando decidiu se tornar escritora, ela passou a entrevistar babás para cuidar de seu filho mais velho, enquanto se dedicava à escrita. Foi na conversa com uma das candidatas que ela se deu conta da violência sofrida por aquelas mulheres.
"Uma filipina me disse que tinha um filho de 19 anos, mas não o via há uma década. Percebi que estava contratando uma mulher para cuidar do meu, enquanto ela não tinha a oportunidade de cuidar do dela", afirmou.
O debate realizado em São Paulo teve o apoio do Instituto Tomie Ohtake, Embaixada da França no Brasil e Institut Français do Brasil, Flip e Grupo Mulheres do Brasil. Para assistir a conversa completa, acesse o vídeo no Facebook.
"Uma filipina me disse que tinha um filho de 19 anos, mas não o via há uma década. Percebi que estava contratando uma mulher para cuidar do meu, enquanto ela não tinha a oportunidade de cuidar do dela", afirmou.
O debate realizado em São Paulo teve o apoio do Instituto Tomie Ohtake, Embaixada da França no Brasil e Institut Français do Brasil, Flip e Grupo Mulheres do Brasil. Para assistir a conversa completa, acesse o vídeo no Facebook.
LEILA SLIMANI
A escritora nasceu no Marrocos, mas se mudou para a França aos 17 anos, onde se formou em ciência política e estudos midiáticos, atuou como jornalista em publicações como a revista Jeune Afrique. Ela participou ainda de coberturas como a primavera árabe, na Tunísia, em 2011.
Em 2014, Leila lançou seu primeiro livro, No Jardim do Ogro, romance premiado no Marrocos que será lançado no Brasil em 2019, pelo selo Tusquets, da editora Planeta. Em 2016, publicou Canção de Ninar, obra que, no mesmo ano, lhe deu o Goncourt, um dos mais importantes prêmios literários do mundo. Então com 35 anos, Leila foi a mais jovem escritora e 12ª mulher a receber a homenagem, que premiou 102 homens desde sua criação, em 1903. O livro a tornou a escritora mais lida na França e foi traduzido para 18 línguas.
Seu mais recente trabalho, Sexo e Mentiras: A Vida Sexual no Marrocos, é um livro-reportagem lançado em 2017 que reúne depoimentos de mulheres e homens expondo as contradições da sociedade marroquina no que diz respeito à liberdade sexual.
No ano passado, Leila foi convidada pelo presidente da França, Emmanuel Macron, para ser sua representante pessoal para a francofonia.
Como convidada da Festa Literária de Paraty, Leila participou de uma mesa batizada de Interdito, em 27 de julho, ao lado do escritor André Aciman.
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