Nina Lemos
07/08/2020
Há muito tempo a vida não era tão dura para as mulheres do Brasil. A pandemia do Coronavírus piorou o que já era difícil. Muitas mulheres, cerca de 20 milhões, que são mães solteiras. No momento, elas têm medo de se contaminar (quem vai cuidar de seus filhos?) e equilibram as dificuldades de trabalhar, cuidar da casa e dos filhos. Em muitos casos, o problema é alimentar os filhos mesmo, já que mais da metade delas vive em condições de pobreza.
Há um mês, o presidente Jair Bolsonaro vetou um projeto que facilitaria a vida dessas mulheres. O projeto faria com que as mães tivessem prioridade na hora de receber o auxílio emergencial dedicado à mães solteiras. A ideia era que elas ganhassem o dinheiro (R$1.200) mesmo se os dados de seus filhos batessem com outras aplicações.
A explicação: muitos pais que não cuidam dos filhos nem moram com eles aplicaram para o benefício usando o nome dos filhos deixando as mães (e os filhos) na mão, já que muitas tiveram o auxílio negado. Ou seja, "roubaram" o dinheiro dos próprios filhos. Bonito, não? Sim, claro, existem pais solteiros também, apesar de minoria, o projeto previa que esses pais também tivessem direito ao auxílio de RS 1.2000. Mais que justo.
Bem, o presidente vetou. E o que a ministra Damares Alves ( responsável pela pasta Mulher, Família e Direitos Humanos) resolveu fazer nesse cenário? Conversar com o presidente para que ele mude de ideia? Tentar ajudar essas mulheres com novos auxílios? Tentar garantir que elas e seus filhos não passem fome?
Bem, no momento, Damares está planejando lançar uma cartilha para "fortalecer o casamento" e, segundo a assessoria do governo, estreitar os laços familiares.
Que casamento, Ministra? Isso não é uma realidade para todas as mulheres! Só entre as mães, 36% são solteiras. O número aumenta nas periferias e nas áreas mais pobres do país. Segundo dados do IBGE, 59% dessas mães vivem na linha da pobreza. Como canta Emicida: " a mãe assume, o pai some."
E tem mais. Esses dados são de antes da pandemia. Imagina como está a situação agora? Como estão as empregadas domésticas, manicures, faxineiras e todas profissões não registradas feita majoritariamente por mulheres? São pessoas que precisam de ajuda urgente.
Nada contra a família, ministra, muito pelo contrário. Aliás, esses lares formados por mulheres e seus filhos são famílias também.
Nada contra o casamento, claro (mas quando ele é saudável, né?). Mas outro problema que a pandemia acentuou foi a violência contra a mulher. As denúncias ao 0800 tiveram aumento de 40%. Como disse a infectologista Ivete Boulos, coordenadora do Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual do Hospital das Clínicas de SP, a situação de muitas mulheres é a seguinte: "se sair o vírus pega, se ficar o marido mata."
Talvez a Ministra ache que é hora de marido e mulher estreitar a união, conversarem. Ok. Mas abuso e violência são coisas que não se resolvem tão fácil, muito menos em meio a uma pandemia mundial. E, no caso de uma mulher que sofre violência, o melhor (óbvio) é que ela se separe mesmo.
E isso não é ser contra o família não, Ministra. Isso é ser em defesa da vida. Uma mulher que sofre violência e continua na relação corre um risco de ser assassinada pelo companheiro.
A família brasileira (essas mulheres que correm risco tem pais, irmãos, filhos) precisa, sim, de muita ajuda. Mas o casamento pode esperar, não? Inclusive porque não estamos nos anos 50.
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