É desesperador o tamanho do desconhecimento que impera em nossa sociedade sobre o termo. Temos inúmeros pós-doutores no assunto, e pasmem, inúmeras pós-doutoras; elas e eles estão sentados nos bancos da praça, no boteco da esquina, na fila do supermercado, nos bancos das universidades, doutorandos, na fila do cinema, assinando blogs de grande alcance, em meio a grupos de apoio à mulher... Sim, o desconhecimento existe e ele mata.
Ser feminista, além de não ser crime, também não é pecado! Muitas vezes, já ouvi sendo pregado por alguns seguidores de religiões as mais variadas que ser feminista é ser pecadora. Distanciando a feminista da mulher virtuosa, feminina, pura de coração e temente a Deus. Basta! Jesus Cristo não era machista, preconceituoso, não incitava a violência. Prefiro acreditar que referidas pregações não sejam por convicção, mas apenas por desconhecimento. Daí a necessidade de contarmos ao mundo, especialmente para aqueles que se mantem na zona de desconhecimento, aqueles que tem o dom da palavra, que tem os ouvidos ou olhos alheios atentos às suas falas e escritas, que ser feminista é lutar pela equidade, é lutar pela vida, pela não violência, pela igualdade dentro das desigualdades do gênero.
Feminismo é um conjunto de movimentos que valorizam a igualdade social, política, econômica, cultural, filosófica, e todos os ramos que você conseguir imaginar, entre mulheres e homens.
Ser feminista não é pecado, ser feminista não é crime, ser feminista não é deixar de ser feminina, ser feminista não é ser superior a nenhum outro ser, seja ele homem ou mulher, ser feminista é ser um ser humano do bem, justo e muito honrado.
Muitas pessoas confundem ou desconhecem os termos feminismo, femismo, misandria e machismo.
Sendo femistas, sim, estaríamos nos igualando aos machistas que tanto combatemos, ou seja, estaríamos lutando por uma ideologia que prega superioridade do gênero feminino sobre o masculino, alguns o consideram o equivalente do machismo, nesse sentido teríamos a misandria, termo que alguns consideram como sinônimo de femismo e outros dizem ser a prática do ódio, desprezo ou preconceito contra o sexo masculino. Enfim, muitos outros termos existem, mas, de modo algum, podemos confundi-los com a palavra feminista, tão cheia de bons propósitos que, para chegar aonde chegou, custou a vida de muitas outras que nos antecederam. Em sinônimo de respeito a essas vidas perdidas, nosso respeito.
Quando nos permitimos permanecer na nossa zona de comodidade, na nossa ignorância literal, permitimos que a violência aumente. Lutar pelo feminismo, ser feminista, significa lutar pela vida.
O desconhecimento enfraquece, o desconhecimento mata, você está pronto para carregar a culpa? Culpa que se torna sua também quando da sua omissão, do seu desconhecimento, da sua propagação da frase: "Por que ela não larga ele? Simples assim!".
Não, não é tão simples assim, da mesma forma que não vem sendo tão simples desconstruir a sua informação errada, seu conhecimento equivocado, seu preconceito e sua parcela de culpa.
Temos o país com a terceira melhor lei do mundo, assim considerada pela ONU (organização das nações unidas), Lei Maria da Penha, em homenagem à luta de Maria da Penha Maia Fernandes, sancionada em 7 de agosto de 2006. Com mecanismos para prevenir e coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher em conformidade com a Constituição Federal (artigo 226, §8°) e os tratados internacionais ratificados pelo Estado brasileiro (Convenção de Belém do Pará, Pacto de San José da Costa Rica, Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher), mas também somos o quinto país no ranking global de assassinatos de mulheres por elas serem mulheres, e isso precisa mudar.
Um salve para você que acredita, que luta, que entende, que se informa, que aprende, que acorda todas as manhãs, se olha no espelho e diz em voz alta: "EU SOU FEMINISTA, EU SOU UM CIDADÃO, UMA CIDADÃ DE BEM".
Se esse for o seu conceito, paciência, mas acredite, pior é ser ignorante e permanecer na ignorância.
Nesses tempos de Covid-19, em que o lugar mais perigoso do mundo para muitas mulheres tornou-se inevitável, ou seja, seu próprio lar, precisamos ser todos feministas.
Já eu, enquanto houver dor, estarei na luta.
Ana Paula Trento é advogada, mãe, mulher, vice-presidente da Abracrim-RN, diretora institucional da Abracrim Mulher, presidente da Abracrim Mulher-RN, auditora do TJDRN, segunda secretária do Podemos-RN e uma das idealizadoras do Projeto Clara Camarão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário