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domingo, 29 de julho de 2012


VÍTIMAS DO CRIME - A CICATRIZ DA ALMA


Autor(es): Laura Diniz
Veja

O medo de bandidos está transformando o comportamento dos brasileiros. Mas, pela primeira vez, as estatísticas indicam que as curvas do crime podem mudar de direção. E finalmente começar a cair

 O Brasil vive uma situação inédita em relação ao crime. Observada de perto, ela é calamitosa. O número de assassinatos explodiu desde os anos 1980 e em muitas regiões do país continua a aumentar – a média nacional está, desde 2005, no inaceitável patamar de 26 brasileiros mortos por ano entre cada 100000 habitantes. Os roubos não param de crescer. Em um ano, ao menos 2 milhões de brasileiros foram vítimas do delito, e isso contabilizadas apenas as capitais. O reflexo dessa situação está captado em pesquisa do Ministério da Justiça, publicada com exclusividade por VEJA. Ela mostra que o temor de ser vítima de bandidos mudou os hábitos dos brasileiros de todas as capitais do país. Em Brasília, 63% dos moradores já evitam sair de casa à noite. Em São Paulo, 60% da população só usa os caixas eletrônicos e vai ao banco em último caso. No Rio, 80% dos cariocas deixaram de ir às mas levando muito dinheiro ou objetos de valor. Em Curitiba, 17% dos habitantes instalaram alarmes eletrônicos em casa, e 10% dos moradores de Fortaleza pagam vigias armados para proteger suas ruas ou prédios (veja os gráficos ao longo da reportagem). O crime está ditando o comportamento dos brasileiros – e, como nas guerras, isso equivale a uma rendição. Mas, quando o quadro atual é observado com mais distanciamento e à luz das estatísticas, chega-se a uma conclusão surpreendente. E positiva. Impulsionado pelo crescimento econômico da última década, o país já vislumbra uma mudança radical no perfil da criminalidade. E ela aponta para uma diminuição acentuada dos assassinatos. Isso vem ocorrendo em alguns centros urbanos, em especial em São Paulo e no Rio, onde a taxa de homicídios despencou 70% e 50% nos últimos dez anos.

A perspectiva de uma queda – generalizada – dos assassinatos no Brasil leva em conta fatores de natureza diversa: há os consolidados, e positivos, como o aumento da renda da população, os não tão consolidados, mas desejáveis, como o aprimoramento dos mecanismos de segurança, e os inevitáveis, embora não tão positivos assim, como a redução da proporção de jovens no total da população. Isso porque é nessa faixa etária, que vai até os 25 anos, que ocorre a maior parte dos homicídios.

Juntando-se todos esses elementos, e desde que o país não seja abalado por nenhum cataclismo econômico, não é mais impensável que o Brasil possa vir a ter um perfil criminal de nação desenvolvida. É o que enxergam analistas como Cláudio Beato, coordenador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais, Tulio Kahn, doutor em ciência política pela USP, e Julio Jacobo, organizador dos Mapas da Violência.

A equação em que se baseiam os especialistas para apostar nessa tese é simples. O assassinato é um delito relacionado à pobreza não porque a miséria leve ao crime, mas porque, nos locais onde a pobreza impera – e o poder público está ausente ou desorganizado –, costuma-se instalar uma cultura que os especialistas chamam de "resolução violenta dos conflitos". Ela reúne famílias desestruturadas, jovens menos educados, com menos opções de lazer e mais acesso a armas e álcool, numa combinação explosiva que tende a aumentar o número de mortes violentas. A diminuição da pobreza, com a gradual reversão dessa cultura, levaria, portanto, a uma diminuição dos assassinatos.
O Brasil, ainda que de forma muito desigual, deixou de ser pobre, embora esteja longe de ser desenvolvido. Aqui, por enquanto, o crescimento econômico provocou uma queda localizada nos homicídios e um aumento generalizado dos crimes contra o patrimônio. A explicação clássica para esse segundo fenômeno é que as pessoas estão ganhando mais dinheiro, comprando mais bens, como carros e relógios, e que assim, de posse de uma maior "oferta" de produtos, ficam mais sujeitas a ser assaltadas.

De novo, os cenários diferem dependendo da região. O Norte e o Nordeste – onde a presença do poder público é fraca e a polícia, pouco eficiente – convivem com assassinatos e roubos em alta. Em relação ao crime, ainda estão mais próximos da Colômbia e da África do Sul do que do Brasil do futuro. Já São Paulo e o Rio se encontram em uma posição bem mais avançada nessa escala – vivem, hoje, o que os Estados Unidos atravessaram na década de 90: os assassinatos começaram a declinar, mas os roubos ainda estavam em alta. A questão, agora, é descobrir quando, e se o Brasil atingirá a próxima etapa, aquela em que todas as curvas de criminalidade apontam para baixo. Isso, evidentemente, não ocorrerá por inércia – as projeções não triunfam onde os homens fracassam. Mas o Brasil já coleciona resultados promissores na área (veja o quadro na pág. 88). Em São Paulo, o uso da inteligência policial e a aplicação de uma "regra de ouro" segundo a qual policiais e peritos devem analisar a cena do crime em até 48 horas provocaram a redução drástica de assassinatos. Em meados dos anos 2000, o Rio trilhou alguns dos passos paulistas e obteve uma queda de cerca de 50% em sua taxa de homicídios.

Esse modelo de investigação funciona bem, como mostrou um projeto-piloto dos governos estadual e federal em Alagoas, iniciado há um mês. Para reduzir a taxa de homicídios do estado, que é a pior do país, a polícia estudou o perfil dos crimes, montou um plano estratégico de rondas de policiais militares, comprou equipamentos para os peritos e mandou que os policiais civis concentrassem a investigação nas primeiras horas depois do crime. Nos dez dias iniciais de julho, o número de mortes em Maceió caiu pela metade em relação ao ano passado. Dos treze assassinatos ocorridos no período, onze foram esclarecidos. No âmbito federal, em novembro deve entrar em funcionamento o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas (Sinesp), por meio do qual o governo reunirá estatísticas de todos os estados e conhecerá as nuances regionais da criminalidade. Mapear o crime é considerado por especialistas um ponto elementar para melhor combatê-lo. "Só repassaremos dinheiro para quem mandar os dados e de acordo com as necessidades apontadas pelos números. Nossos investimentos prioritários serão em inteligência e, a partir daí, tecnologia e perícia", diz Regina Miki, secretária nacional de Segurança Pública. Leia mais


http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/7/23/vitimas-do-crime-a-cicatriz-da-alma/

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