outubro 8, 2014
Por Jarid Arraes
Com o modesto aumento de pouco mais de 1%, a bancada feminina no Congresso em 2015 passará a representar 9,94% dos deputados eleitos em 2014 – um número preocupante e pessimista, que denuncia o quanto o machismo ainda é um valor dominante no Brasil.
A deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), coordenadora da bancada feminina na Câmara, expressou sua insatisfação ao criticar a política de inclusão de mulheres no Congresso, chamada por ela de “falida”. De fato, com números tão baixos, é impossível afirmar que qualquer medida tenha se mostrado eficiente. O que se revela um quadro ainda pior se as candidatas eleitas por suas bandeiras políticas forem analisadas; afinal, o fato de ser mulher não torna uma deputada necessariamente comprometida com as demandas feministas no país.
A maior parte das pessoas presentes no Congresso Nacional não representam em nada as pautas feministas, que têm como objetivo a extinção do machismo e a garantia de direitos às mulheres – muitos deles relacionados à reprodutividade. Na verdade, o movimento feminista já prevê as dificuldades que serão enfrentadas nos próximos quatro anos: o pesadelo do Estatuto do Nascituro pode voltar com força, por exemplo, e há possibilidades reais de ocorrer muito retrocesso no tocante à saúde sexual da mulher, tal como o lamentável episódio envolvendo a revogação da portaria 415/14 do SUS – algo que não deve ser esquecido sob qualquer hipótese.
Uma simples visualização da lista de deputados serve como evidência da força do machismo no Brasil: até mesmo entre aqueles partidos de esquerda que se consideram feministas, como é o caso do PSOL, todos os candidatos eleitos são homens, tanto os deputados federais quanto os estaduais. Embora possamos contar com posicionamentos importantes na defesa dos direitos das mulheres, não deixa de ser preocupante o fato de que nenhuma foi eleita pelo PSOL. É importante questionar a importância que tem sido dada a essas candidaturas femininas, tanto por parte dos próprios partidos quanto da população, que ainda se apega às figuras masculinas como ícones de credibilidade e seriedade.
Ser mulher no Brasil ainda é um desafio diário e uma batalha constante para se provar capaz. E apesar da realidade da Câmara ser preocupante, ainda é possível que a situação se torne pior. Eleger um partido de direita para a presidência certamente potencializaria os temores das mulheres e das pessoas LGBT. Essa é a hora de debatermos seriamente sobre esses fatos; caso contrário, os comentaristas políticos e analistas do contexto eleitoral continuarão a considerar a discussão de gênero como pauta secundária por muitos anos.
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