Época
Por que o romantismo desvairado das mulheres faz o mundo rodar sobre seu eixo
IVAN MARTINS
12/11/2014
As mulheres são bobas. Sonham demais, põem a carroça na frente dos bois, se apaixonam com um sonho de valsa. São elas mesmas que dizem. Basta um chope na calçada para imaginarem cenas de casamento. Um beijo na boca e já pensam como seria ter uma filha com aqueles lábios. Diante da possibilidade do amor, suspiram e se agitam como virgens do século XIX – embora seus horizontes pessoais sejam mais amplos que os de qualquer heroína das irmãs Brontë.
Suspeito que as mulheres sejam graciosamente antiquadas.
Décadas de liberdade, emancipação e sexo mais ou menos livre não foram suficientes para apagar o software afetivo do tempo dos espartilhos. Diante de um homem que pareça o cara certo, ressurgem velhos modelos e sensações. Não acontece com todas as mulheres, nem acontece sempre, mas a maioria já experimentou o sentimento. Assim como boa parte dos homens. Ninguém está livre de fantasias românticas selvagens. A diferença é que as mulheres parecem ser especialistas.
Mesmo tendo assistido a desilusões cavalares, ainda acho essa ingenuidade positiva. Ela é a argamassa invisível com que se constroem milhões de relacionamentos. Permite que, num mundo de egoísmos e receios, alguém dê um passo, estenda a mão e chame o outro. É como uma estrada que faz com que as coisas avancem, quando poderiam empacar e perecer. A gratuidade do amor feminino é uma dádiva. Faz o mundo girar sobre o seu eixo.
Homens também são assim, às vezes. Podem olhar para uma mulher comum que compra absorventes na farmácia e apaixonar-se, como num filme argentino. Querem casar, ter filhos, viver com ela num fiorde dinamarquês. Às vezes, contam isso a ela, que segura a cestinha perplexa, sem saber que o carequinha gaguejante diante de si é o homem da sua vida. Ou poderia ser. Acontece. Mas com as mulheres é mais frequente. Elas constroem mansões imaginárias. Sonham meticulosamente o futuro, sem o qual o presente é só um passado envelhecendo.
Pode ser apenas ilusão minha. Vai ver que o romantismo das mulheres foi substituído por prazer físico e pragmatismo existencial. Sonhar talvez tenha virado coisa de trouxas, e o mundo pertença agora às bruxas elegantes. Pode ser. Mas simpatizo com as bobas sonhadoras que sofrem de forma monumental. Elas fazem coisas que de outra forma não seriam feitas. Como memórias, poemas e famílias.
Por que o romantismo desvairado das mulheres faz o mundo rodar sobre seu eixo
IVAN MARTINS
12/11/2014
As mulheres são bobas. Sonham demais, põem a carroça na frente dos bois, se apaixonam com um sonho de valsa. São elas mesmas que dizem. Basta um chope na calçada para imaginarem cenas de casamento. Um beijo na boca e já pensam como seria ter uma filha com aqueles lábios. Diante da possibilidade do amor, suspiram e se agitam como virgens do século XIX – embora seus horizontes pessoais sejam mais amplos que os de qualquer heroína das irmãs Brontë.
Suspeito que as mulheres sejam graciosamente antiquadas.
Décadas de liberdade, emancipação e sexo mais ou menos livre não foram suficientes para apagar o software afetivo do tempo dos espartilhos. Diante de um homem que pareça o cara certo, ressurgem velhos modelos e sensações. Não acontece com todas as mulheres, nem acontece sempre, mas a maioria já experimentou o sentimento. Assim como boa parte dos homens. Ninguém está livre de fantasias românticas selvagens. A diferença é que as mulheres parecem ser especialistas.
Mesmo tendo assistido a desilusões cavalares, ainda acho essa ingenuidade positiva. Ela é a argamassa invisível com que se constroem milhões de relacionamentos. Permite que, num mundo de egoísmos e receios, alguém dê um passo, estenda a mão e chame o outro. É como uma estrada que faz com que as coisas avancem, quando poderiam empacar e perecer. A gratuidade do amor feminino é uma dádiva. Faz o mundo girar sobre o seu eixo.
Homens também são assim, às vezes. Podem olhar para uma mulher comum que compra absorventes na farmácia e apaixonar-se, como num filme argentino. Querem casar, ter filhos, viver com ela num fiorde dinamarquês. Às vezes, contam isso a ela, que segura a cestinha perplexa, sem saber que o carequinha gaguejante diante de si é o homem da sua vida. Ou poderia ser. Acontece. Mas com as mulheres é mais frequente. Elas constroem mansões imaginárias. Sonham meticulosamente o futuro, sem o qual o presente é só um passado envelhecendo.
Pode ser apenas ilusão minha. Vai ver que o romantismo das mulheres foi substituído por prazer físico e pragmatismo existencial. Sonhar talvez tenha virado coisa de trouxas, e o mundo pertença agora às bruxas elegantes. Pode ser. Mas simpatizo com as bobas sonhadoras que sofrem de forma monumental. Elas fazem coisas que de outra forma não seriam feitas. Como memórias, poemas e famílias.
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