Entre fatores destacados estão o encorajamento do parceiro e suporte financeiro para desenvolvimento profissional
Por Redação
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O relacionamento conjugal influencia a carreira da mulher? Para tentar responder a essa questão, Simone Alves Guedes realizou uma pesquisa descritiva e quantitativa com 532 mulheres trabalhadoras, com nível superior, casadas ou em união estável, na faixa etária de 22 a 60 anos. O trabalho embasou sua tese de doutorado Carreira e Conjugalidade: a percepção da mulher sobre a influência da relação conjugal no desenvolvimento de sua carreira, defendida na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. A principal contribuição do estudo foi identificar os diferentes tipos de influência da relação conjugal sobre o desenvolvimento da carreira da mulher, sejam eles positivos ou negativos, e como elas avaliam essas influências.
Após identificar inicialmente 18 fatores que impactam a carreira da mulher, Simone Guedes agrupou os fatores em dez itens, entre eles a valorização do trabalho pelo cônjuge, o encorajamento do parceiro para o desenvolvimento da carreira, influência da relação no bem-estar emocional, a troca de informações profissionais, auxílio para ampliar o networking e a limitação a viagens e participação em eventos fora do expediente. Depois de realizar a análise fatorial dos itens, a pesquisadora chegou a um modelo com três fatores: apoio conjugal ao desenvolvimento da carreira da esposa, suporte financeiro do parceiro para a carreira e atitudes de sabotagem à carreira da mulher por parte do cônjuge.
Para medir a percepção das respondentes em relação a cada uma dessas variáveis, a pesquisadora utilizou a escala Likert, que vai de 1 a 6 (não concordo totalmente até concordo totalmente), e separou os resultados em três graus de classificação: baixo (1 e 2), médio (3 e 4) e alto (5 e 6). Quando perguntado para as mulheres sobre o apoio do parceiro à sua carreira, 45,7% reconheceram um alto apoio conjugal. Ao serem questionadas sobre o suporte financeiro do cônjuge à carreira, 70,7% avaliaram como baixo. Sobre ações de sabotagem para prejudicar a carreira, 72,9% consideraram o nível como sendo baixo.
A pesquisa também abordou a satisfação com a carreira e com os salários. Das 532 entrevistadas, 37,2% apontaram um alto nível de satisfação e realização profissional, enquanto 36,1% disseram ter média satisfação e 26,7%, baixa. Em relação à remuneração, a maioria (53,2%) revelou baixa satisfação financeira, enquanto 23,5% apresentaram alta satisfação e 23,3%, média satisfação. A carreira da mulher em comparação com a do homem teve o mesmo grau de importância, segundo a maioria das respondentes (73,9%).
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Qualidade do relacionamento
Quando foi feita a distribuição conjunta das classificações e o cruzamento dos dados, Simone Guedes observou indícios de relação entre o grau de apoio conjugal e a satisfação profissional da mulher. “Quando o nível de apoio conjugal aumenta, a satisfação da mulher com a carreira também aumenta. O mesmo acontece com a satisfação financeira, que aumenta conforme aumenta o apoio conjugal.” De acordo com a pesquisadora, o que fica evidente nessa análise é o seguinte: “O que vai determinar a influência da relação conjugal na carreira da mulher é a qualidade do relacionamento.”
Segundo a professora do Departamento de Administração da FEA, Tania Casado, que orientou a tese de doutorado, os temas relacionados à integração entre vida profissional, vida familiar e vida pessoal têm ocupado posição de destaque nos estudos sobre carreira, em todo o mundo. “Mesmo com todo o ineditismo nessa área de pesquisa, a tese é ainda mais inovadora, pois além de incluir na discussão assuntos contemporâneos como carreira da mulher e integração carreira/vida pessoal, aborda aspectos até então inéditos em estudos similares: os efeitos da boa relação conjugal para o sucesso profissional da mulher.”
O perfil das entrevistadas pode ter influenciado os resultados da pesquisa, conforme reconheceu Simone Alves Guedes. A maioria delas apresentava alto grau de escolaridade (84% com pós-graduação), a escolaridade da maioria das mulheres (59,6%) era maior que a de seus parceiros, a maior parte das respondentes (437) tinha renda familiar superior a R$ 6.400,00, a maior parte (68,6%) morava nas regiões Sul e Sudeste e o rendimento da mulher era maior que a do homem em 43,8% dos casais. “Essa não é a típica mulher brasileira, é uma amostra muito específica”, disse a pesquisadora.
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Simone Guedes também destacou, durante a defesa de sua tese de doutorado, a transformação das relações conjugais nos últimos anos. “A ideia de relação vem mudando gradativamente, de um modelo institucionalizado, formal, para modelos em que se valorizam mais a individualidade e a autonomia. A relação não tem mais aquele compromisso com a duração e sim com o bem-estar de cada um. Dura enquanto for bom para os dois.”
A banca examinadora da tese Carreira e Conjugalidade: a percepção da mulher sobre a influência da relação conjugal no desenvolvimento de sua carreira foi formada pela professora Tania Casado, da FEA, além dos professores Marcelo Afonso Ribeiro (Instituto de Psicologia da USP), Ângela Christina Lucas (FEI), Ana Carolina Aguiar Rodrigues e Liliana Vasconcellos Guedes (FEA).
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