Kantar
CHRIS BUENO
CHRIS BUENO
Comunicação científica
POLÍTICA 09.05.2017
Medidas também ajudam a transformar as empresas em locais desejados para se trabalhar
Ser mãe é um trabalho em tempo integral. Conciliar essa tarefa, que demanda tanto, com uma carreira profissional é um desafio que milhares de mulheres enfrentam diariamente. Afinal, equilibrar os cuidados com os filhos e as obrigações do trabalho faz com que a agenda se torne apertada e, muitas vezes, os horários entrem “em conflito”, para a agonia de muitas mães trabalhadoras. Pensando em auxiliar as profissionais nesse desafio, muitas empresas estão adotando soluções que flexibilizem a rotina de trabalho, permitindo que as mães participem dos cuidados dos filhos e ao mesmo tempo consigam entregar os projetos com os quais se comprometeram. Em alguns momentos, isso pode significar levar trabalho para casa, finalizando-o depois de colocar as crianças na cama, ou fazer jornadas com mais intervalos, permitindo levar e/ou buscar os filhos na escola, por exemplo. Empresas que fazem esforços desse tipo têm ganhado a simpatia de uma parcela considerável dos profissionais, sendo muitas vezes referidas como “mother-friendly”, ou parceiras das mães, em tradução livre.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)*, o Brasil tem cerca de 30 milhões de mães trabalhadoras, que representam mais de 51% do total de 54,7 milhões de mulheres acima de 15 anos com filhos. Neste cenário, para acolher esse grande contingente de trabalhadoras, as empresas precisarão se adaptar.
Para Sebastian Codeseira, diretor de Trends & Futures na Kantar Futures, os funcionários de hoje veem o mundo de uma forma diferente, baseados em novos valores e expectativas, o que impacta também os incentivos para a contratação e retenção de talentos. “Os coladores esperam que as companhias apoiem um estilo de vida que traga bem-estar e equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. Mais do que permitir horários flexíveis ou home-office, isso significa conseguir encaixar a rotina da empresa para apoiar profissionais com filhos pequenos, com desafios familiares ou alguma dificuldade de saúde em particular. Não se trata de colocar barreiras entre onde começa e termina o ambiente profissional, mas de compreender que o colaborador se traz por inteiro por onde passa, seja na empresa ou na sua casa”.
Tornar um ambiente de trabalho “mother-friendly” não é apenas alterar o espaço físico ou o horário de trabalho. O conceito também inclui desenvolver políticas de apoio à maternidade no ambiente de trabalho, com estratégias que estimulem a amamentação, os cuidados com os filhos menores, e a flexibilização de horários. Tais atitudes têm reflexo direto na qualidade de vida das mães e na qualidade do serviço da empresa, pois ajudam a diminuir o absenteísmo e a rotatividade dos funcionários, que nos Estados Unidos chega a gerar perdas de até 11 bilhões de dólares. Flexibilizar os horários permite que os colaboradores não precisem escolher entre cuidar de si mesmos (ou de suas famílias) e se dedicar ao trabalho. De acordo com dados do Target Group Index da Kantar Ibope Media, 76,3% das mães que trabalham afirmam que pagariam qualquer preço por sua saúde, bem mais do que mães que não trabalham ou mulheres sem filhos, o que poderia incluir inclusive o “custo” de faltar ao trabalho para cuidar de um compromisso médico, como a vacinação dos filhos.
Médica analista da Evidências – Kantar Health, Laura Goes trabalha em sistema home-office e acredita que essa é uma importante maneira de conciliar as atividades do seu dia a dia. “Como é possível ter uma flexibilidade nos horários, posso fazer atividades que ser mãe exige, como levar ao médico, dar vacina ou algo que só pode ser feito em horário comercial. Assim, não preciso faltar e prejudicar o meu trabalho”, afirma. “O importante é a flexibilidade, pois assim consigo manter a qualidade do meu trabalho e também cuidar do meu filho”.
Medidas ajudam a conquistar e reter talentos
Para um bom convívio dentro e fora do expediente, a transparência em expor as dificuldades que enfrenta são fatores importantes na vida do funcionário. “Empresas que atraem as novas gerações costumam ter uma cultura de trabalho que preza pela transparência, seja na comunicação ou nos valores que professa. Mais do que oferecer suas horas de trabalho para a empresa, o novo profissional quer admirar a estrutura da qual faz parte e se orgulhar de ser um membro daquele time”, detalha Codeseira.
Adriana Retamero, assistente de atendimento ao cliente na Evidências - Kantar Health, também já precisou buscar maneiras de conciliar suas funções maternas com o trabalho diversas vezes. “Sempre tive a liberdade de trazer a minha filha para a empresa quando necessário, isso me deixa mais tranquila e me dá oportunidade de ficar mais próxima dela”, declara. “A partir do momento em que a empresa passa a flexibilizar o horário e dar a autonomia para algumas atitudes, isso ajuda na minha qualidade de vida e motiva a não faltar”.
Além de melhorar o relacionamento com os colaboradores atuais, medidas que auxiliem as mães no ambiente corporativo também transformam as empresas em marcas queridas pelos talentos do mercado. Recentemente, a revista americana Working Mother fez uma lista com as 100 melhores companhias dos EUA que estimulam a contratação de mães em seu quadro de funcionários.
Embora a pesquisa tenha sido feita nos Estados Unidos (único país ocidental no qual a licença-maternidade para todas as mulheres não é obrigatória), a lista demonstra que tais atitudes são possíveis e que os potenciais funcionários estão percebendo a importância das empresas inserirem as mulheres que assumiram a responsabilidade de serem mães sem precisarem abrir mão do mercado de trabalho. Para Goes, a rotina não é fácil, mas ser mãe exige tais esforços. “Lógico que em algum momento o trabalho acumula, mas estamos acostumadas e conseguimos dar conta do recado”, ressalta.
Mães conectadas
Estar conectada também facilita muito o trabalho dessas mães. Estudo da Kantar TNS realizado para o Dia das Mães aponta que 91% das mulheres com filhos acessam as redes sociais, 79% checam e-mails e 78% mandam mensagens instantâneas diariamente***. A pesquisa também mostra que o celular é o dispositivo mais usado pelas mães e que elas gastam cerca de quatro horas por dia no aparelho.
Esses dados apontam que as mães estão cada vez mais conectadas – e que essa conectividade pode ser usada a seu favor tanto na vida profissional quanto na vida materna. Se por um lado as mães “online” podem trabalhar em casa ou em outros locais acessando remotamente projetos que estejam desenvolvendo, algumas escolas e creches possuem sistemas de câmeras que podem ser acessados pela internet e funcionam como uma babá eletrônica, permitindo que as mães deem uma “espiadinha” nos filhos mesmo quando estão longe deles. “Quando a bate aquela saudade durante o dia, acesso as câmeras da escolinha e vejo o que meu bebê esta fazendo”, declara a assistente administrativo da Evidências – Kantar Health, Gisele Dota. “Isso ameniza um pouco a saudade e me ajuda a trabalhar tranquila”.
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