Dal Marcondes 08/12/2017
Cláudia Buzzette Calais –
Falar em diversidade, acima de qualquer outra abordagem que possa existir, tem que primeiro ser um dever humano, pois estamos falando de gente, de pessoas que possuem direitos, sonhos, necessidades, qualidades e potencialidades. Isso é premissa básica para iniciarmos qualquer abordagem a respeito da diversidade. E notem que aqui não estamos falando em tolerância, mas sim em respeito!
No contexto empresarial, diversidade – seja de gênero, raça, credo, orientação sexual – é uma realidade que está posta. E as empresas precisam cada vez mais saber lidar e respeitar essas diferenças, sob o risco de ficarem para trás na disputa pelos melhores profissionais do mercado. O olhar para as diferenças entre as pessoas dentro do universo corporativo é fundamental quando se pensa em competitividade, inovação e sucesso econômico. Estudos mostram que empresas que incentivam a diversidade no local de trabalho são ótimos lugares para se trabalhar, além de oferecerem excelentes produtos e serviços. Funcionários com formações, culturas, experiências e idiomas diferentes permitem as corporações compreender e atender melhor às necessidades de clientes. As mudanças de demandas e as variações constantes dos mercados são mais facilmente percebidas quando uma empresa possui grupos de colaboradores diversos.
Uma pesquisa da consultoria Mackinsey, de 2015, feita com empresas e executivos europeus, norte-americanos e latino-americanos, revelou que as corporações que encaram a diversidade de frente têm melhor desempenho no mercado. O que diferencia essas empresas? Elas não estão preocupadas com as diferenças que cada um carrega, mas sim com o que cada profissional pode agregar ao negócio. São empresas focadas em recrutar os melhores talentos, com forte orientação para o mercado consumidor. Ou seja, sabem interpretar números, estão atentas às pesquisas e buscam proporcionar ambientes de trabalho agradáveis para os seus funcionários, pois aprenderam que um profissional satisfeito minimiza conflito entre grupos e amplia a fidelidade, reduzindo o turnover. Diversidade induz à criatividade e à inovação, seja na criação de novos produtos, modelos, processos e serviços ou na busca de soluções para desafios.
A pesquisa também mostrou que os programas de diversidade de sucesso são aqueles que apresentam objetivos claros e são liderados pelo principal executivo da organização. O pior que pode acontecer a uma empresa é o tema ficar apenas sob a responsabilidade da área de Recursos Humanos, o discurso ser incoerente com a prática e cair na armadilha de não reconhecer a multiplicidade de diversidade que existe, atendo-se apenas a uma ou outra.
Levando-se em conta os dados do IBGE e de pesquisas relacionadas às áreas de consumo e de desempenho de negócios, chegamos a números que mostram que 54% da população brasileira é formada por negros, 24% das pessoas se declaram com algum tipo de deficiência, o país conta com uma população de 18 milhões de homossexuais declarados – sendo que 83% se concentra nas classes A e B. As mulheres são maioria no Brasil (51% da população). Sob a ótica do negócio, ignorar esses números é virar as costas para o crescimento e o sucesso nos negócios. Incluir significa que o que está bom pode ficar ainda melhor.
E, acima de tudo, respeitar a diversidade é respeitar o ser humano. Todos são iguais perante a lei, todos têm direitos iguais. As pessoas investem tempo e energia demais em discussões a respeito do que nos difere, ao passo que o foco tinha de ser o que nos aproxima. Mas a diferença também precisa ser celebrada. É ela que nos dá identidade e nos abre um mundo de novas possibilidades. E por que será que nós temos tanto medo da diferença? Será que é porque ela nos tira da nossa zona de conforto? Porque nos coloca face a face com os nossos maiores desafios? Infelizmente, no mundo corporativo, constata-se que são poucas as lideranças que, de fato, se permitem serem desafiadas. É mais fácil seguir teorias mais que testadas do mundo da gestão e focar no ano fiscal. Dá menos trabalho! Mas será que no longo prazo garante fidelização de colaboradores, inovação e competitividade?
Diante de dados e reflexões como os apresentados neste artigo sempre gosto de recorrer a uma frase atribuída ao filósofo Arthur Schopenhauer: “talento é acertar um alvo que ninguém acerta. Genialidade é acertar um alvo que ninguém vê”. Será que a diversidade nas corporações está sendo conduzida por líderes talentosos ou geniais?
Quem vira as costas à diversidade está, em primeiro lugar, negando a alguém o direito de viver com dignidade e exercer plenamente seus direitos e deveres. Sob a ótica empresarial, quem quer de fato se estabelecer, crescer, ser mais competitivo e inovar não pode negligenciar as diversas possibilidades e diferenças que estão por aí.
*Cláudia Buzzette Calais – Diretora Executiva da Fundação Bunge.
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