Heroínas de grande bilheteria e mulheres em processo de amadurecimento ou que buscam vingança. Estes são alguns dos exemplos do ‘poder feminino’ que definiu os últimos 10 anos
CARLOS MEGÍA (S MODA)
02 JAN 2020
Charlize Theron em fotograma de 'Mad Max'. |
1. Imperator Furiosa
Cabeça raspada, manca e farta do patriarcado. Entre os inúmeros êxitos cinematográficos e sociais do personagem de Charlize Theron em Mad Max: Estrada da fúria, figura não apenas o de ter transformado Max na donzela em apuros da história, mas também o de ter irritado o machismo mais reacionário que chamou —sem sucesso— a boicotar a estreia. A heroína de que necessitamos na próxima década sabe bem que, embora “lá fora, tudo dói”, é hora de aspirar ao Valhalla.
2. Carol
Cate Blanchett continuou provando nesta década que seu talento é digno de entrar na história do cinema com dois trabalhos inesquecíveis. Embora seu desempenho em Blue Jasmine a tenha feito merecedora de seu segundo Oscar, ficamos com a sutileza elegante do romance proibido entre uma mulher de classe alta, casada e mãe, e uma empregada de loja de departamentos (Rooney Mara) em Carol (de Todd Haynes), ambientado na Nova York dos anos cinquenta.
3. Simin
Talvez você nunca tenha ouvido falar de Leila Hatami, mas a vencedora do Urso de Prata na Berlinale pode se orgulhar de ter dado vida a um dos grandes personagens femininos do século. A separação conta a história de uma mulher iraniana que decide se divorciar do marido depois da recusa deste em emigrar do país. A obra de Asghar Farhadi é um duelo sufocante entre passado e futuro em uma sociedade prisioneira da tradição.
4. Rey
Embora as críticas recebidas pelo último filme da saga não tenham sido indulgentes, a personagem interpretada por Daisy Ridley surgiu como uma referência feminista —“sei correr sem que você me segure pela mão”— para toda uma geração de jovens fãs de Star Wars enquanto demonstrava que os filmes estrelados por mulheres podiam liderar a bilheteria. A força, além de Leia, finalmente também as acompanha.
5. Christine ‘Lady Bird’ McPherson
Além de um dos retratos mais brilhantes das relações materno-filiais, Greta Gerwig tornou-se a quinta mulher na história indicada à melhor direção no Oscar, reinventando o gênero adolescente com uma protagonista (Saoirse Ronan), carismática sem o querer, destinada a inspirar várias gerações. Tanto quanto Joan Didion em relação a ela: “Qualquer um que fale do hedonismo californiano nunca passou um Natal em Sacramento”.
6. Elsa
Talvez a maior prova da influência da rainha do gelo na última década seja o fato de que em 2015 Elsa voltou às listas dos nomes mais usados para bebês nos Estados Unidos depois de 97 anos sem ser tendência. Embora muitos ainda estejam esperando que ela se torne a definitiva referência LGTB, sua mensagem de irmandade de mulheres, superação e seu Let It Go conseguiram tocar como poucos filmes de animação o fizeram antes.
7. Amy Dunne
Com a adaptação do best-seller Garota Exemplar, David Fincher conseguiu levantar um acalorado debate na opinião pública sobre se os atos da maquiavélica protagonista (Rosamund Pike) eram uma regressão sexista ou um manifesto empoderador feminista. Além disso, o sucesso do filme foi fundamental para o surgimento de mais personagens femininos incômodos na tela grande.
8. Olivia
Mesmo que fosse apenas pelo compromisso artístico que demonstrou ao participar de um projeto rodado durante 12 anos, Patricia Arquette já merecia um lugar nesta lista. Mas sua interpretação de uma mãe coragem em Boyhood – Da infância à juventude, tão real e cotidiana que quase dói, e seu legendário discurso a favor da igualdade salarial ao receber o Oscar —meme de Meryl Streep—, tornam este trabalho um dos mais inesquecíveis da história da sétima arte.
9. Diana Prince/Mulher-Maravilha
O sucesso do filme solo, estrelado por Gal Gadot e dirigido por Patty Jenkins, foi um marco na meca do cinema e abriu a porta dos grandes estúdios para mais mulheres à frente dos projetos. Essa colheita será feita em 2020 com até cinco potenciais sucessos de bilheteria realizados por diretoras: Aves de Rapina, Mulher-Maravilha 2, Mulan, Viúva Negra e Os Eternos.
10. Ally
Estrelas internacionais do pop como Beyoncé ou Taylor Swift podem atestar as dificuldades de transferir o sucesso musical para a tela grande, mas Lady Gaga provou ter nascido para ser uma estrela –também– na meca do cinema. A nova-iorquina deixou de lado qualquer artifício para dotar de realismo sua aspirante a artista no filme de Bradley Cooper, deixando-nos de passagem uma canção que promete reinar durante décadas tanto em casamentos quanto em castings de OT, Shallow.
11. Harley Quinn
Margot Robbie deixou claro que era possível ofuscar completamente o vilão mais importante da história dos quadrinhos (o Coringa) em Esquadrão Suicida, dando vida a um personagem que irradia carisma, loucura, caos, temeridade e, no entanto, com o qual é muito fácil se identificar. Pela primeira vez o papel mais maluco não era o de um cara, e seu look, baseado nos de Debbie Harry, da banda Blondie, fez o resto. Este ano ela fará sua estreia solo no filme Aves de Rapina.
12. Michèle
Perturbadora, doentia, provocadora, transgressiva. A crítica se desfez em adjetivos para tentar domesticar Elle, de Paul Verhoeven, a história de uma mulher que segue o rastro do estranho que a violou e recusa que esse episódio altere sua rotina. Depois de um grande número de atrizes norte-americanas ter se recusado a interpretar um papel tão controvertido, a enorme Isabelle Huppert acabou ousando dar vida a um papel complexo que continua a estimular releituras.
13. Annie
E Lillian, Becca, Megan, Helen e Rita. Liderado por essa força da natureza chamada Kristen Wiig, o elenco de Missão Madrinha de Casamento mostrou que não apenas as mulheres podiam fazer comédia, mas também o melhor filme de comédia da década. A cena da prova do vestido, com o grupo exorcizando seus estômagos ao mesmo tempo, já é uma pérola do gênero.
14. Tristeza
Não venderá tantos bichos de pelúcia quanto Dory nem inspirará canções como Elsa, mas entre as maiores descobertas da produtora Pixar está o fato de ter conseguido com Divertida Mente que seus espectadores mais jovens entendam que ficar triste não é algo para se envergonhar, mas uma emoção para abraçar e aceitar para poder continuar crescendo. Phillys Smith (The Office) lhe dá voz na versão original.
15. Cleo
De professora de pré-escola a protagonista do Oscar e capa — histórica— da revista Vogue. Yalitza Aparicio deslumbrou como a empregada doméstica que estrutura a trama de Roma, de Alfonso Cuarón, um personagem cheio de calma, fortaleza e humanidade que conseguiu depois de superar mais de 3000 candidatas em um casting de grandes proporções. Concorrendo na mesma categoria com Lady Gaga e Olivia Colman, não conseguiu levar a estatueta para Oaxaca.
16. Katniss Everdeen
A arqueira que levou Jennifer Lawrence ao estrelato foi considerada em 2016 como o melhor personagem feminino da história do cinema de acordo com uma pesquisa realizada pela revista The Hollywood Reporter entre intérpretes da indústria. E como se não bastasse, Jogos Vorazes – Em Chamas foi o primeiro filme estrelado por uma mulher a liderar a bilheteria anual dos Estados Unidos em 40 anos. O último tinha sido O Exorcista.
17. Ramona
Ninguém teve um melhor 2019 do que Jennifer Lopez. Coincidindo com seu 50º aniversário, a artista do Bronx foi apontada como ícone da moda, atuará no espetáculo do intervalo da final do Super Bowl e alcançou com As Golpistas o grande papel de sua irregular carreira cinematográfica. Sua loba de Wall Street merece continuar a boa fase em 2020 com um Oscar em sua sala.
18. Patsey
Lupita Nyong’o era uma completa desconhecida do grande público quando exibiu seu enorme talento dramático ao dar vida, com uma fortaleza e dignidade de partir o coração, a uma escrava agredida por seu dono na Louisiana de meados do século XIX. Seu papel em 12 Anos de Escravidão foi o início de uma carreira que acaba de ter outro grande momento com Nós, de Jordan Peele.
19. Mildred
Na brilhante trajetória profissional de Frances McDormand é difícil encontrar algum papel que não seja digno de entusiasmo, mas o da mãe que busca vingança depois do assassinato da filha diante de um grupo de homens impávidos em Três Anúncios para um Crime é provavelmente o mais significativo por causa da pertinência social de sua estreia.
20. Justine
Aquela que talvez seja a atriz mais subestimada de Hollywood atualmente, Kirsten Dunst, interpreta um dos papéis mais complexos, enigmáticos e niilistas dos últimos anos como a recém-casada que entra em depressão horas depois de passar pelo altar em Melancolia, de Lars Von Trier. Se o mundo vai acabar, que seja com Dunst em nossas telas.
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