Parta do princípio de que você não pode prever como os outros vão participar dos seus planos.
Gabriella Feola
publicado em 31 de Dezembro de 2019
Qual destes objetivos estão na sua lista de desejos pra 2020: Sair mais com os amigos? Se aproximar mais da família? Começar um relacionamento sério? Resolver os problemas do seu relacionamento? Terminar um relacionamento? Ter novos contatinhos?
Nossas relações são parte essencial das nossas vidas porque, queira você ou não, nós humanos somos seres sociais. No entanto, desencontros e desentendimentos entram no caminho e acabam por desgastar relações e contatos que eram da maior importância na nossa vida.
Quantas vezes você não se magoou com alguém por falta de resposta no whatsapp? Ou por ciúmes (seja do seu mozão ou do amigo que te deu um bolo pra beber cerveja com outra galera)? Quantas vezes você se decepcionou com as ações de alguém querido e elaborou suposições para justificar porque este estaria se comportando assim e não assado?
Quantas vezes você não se magoou com alguém por falta de resposta no whatsapp? Ou por ciúmes (seja do seu mozão ou do amigo que te deu um bolo pra beber cerveja com outra galera)? Quantas vezes você se decepcionou com as ações de alguém querido e elaborou suposições para justificar porque este estaria se comportando assim e não assado?
Nós criamos expectativas sobre como gostaríamos que nos correspondessem e, para que suas relações sejam mais leves, gostosas e saudáveis, a minha proposta é que você desplaneje as expectativas sobre as pessoas a sua volta.
Porque queremos saber tantas coisas?
Ainda mais nesses tempos de tecnologia, quanto mais informações a gente pode ter, mais a gente sente que pode prever as situações. E, no fundo, a gente quer esse controle — não porque sejamos loucos, possessivos, dominantes — mas porque a ideia de controlar as variáveis da vida, traz a sensação de eliminar riscos e de sentir a salvo.
A falta de respostas nas mensagens, elucida pensamentos como: “será que aconteceu alguma coisa”, “será que esta pessoa está me evitando?”, ou até mesmo, “será que ela não me coloca como prioridade?”.
Em algum sentido, amar implica não querer perder e, por isso, tentamos controlar algumas variáveis. É nessa tentativa de controle que voltamos ao tema da expectativa: queremos que as coisas sigam os caminhos imaginários que traçamos.
E okay. Entendo as causas dessas nossas ansiedades, podemos concluir que não é nada de desumano sentir isso. Mas o ponto é: essas expectativas e impulsos de controle fazem com a gente e o que queremos fazer com elas?
O que essas expectativas fazem com a gente?
Eu vou tomar a coisa de “esperar por resposta no zap” como exemplo, porque isso é algo que acontece todos os dias em diversos tipos de relações: a falta da resposta a princípio causa uma ansiedade, depois um irritação pelo que é interpretado como descaso e, em seguida, quando a resposta não vem, ou não vem a nosso gosto, ficamos afetados, entristecidos, sentindo a rejeição na pele.
Essa sequência de ações e reações nos causa sentimentos ruins e não afetam só a nós e nossa autoestima, como afetam também nossas relações. A partir dessas expectativas quebradas criamos inseguranças em relação às pessoas a nossa volta e as inseguranças geram ruídos.
Quando nos damos conta estamos naquele ciclo de querer devolver ao outro na mesma moeda — dar um gelo em tal amigo, parar de responder também, ser quem dá o bolo no próximo rolê — ou de mostrar pro outro que não nos importamos, para atestar qualquer tipo artificial de superioridade.
A relação que antes era afetuosa e sincera se transforma em uma tensão de suposições e jogos de poder que, em pouco tempo, aquilo que tanto se prezava (e que justamente por isso temia-se perder), perde-se no meio dos não-ditos.
Como não deixar as expectativas estragarem?
Entender que a vontade de controlar não impede que você perca as pessoas que ama, não significa que não haja nada que você possa fazer para cultivar e cuidar das relações que você preza.
Esse cultivo desplanejado, leve e compreensivo passa diretamente por quebrar as expectativas sobre as ações e reações das outras pessoas, e entender que nem todo mundo vai agir com você de maneira diretamente recíproca, mas que isso não significa que você não seja querido.
Um amigo muito querido me ensinou que ele ama seus amigos, mas que não suportaria vê-los toda semana. A princípio isso me soou como um desprezo arrogante, mas amar esse amigo significa entender que sua forma de viver os afetos é diferente da minha e que o jeito dele não é menos legítimo nem menos correto.
Abrir mão do controle é um passo, escutar as pessoas a sua volta e entender como as relações funcionam para elas — ainda que não seja exatamente o que você gostaria de ouvir — é uma forma de demonstrar amor ou afeto incondicional: você se importa com aquelas pessoas ainda que elas não se enquadrem perfeitamente bem na sua caixa.
Esse é o tipo de aprendizado que você pode aplicar em como você vive suas amizades, em como você se relaciona com os seus pais, ou em como você pensa seus relacionamentos românticos.
Práticas para desplanejar suas expectativas
1. Se livre de alguns rastros de controle
Tire o check azul do whatsapp, por exemplo, você não precisa saber se a pessoa já leu ou não sua mensagem, nem que horas foi a última vez que ela esteve online. Quando ela puder e quiser, ela vai te responder. Ficar analisando os momentos de “não-resposta” não te leva a lugar nenhum.
Estes rastros são informações que alimentam nossa necessidade de tentar supor o que está acontecendo do outro lado da tela. Mas, para cuidar das nossas relações, muito mais útil que atender a essa necessidade ansiosa, é praticar a tranquilidade na incerteza.
2. Não tente tirar conclusões:
Aceite que você não vai saber exatamente o que se passa na cabeça das outras pessoas ou porque elas agiram de um jeito X ou Y. Você não precisa saber.
As relações mais sinceras são aquelas nas quais a gente aceita as pessoas pelo que ela são, sem se incomodar com pequenas coisas. As vezes fulano é mais distraído e não responde com tanta assiduidade e isso não significa rejeição ou preterimento.
3. Troque as expectativas por diálogo e escuta
O exercício de segurar as suposições não significa aceitar tudo que vem de todos. Mas entender que, algumas coisas não nos dizem respeito, e que outras, quando importam, precisam ser dialogada.
Quando a falta de resposta, ou determinada atitude estiver te causando incômodos, converse com as pessoas: abra o coração de verdade, explique como você se sente diante das ações que quebram suas expectativa e seja sincero sobre o que você gostaria de saber da parte da outra pessoa.
Esse exercício é uma forma de trocar a expectativa pela confiança. Estabeleça um diálogo honesto e, neste contexto, esteja aberto para de fato ouvir e acreditar no que a pessoa lhe disser.
4. Se for preciso, deixe ir...
Mesmo conversando e entendendo as motivações das pessoas, você pode chegar a conclusão que o jeito como aquela relação se dá não te faz bem. Ainda que a pessoa que sempre te dá o bolo, não te dê o bolo por maldade, ao fazer isso recorrentemente, ela te machuca e você não quer isso pra você.
Nesses momentos, a gente precisa aprender a deixar ir. Abrir mão do controle é entender que as pessoas nem sempre vão corresponder as suas expectativas, e amar genuinamente é querer o seu próprio bem e o bem da outra pessoa, mesmo que isso signifique seguir caminhos separados.
Eu sei que todas estas sugestões exigem um esforço de seguir por caminhos desconhecidos e inseguros, e que não necessariamente elas vão deixar sua vida mais fácil a curto prazo. Mas a intenção do desplanejamento não é te dar uma receita pronta, mas te mostrar caminhos alternativos, que eliminem algumas pressões e podem te proporcionar relações mais sinceras e genuínas.
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