Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar

Banco Santander (033)

Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4

CNPJ 54.153.846/0001-90

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

A geração empoderada que sofre em ser “a mulher da casa”

marie claire

14.08.2018 | POR FABIANA GABRIEL

Em sua nova coluna, Fabiana Gabriel comenta o desconforto feminino e masculino em relação à dependência financeira

Lembro, ainda adolescente, quando minha mãe comentou comigo da moça que trabalhava lá em casa. Toda semana pedia um adiantamento, empréstimo ou algo do tipo. Vivia numa dívida constante, quase sempre adquirida pelo marido. Ela era mais que o arrimo de família. Ela sustentava a casa, os vícios e fantasias de seu cônjuge. Minha mãe ficava revoltada e a julgava por se submeter emocionalmente a ele e, ao mesmo tempo, sustentá-lo.
Eu lembro de achar um pouco de graça disso tudo. Tanto da moça em si, que era louca pelo marido e sempre o perdoava, quanto da revolta da minha mãe. Ainda que levantando a bandeira genuína do que hoje chamamos de “empoderamento feminino”, carregava também um machismo embutido e não identificado – à época – por mim.


E foi com essa dualidade de conceitos e crenças que eu e uma fatia relevante de gerações de mulheres da classe média brasileira crescemos. Foi com uma mistura de “busque a sua independência” com “o homem é naturalmente um provedor” que nos formamos.



Acontece que, progressivamente, as últimas décadas, deram – em todas nós – um enorme “olé” comportamental. Não se trata apenas de novas tecnologias, novas formas de trabalho ou outras abordagens em relação à casa ou à maternidade. É sobre esse machismo tão arraigado que, ainda que levantemos a bandeira do empoderamento, o praticamos, descuidadamente.

Já perdi a conta de ver mulheres bem-sucedidas que sustentam seus maridos ou são responsáveis por mais de 70% da renda familiar. Nenhuma delas se queixa disso em público e jamais o fariam. Mas guardam, intimamente, uma certa frustração de não terem encontrado – na sua vez – o provedor que a geração das nossas mães e avós almejaram.


Elas não precisam deles, não dependem, em nada, da participação masculina. Tocaram suas carreiras e seu futuro de forma totalmente independente da construção do castelo que, outro dia, era condição si ne qua non para a mulher. Mas viram o barco virar de uma hora para outra quando se depararam com homens que já não as acompanhavam em suas trajetórias, seja pela falta de alguma ambição ou limite financeiro.  



Apesar de tantas conquistas, ainda hoje estamos despreparadas emocionalmente para sermos “a mulher da casa” e as responsáveis por todos os encargos econômicos do casal e filhos. Ainda que a gente esteja, cada vez mais, convivendo com esse cenário, existe uma dose grande de desconforto frente aos parceiros que – por motivos diversos – depositam alguma dependência financeira em nós. Quase que, frivolamente, nos esquecemos que, historicamente, essa foi a realidade dos homens em relação ao gênero feminino, por séculos. 



Estou longe de querer aqui afirmar que nós, mulheres, deveríamos bancar ou arcar com os gastos dos homens porque, no passado – em condições bem diversas – eles fizeram isso por nós. Acredito mesmo que o melhor caminho para as relações e boa convivência entre os pares é a independência financeira de cada um dos indivíduos, a despeito de gênero, orientação sexual e estilo de relacionamentos. Mas acho também que poderíamos, todos nós, pensar em como lidar melhor com a condição de “Mulher da Casa”. Um lugar que, aparentemente nem tanto o homem, nem a mulher, ainda se sentem confortáveis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário