ELSEVIER LANÇOU ONTEM NA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS RELATÓRIO QUE COMPARA A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA CIÊNCIA EM ONZE PAÍSES E MAIS A UNIÃO EUROPEIA ENTRE 1996 E 2015
A editora Elsevier realizou nessa quinta-feira, 22, o lançamento no Brasil do relatório “Gender in the Global Research Landscape”. O estudo compara a participação das mulheres na ciência em onze países e mais a União Europeia entre 1996 e 2015, e o Brasil é destacado por notáveis avanços em termos de igualdade de gênero nas últimas duas décadas. O evento aconteceu na Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro, e contou com a participação da presidente da SBPC, Helena Nader, entre outros especialistas.
“Os dados são incríveis. A institucionalização da ciência no Brasil é muito nova. E hoje a mulher já é maioria nas universidades brasileiras. O índice de evasão escolar também é menor entre elas. Mesmo nas ciências duras, a porcentagem de mulheres aumentou bastante, embora ainda os homens sejam a maioria. Houve uma mudança muito grande e muito rápida. Sair do proibido frequentar para aquele em que, além de frequentar, se publica paritariamente com o outro sexo, é uma coisa louvável”, ressaltou Helena Nader.
Segundo ela, o importante de levantar essas informações é compreender o que esses dados indicam. “Por que temos menos mulheres nas posições de chefia? Eu acho que nós, mulheres, deveríamos nos debruçar sobre esses dados para entender o que estamos perdendo”, disse.
O estudo “Gender in the Global Research Landscape” (Gênero no Panorama Global de Pesquisa) faz uma análise da performance científica de homens e mulheres ao longo de 20 anos, entre 1996 e 2015, e compara 11 países – Estados Unidos, Reino Unido, França, Dinamarca, Portugal, Japão, Canadá, Austrália, México, Chile, Brasil – e a União Europeia. O relatório havia sido divulgado no dia 8 de março, por ocasião do Dia Internacional da Mulher e o evento de ontem foi para a divulgação ampla dos resultados desse estudo e a disponibilização desses dados de forma aberta, que podem ser reutilizados por todos.
A pesquisa considerou indicadores como autoria de artigos, proporção de homens e mulheres entre pesquisadores, impacto das publicações, proporção de homens e mulheres entre inventores e suas patentes, liderança, colaboração, interdisciplinaridade e mobilidade internacional. A partir dessas análises, o estudo lança luz sobre os fatores que influenciam as disparidades de gêneros nas disciplinas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, na sigla em inglês). Eles notaram, por exemplo, desigualdades persistentes em contratações, autorias, reconhecimento e promoção.
O relatório destaca a participação das mulheres brasileiras entre o total de pesquisadoras, representando 49% da população analisada. Desde 1996, o estudo observou um aumento de 11% nessa proporção. Na área de enfermagem, 73% dos pesquisadores brasileiros são mulheres. Portugal também atingiu a mesma marca de 49%, porém, entre 1996 e 2000, era o único entre as doze regiões analisadas que já tinha uma proporção da população feminina de pesquisadoras maior que 40%.
Outro destaque é que o Brasil figura entre os países com maior proporção de mulheres inventoras (19%) entre 2011 e 2015, atrás apenas de Portugal (26%). O Japão teve a menor participação, com apenas 8%.
O relatório pondera, no entanto, que Brasil, Portugal México e Chile, apesar de figurarem entre os que possuem maior crescimento entre inventoras, estão também entre os que lançaram menos pedidos de patentes entre 1996 e 2000.
Internacionalização
Quando se observa o fator de impacto das publicações, no Brasil, os valores ainda são mais altos para homens dos que para mulheres. O mesmo ocorre com o quesito “mobilidade internacional”. No Brasil, Canadá e Reino Unido, a proporção de pesquisadoras é mais baixa que a proporção das mulheres que atuam na pesquisa. Segundo o relatório, isso indica que as mulheres tendem a se mover internacionalmente menos que os homens. Esse fato pode explicar o baixo índice de colaboração internacional delas na produção de artigos científicos: se elas se movem menos, argumenta o estudo, sua rede de contatos fica mais limitada, as oportunidades de colaboração com colegas de outros países são menores. Consequentemente, conclui o relatório, isso acaba afetando sua progressão na carreira e futuras oportunidades de mobilidade internacional.
“O estudo mostra que temos mais autoras colaborando, porém ainda temos muitas que não têm colaborações internacionais. No Brasil, em geral, temos pouca colaboração”, comenta Dante Cid, vice-presidente de Relações Acadêmicas para a América Latina da Elsevier.
Rarefação
Para a diretora do GenderInSITE, Alice Abreu, o relatório traz indicadores que mostram como os processos nesse universo acadêmico se refletem nos modelos de publicações e como é possível mudar as instituições para uma cultura que permita uma maior equidade de gêneros. “As mulheres estão muito equilibradas nos indicadores sobre excelência. Então por que o número delas é tão rarefeito nas esferas mais altas?”, questiona.
Para Márcia Barbosa, diretora da Academia Brasileira de Ciências, o chamado “efeito tesoura” – à medida em que se sobe na carreira científica, o percentual de mulheres cai -, permanece como um grande mistério a ser compreendido.“As mulheres desaparecem ao longo do sistema. O grande decréscimo acontece quando se passa do doutorado”, disse.
A presença da mulher ciência, afirma ela, não é apenas uma questão de democracia, mas uma necessidade diante dos desafios que o mundo moderno impõe para a ciência. “Precisamos de um ambiente mais diverso para resolver melhor os problemas. Temos que trabalhar juntos, homens e mulheres, para construir um país mais eficiente. Juntos, podemos, e podemos já”, concluiu.
O estudo completo da Elsevier pode ser acessado neste link.
Daniela Klebis – Jornal da Ciência
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