Certamente você já escutou falar do cantinho da disciplina. A primeira vez que ouvi era adolescente e assistia à Super Nany. Parecia uma estratégia muito moderna para conseguir que a criança recapacitasse o seu comportamento. Na realidade, agora que tenho filha, ao ler bastante sobre o funcionamento do cérebro infantil, vejo que este era uma espécie de tempo fora punitivo, uma espécie de castigo sem maltrato físico. Nós optamos por fazer um cantinho da calma para Laura.
Por que dizer NÃO ao cantinho da disciplina?
Em breves palavras podemos argumentar o porquê de dizer não ao cantinho da disciplina. É utópico acreditar que uma criança de dois, três ou quatro anos tem a capacidade de refletir sobre sua conduta porque seja posto no cantinho da disciplina. Ali ele pensará em tudo, menos no que você, como pai ou mãe, gostaria.
Aliás, o que provavelmente pensará é no ruins que são os pais por tê-lo deixado ali sozinho. E, caso não volte a repetir o erro, apenas será pelo medo ou por não querer ficar minutos sentado olhando para o nada. Com certeza, não aprenderá nada de realmente positivo para sua vida futura.
O cantinho da calma ou o tempo fora positivo
Em Disciplina Positiva está proposto o tempo fora positivo como um recurso para que a criança aprenda a se acalmar e, assim, possa resolver melhor os conflitos. Ao nosso tempo fora positivo demos o nome de cantinho da calma. Em Montessori, o nome dado a uma estratégia similar é a mesa da paz.
Na realidade, retirar-nos da situação tem um fundo biológico. Nós adultos, assim como as crianças, quando estamos incomodados por algo ou chateados, perdemos acesso a uma parte do cérebro que nos permite pensar soluções e atuar racionalmente. O que se desperta é o cérebro instintivo e animal. Logo somos mais reativos, ameaçadores e buscamos soluções a curto prazo, sem muita reflexão.
A única maneira de nosso cérebro voltar a ‘estar em ordem’ é retirando-se amigavelmente. É preciso que nos demos um tempo para nos desconectar do que ocorreu. Mais tarde, sim, podemos voltar a abordar o problema, mas já o faremos de maneira mais respeitosa e efetiva.
Usada de maneira positiva, não punitiva, pode trazer benefício para a criança, bem como para toda a família. O cantinho da calma não é o lugar onde a criança deva ir sozinho e esperar a que passe os minutos para sair e voltar a brincar. É um lugar tranquilo da casa onde lhe damos a oportunidade de aprender e de ganhar habilidades de vida. Essa mensagem positiva é o que queremos para nossa filha.
A criança deve entender que seu cérebro ‘está louco’ ou ‘não funciona bem’ quando está chateado. Logo, é preciso se tranquilizar e voltar a estar contente para que tudo possa ir bem.
Tempo fora positivo é uma opção, não um castigo
O lugar da casa destinado a se retirar da situação de conflito deve ser uma opção, não uma obrigação. Ou seja, a criança deve saber que essa é uma opção para onde pode ir livremente caso precise se sentir melhor. Você pode lhe dizer: “Você gostaria de ir até o cantinho da calma? Podemos voltar a falar do tema mais tarde.” Ou ainda, “vejo que você está com raiva, talvez queira ir ao seu cantinho da calma”.
Nós mesmos podemos dar o exemplo a nossos filhos. Quando estivermos chateados, no lugar de gritar e querer que a criança faça as coisas no grito, podemos ir ao lugar da calma e voltar com outro ânimo para resolver o conflito. Por exemplo, podemos dizer-lhe: “Mamãe está chateada. Vou até o cantinho da calma porque preciso me acalmar. Depois conversamos com tranquilidade e juntos buscaremos uma solução para o problema”.
Se somos nós exemplos, podemos convidar, respeitosamente, nossos filhos a ir ao cantinho da calma quando estejam chateados, fazendo birra, estressados… Também podemos acompanha-los, enquanto se tranquilizam. Ao fazê-lo, buscamos que a criança aprenda a encontrar a calma nos momentos de conflito, para buscar soluções racionais.
É preciso que nos acalmemos para solucionar os problemas.
Pensar o lugar para a calma
. Onde será o nosso espaço para a calma? Em um cantinho da sala, em algum espaço debaixo da escada, no quarto-escritório…
. Como podemos criar este espaço? Podemos decorar um espaço da casa com coisas que possam ajudar as crianças a se acalmarem: coisas para colorir, brinquedos, almofadas, tapete suave, revistas….
. Que nome daremos a este espaço? Nós optamos por ‘Cantinho da Calma’, mas você pode escolher outro e pedir ajuda à criança para nomeá-lo.
. Que normas devemos ter para o nosso espaço? Devemos ter claro em que situações a criança deve ser convidada a ir ao cantinho da calma. Fazê-lo por qualquer situação pode acabar por tirar a relevância do espaço para seu crescimento pessoal.
. Como devemos nos comportar nesse espaço? No cantinho da calma devemos estar em paz e tranquilos. Por isso, as atividades que você separe para esse espaço devem ser agradáveis e calmas, tais como pintar, desenhar, brincar com jogos não-estruturados, ler livros que trabalhem as emoções…
Alternativas para acalmar-se
Uma vez mais devemos dizer que essa é uma ferramenta mais e não significa que funcionará. O importante é ter outras alternativas e técnicas para que se proponha à criança no lugar do tempo fora. Por exemplo, que lhe parece dizer:
. Você gostaria de ir ao cantinho da calma ou prefere escrever seu problema para que falemos dele depois do jantar? Você decide. Independente do que você decidir, o problema será abordado mais tarde, quando todos estejamos preparados.
. Que lhe parece se fazemos um par de respirações profundas para que você se acalme? Mais tarde podemos buscar uma solução para o problema juntos?
. Podemos fechar os olhos e contar até dez. Assim podemos ir acalmando-nos e conversar depois com mais tranquilidade.
Lembre-se de que é importante ensinar à criança que é bom para ela ter um tempo fora da situação para se sentir melhor antes de solucionar o problema. Assim que estiver tranquilo, você está disponível para que conversem com calma. Ele mesmo se dará conta o quanto a técnica pode lhe ser útil. O mais importante é que nós pais não sejamos afobados e queiramos resultados imediatos. Como qualquer aprendizagem, a prática é necessária. Portanto, tenha paciência. Cada criança tem seu ritmo.
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