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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Ray Donovan expõe os laços de ódio de uma família decadente


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RAY DONOVAN

Não é nenhuma novidade que as emissoras americanas decidiram, há algum tempo, apostar em tramas protagonizadas por anti-heróis. Walter White (Breaking Bad), Dexter Morgan (Dexter) e Don Draper (Mad Men), ou até mesmo personagens como Cersei Lannister (Game of Thrones) e Emily Thorne (Revenge) conquistaram a fama e o carisma dos telespectadores. Em meio a essa grande tendência, como inovar na criação de protagonistas complexos, com sentimentos controversos?
Ray Donovan, interpretado por Liev Schreiber, consegue se encaixar nesse contexto. Grande parte do prestígio conquistado em duas temporadas deve-se ao bom desempenho do elenco e a construção de histórias extremamente realistas. A grande questão que envolve Ray Donovan é que o seriado mostra um homem cheio de traumas e pensamentos dúbios sobre a vida e o convívio em família.
O protagonista é um profissional que consegue resolver qualquer problema em Los Angeles. Atuando como um gestor de crise, ele não mede esforços para salvar celebridades e clientes de escândalos, assassinatos ou problemas com drogas. A mídia americana chegou a compará-lo com Olivia Pope, de Scandal, uma mulher determinada que consegue salvar a imagem de políticos em Washington. A semelhança está apenas na profissão. Ray não utiliza a intuição ou um código de ética em seu trabalho. Ele executa suas tarefas sem hesitação ou justificação. Apenas porque é o plano a ser cumprido.
Entretanto, a família é sua grande fraqueza. Ray enfrenta muitas dificuldades para solucionar os problemas de seus irmãos, a insatisfação de sua esposa e o envolvimento da filha com um jovem rapper. Além disso, nada se compara ao péssimo relacionamento que tem com seu pai, Mickey Donovan (John Voight), um homem que passou 20 anos na prisão por um crime que não cometeu. Detalhe: Ray o colocou na cadeia.
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Mesmo assim, Mickey não pode ser descrito como uma vítima. Canastrão e persuasivo, ele sempre foi relapso e ausente e não denunciou um padre por abuso sexual de suas crianças. As excelentes cenas de conflito entre Ray e Mickey são o ápice da atração e rendeu para Voight um Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante em série dramática este ano. O filho nutre um ódio por seu pai que é capaz de encomendar sua morte, mas não corajoso o suficiente para cometer o crime com suas próprias mãos.
Mickey também atua como um anti-herói secundário em busca de redenção. Ele chega a sofrer pelas consequências que o estupro causou em Bunchy (Dash Mihok), mas abandona Terry em um assalto mal planejado. No segundo ano, o personagem percebe que seus familiares não engolem mais suas mentiras e manipulações. Nem a quantia de 1 milhão de dólares - conquistada em uma aposta de corrida de cavalos - é suficiente para conseguir o perdão de seus filhos.
No desfecho, Ray apresentou um cansaço angustiante por enfrentar tantas adversidades, tanto que estava conformado em passar um tempo na cadeia para se distanciar do seu trabalho e da sua família. Com total apatia e frieza, assassinou pessoas, chantageou o FBI e não se importou com o relacionamento extraconjugal de sua mulher. Assim como na vida real, Ray mostrou que nenhuma situação pode ser encarada com uma verdade absoluta.

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