27.09.2017
Encontro é um dos principais atos políticos do calendário de mobilização das mulheres Kaiowá e Guarani. Neste ano, reuniu cerca de 300 participantes
Lideranças Guarani e Kaiowás fortalecem empoderamento político das mulheres em defesa dos direitos dos povos indígenas
Foto: UNIC Rio/Natália da Luz
A ONU Mulheres Brasil, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, o Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil e o Departamento de Segurança da ONU participaram do Kuñangue Aty Guasu, grande assembleia das mulheres Kaiowá e Guarani, que aconteceu de 18 a 22 de setembro, no Tekohá Kurusu Amba, no município de Coronel Sapucaia, no estado de Mato Grosso do Sul – divisa entre o Brasil e o Paraguai. O encontro é o principal ato político do calendário de mobilização das mulheres Kaiowá e Guarani. Na sua quinta edição, o Kuñangue Aty Guasu reuniu cerca de 300 participantes.
A presença da ONU no Kuñangue Aty Guasu se deu no contexto de demandas e denúncias dos povos indígenas, enviadas, nos últimos dois anos, ao Gabinete do Coordenador Residente do Sistema ONU no Brasil, ao Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos e à ONU Mulheres. Há cerca de um mês, em reunião na Casa da ONU, as guaranis-kaiowás reiteram a importância da participação de delegação ONU Brasil no Kuñangue Aty Guasu para conhecer in loco a situação de violação de direitos humanos por que passam os povos indígenas em aldeias e áreas de retomada.
Na ocasião, as mulheres indígenas relataram problemas crônicos: fome, miséria, violência, feminicídio, homicídios, desaparecimento de corpos e perseguição. De acordo com as lidernças, as situações comprometem normativas internacionais, a exemplo da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, que completou dez anos, neste mês, e já tinham sido identificadas na última missão de relatoria especial da ONU sobre os direitos dos povos indígenas, em 2016.
Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil e coordenadora do Grupo Temático de Gênero, Raça e Etnia da ONU Brasil, liderou a delegação da ONU no Aty Kuña. “A presença da ONU Brasil no Aty Kuña expressa o compromisso das Nações Unidas em aprofundar o trabalho com as mulheres indígenas e de elaborar um plano de emergência frente ao agravamento da situação relatada pelas lideranças indígenas”, considerou Gasman.
Nadine Gasman, coordenadora do Grupo Temático de Gênero, Raça e Etnia da ONU Brasil e representante da ONU Mulheres, liderou delegação das Nações Unidas no Kuñangue Aty Guasu
Foto: UNIC Rio/Natália da Luz
No encontro, as guaranis-kaiowás entregaram para a ONU Brasil documento de reivindicação em que destacam: “Nós mulheres, Guarani e Kaiowá, estamos vendo nossas terras sendo devastadas enquanto o que resta para nós são as beiras de rodovias ou as reservas super lotadas para viver com nossas crianças. Por isso, pedimos a demarcação de nossos Tekohas (Terra tradicional sagrada), para vivermos em paz com nossas crianças, em nossas casas, ter o nosso pedacinho de roça, preservar a natureza e assim viver o nosso Teko (modo de ser). Diante de todo este retrocesso que acontece com os direitos do nosso povo, das mulheres indígenas na atual conjuntura política brasileira, viemos através da V Kuñangue Aty Guasu (Assembleia das Mulheres Kaiowa e Guarani), exigir que os nossos direitos sejam respeitados e garantidos”.
Voz das Mulheres Indígenas – A parceria entre as mulheres indígenas e a ONU Mulheres Brasil começou com um projeto de enfrentamento ao tráfico de meninas e mulheres com as mulheres Guarani e Kaiowá. Um dos resultados mais expressivos da parceria ocorreu, em 2015, por meio de consulta a um grupo mais amplo de mulheres indígenas para definir qual seria a demanda prioritária, para além do enfrentamento à violência. A partir disso, a ONU Mulheres expandiu sua atuação com mulheres indígenas e passou a trabalhar com um grupo de multiplicadoras de 22 povos diferentes das cinco regiões do Brasil.
Desde 2015, a ONU Mulheres apoia o projeto Voz das Mulheres Indígenas, voltado ao empoderamento político e a elaboração de pauta comum para incidência política. Apresentado no Acampanhamento Terra Livre de 2016, o documento Pauta Nacional das Mulheres Indígenas destaca seis eixos de atuação:
1. Violação dos direitos das mulheres indígenas – incluindo, mas não se limitando, ao enfrentamento à violência contra a mulher;
2. Empoderamento político e participação política das mulheres indígenas;
3. Direito à saúde, educação e segurança;
4. Empoderamento econômico;
5. Direito à terra e processos de retomada;
6. Conhecimentos tradicionais e diálogo intergeracional.
Realidade documentada – Durante o Kuñangue Aty Guasu, a ONU Brasil produziu documentário para visibilizar as realidades das mulheres indígenas. A produção é realizada pelo Grupo Temático de Gênero, Raça e Etnia da ONU Brasil em parceira com o Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil (UNIC Rio) e apoio da Embaixada do Canadá. O documentário registrará a história do empoderamento político e de ampliação dos espaços de articulação e participação das mulheres indígenas, destacando como elas estão construindo a sua incidência política no Brasil e no exterior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário